BDM e o navegador Fernão de Magalhães
Pois é. Pela telinha do meu celular, recebi uma mensagem, dizendo que a Unesco lançou a WDL – Biblioteca Digital Mundial, BDM, em português – que já está à disposição de todas pessoas dessa grande aldeia mundial, cada vez mais globalizada. Basta um clique e se conectar.
Sem qualquer custo, milhares de documentos, mapas, livros antigos, enfim, as publicações mais raras, algumas delas com um ou alguns poucos exemplares guardados a sete chaves em cofres de grandes bibliotecas, podem ser consultadas na tela do seu computador ou, se preferir, na sua própria mão.
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Fiz uma rápida pesquisa sobre a primeira e histórica viagem ao redor da nossa imensa esfera terrestre, feita pelo português Fernão de Magalhães, cujo início completa 500 anos este ano. Como o ditado é velho e diz que santo de casa não faz milagre, Magalhães teve que ir à Espanha para realizar seu arrojado e, então, impossível projeto de circum-navegação da Terra.
No distante 10 de agosto de 1519, com sua esquadra de cinco caravelas e 240 homens, a expedição saiu de Sevilha com um objetivo: descobrir uma nova rota marítima para as Índias. Os espanhóis precisavam passar longe da costa africana, dominada pelos inimigos portugueses.
Mais de um ano depois, em novembro de 1520, depois de muita fome e doença, de ter enfrentado rebeliões, ordenado a decapitação de um capitão insubordinado e abandonado outro na selvagem Patagônia, a expedição conseguiu atravessar o estreito, que agora, merecidamente, leva o seu nome, localizado ao sul do continente americano. Finalmente, Magalhães chegou ao oceano do outro lado da América, para dar-lhe o nome de Pacífico.
A chegada às Ilhas Molucas, na Ásia, no entanto, só aconteceria em novembro de 1521.
Numa época de navegação incerta, de precários e frágeis barcos singrando rumo ao desconhecido e ao mistério, de dias e dias sem a segurança dos pés em terra firme, navegar pela imensidão oceânica era um ato de coragem, uma verdadeira epopeia, sempre visitada pelos demônios do arrependimento, da desconfiança, da ira do desespero, da doença e da fome, que abatiam fortes e bravos marujos de peito de ferro e coração de pedra.
Viajar era um pacto com o diabo, sem prazo e sem certeza de retorno, longa e interminável jornada de abandono de tudo e de todos, de dias e noites de solidão, de sonhos com as deusas dos mares – nereidas e sereias – que aliviavam sofrimentos e saudades, mas não espancavam os fantasmas nem os mistérios de um destino incerto e desconhecido.
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Em maio de 1522, apenas a caravela Victória estava de volta à Espanha, com 18 tripulantes, completando a primeira circum-navegação do nosso planeta. Por ironia, Magalhães não estava mais a bordo. Havia morrido em combate com nativos das Filipinas antes de chegar às Molucas.
Sem dúvida foi navegador de muita coragem e talento, capaz de realizar uma grande descoberta. Mas, pagou com a vida, por imaginar que, dono dos oceanos, era também o senhor da gente nativa daquelas terras distantes.