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Biblioteca com livros em braile não atrai leitores em Brusque

Disponibilidade de audiolivros por meio da internet é apontada como uma das "vilãs"

Dados do IBGE de 2010 mostram que 9.928 moradores de Brusque têm algum nível de deficiência visual. Contudo, o número – que representa 9,41% da população – não repercute na sala da Biblioteca Pública Municipal Ary Cabral destinada a livros em braille. No ano passado e neste ano, nenhum exemplar traduzido para o código foi retirado.

A explicação, segundo o agente de serviços especiais da biblioteca, Sidnei Knihs, está na informatização: com o crescimento de plataformas onlines que oferecem audiolivros e demais itens destinados a pessoas com deficiência visual, a procura por obras em braille tende a diminuir. Para Knihs, a praticidade da internet também barra o aumento do empréstimo de livros.

“Braille é mais difícil e lento de ler, exige tempo e vontade. E as pessoas ultimamente querem agilidade e comodidade. Elas preferem ficar dentro de casa e buscar informações online em vez de se deslocar até a biblioteca”, afirma. A falta de interesse também é citada por Knihs para explicar os números: “Muitos deficientes visuais não são alfabetizados em braille e não também não querem ser, principalmente as pessoas que perdem a visão depois de mais velhos. Eles acabam não querendo estudar e aprender uma nova linguagem” explica.

Deficiente visual desde os seis anos de idade devido a um glaucoma congênito, Knihs – hoje com 40 anos – lamenta a baixa procura por empréstimos, principalmente porque é um defensor das obras em braille. Formado em Pedagogia, ele é um dos responsáveis pelo acervo de 800 volumes da biblioteca.

“O braille é tudo na minha vida, porque fui alfabetizado em braille. Desde o ensino fundamental até a universidade utilizei a linguagem. Eu não troco o braille por nada. E gosto muito de ler, porque ele exige maior concentração do que o audiolivro”, explica.
Para Knihs, outro ponto que afasta os leitores é o acervo da biblioteca municipal. Ele diz que as obras precisam de renovação, com novos títulos e novos autores. No entanto, como o valor da impressão em braille é muito elevada, as editoras lançam poucos exemplares, o que dificulta a reestruturação do acervo.

A desatualização também é um dos argumentos utilizados pelo coordenador da Coordenadoria de Promoção do Direito da Pessoa com Deficiência de Brusque, Sidnei Pavesi. Para melhorar a situação e ampliar os serviços, Pavesi afirma que a Coordenadoria busca elaborar pedido de compra de um “scanner leitor de documento” junto à Prefeitura de Brusque.

A máquina, orçada em R$ 2 mil, permite que o usuário transforme qualquer livro em áudio. Para Pavesi, o scanner modernizaria a biblioteca e atrairia mais leitores. “É preciso modernizar o espaço, com obras mais atualizadas e com equipamentos modernos”, diz o coordenador.