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Biblioteca muda realidade de escola de Botuverá e revoluciona relação dos alunos com a leitura

Projeto é encabeçado pela professora Mônica Comandolli, que assumiu o desafio e desenvolve trabalho com muito empenho

A Bibiloteca Salete Olália, da EEB Pe. João Stolte, em Botuverá, está modificando toda a relação da comunidade escolar com a leitura. A unidade já contava com centenas de volumes, mas a maioria das histórias estava escondida até 2021, quando o projeto capitaneado pela professora Mônica Paloschi Comandolli mudou a realidade da escola.

Mônica, que era professora de anos iniciais, foi convidada em 2020 pela diretora da escola, Aline Heil Colombi, para o desafio de organizar a biblioteca da escola, que atualmente funciona nos três períodos. Ela admite que estava receosa no início, mas se entregou ao desafio e, com apoio de toda a comunidade escolar, desenvolveu um trabalho que encanta os alunos.

Primeiros passos

Mônica, que é formada em Pedagogia e História, começou a trabalhar como professora em 1995, quando tinha 18 anos, na João Stolte, única escola estadual de Botuverá. Poucos anos depois, ela foi efetivada em um cargo em uma unidade municipal e chegou a ser diretora.

Em fevereiro de 2014, ela voltou definitivamente para a João Stolte como professora efetiva, dando aula para o quinto ano até 2019, quando por conta de vários problemas de coluna, assumiu novas funções. Ela trabalhou na secretaria durante um período da pandemia e, em 2020, recebeu a proposta para organizar a biblioteca da escola, mesmo receosa no início.

Desde 2020, quando a nova gestão da escola assumiu, estabeleceu o incentivo à leitura como prioridade.

Mônica organizou a biblioteca praticamente do zero | Foto: Bruno da Silva/O Município

Ela não tinha experiência no cargo, mas sempre foi uma leitora nata, incentivada pela mãe desde os três anos de idade. “Sempre tive a minha mãe como estimuladora. Ela trabalhava na prefeitura como agente de serviços gerais e levava livros para casa. Depois eu tive a sorte de ter aula de língua portuguesa com a madrinha da nossa biblioteca, que é a Salete Olália”, conta.

O primeiro passo foi realizar visitas a outras escolas de Brusque para procurar modelos. A biblioteca da escola Carlos Moritz, no Zantão, foi a principal inspiração e, depois disso, a João Stolte adaptou para transformar uma sala ociosa no seu espaço mágico de leitura.

“Quando eu cheguei aqui, os livros estavam todos empilhados, sem nenhuma ordem e sem nenhuma classificação. Compramos um mobiliário e aí a gente começou a organizar”, conta Mônica.

Mesmo sem formação na área – Mônica se classifica como uma professora responsável pela biblioteca ao invés de bibliotecária -, mas com uma vasta experiência como leitora, buscou informações e, com auxílio do programa Biblivre, mantido pelo Banco Itaú para administração de biblioteca, iniciou o trabalho de organização e catalogação – atualmente, a Coordenadoria Regional de Educação também conta com duas profissionais para auxiliar as bibliotecas da região.

Durante esse período, os alunos ainda estavam longe da escola e faziam suas aulas em home office devido à pandemia. Quando retornaram, a biblioteca ainda não estava completamente organizada, mas a administração decidiu dar acesso aos alunos para que o estímulo à leitura fosse realizado desde o primeiro dia do retorno das atividades presenciais.

Em 1º de julho de 2021, oficialmente, a Biblioteca Salete Olália, que homenageia a professora de língua portuguesa de muitos botuveraenses, incluindo Mônica, foi inaugurada, um marco para a João Stolte.

Iniciativas especiais

Em pouco mais de dois anos, a biblioteca se tornou um espaço de aprendizagem e novas experiências, mas também de convivência na escola. Em parceria com os professores e com a diretoria, que embarcam nas propostas de Mônica, muitas iniciativas especiais aproximaram os alunos da escola e da leitura. Hoje, alguns livros inclusive têm fila de espera.

A contação de histórias é uma constante na escola. Mônica sempre tenta trazer algum detalhe especial, uma música, um presente singelo ou uma atividade para refletir, estimulando de formas diferentes as diferentes faixas etárias e deixando algo marcante que, além de boas lembranças, vai trazer um aprendizado.

“É a mesma história, mas cada pessoa interpreta de um jeito, sente de um jeito. E aí, gente, a gente desenvolve uma atividade com os anos iniciais e outra com os anos finais partindo da mesma história”, destaca.

História da Branca de Neve foi adaptada para os alunos | Foto: Arquivo pessoal

Outras iniciativas são o varal de indicações, onde os alunos que leram os livros deixavam um recado falando de suas impressões, e o Café com Poesia, um prêmio para a turma que mais se engaja nas aulas de língua portuguesa, participação no projeto nacional Estante Mágica, onde as crianças desenvolvem o próprio livro, concurso de marcador de páginas, envolvendo também a disciplina de Artes, entre outras. Também são desenvolvidas atividades em datas especiais, como o Dia do Livro, que envolveu várias pessoas e encantou os alunos.

“A comunidade se envolveu no nosso projeto para conseguir fantasias e objetos necessários. Isso é algo muito legal. Uma professora topou o desafio de ser a Branca de Neve durante o dia inteiro, as estagiárias da escola toparam o desafio de ser bruxa. Quando a criança entrava na biblioteca, estava tudo decorado com luzes, velas cheirosas e a Branca de Neve recebia as crianças. Ainda ganharam a maçã no final. Foi um dia incrível”.

Escola organiza noite de autógrafos do projeto Estante Mágica | Foto: Arquivo pessoal

Relação com os alunos

Para além das ações especiais, Mônica acredita que é muito importante ser o exemplo para os alunos. Por isso, ela mantém sempre um livro em seu escaninho e também aceita as indicações deles para que conheça novas histórias. “Estou me vendo lendo livros bem adolescentes, bem hollywoodianos”, ri.

Por conta do perfil dos alunos, a biblioteca sempre tenta se atualizar com os volumes que eles querem ler. Professores fazem doações eventuais, a madrinha da biblioteca, Salete, que contribui com um livro mensalmente, e a própria escola tentam providenciar os títulos que mais interessam os estudantes.

“Percebemos uma mudança enorme da relação dos alunos com os livros nesse período. As nossas professoras de Língua Portuguesa sempre estimularam a leitura, e aí como não havia um espaço, elas iam para a biblioteca pública. Mas, a partir do momento em que houve um espaço e as diversas iniciativas que vieram junto com ele, só o fato de ter um espaço aqui já despertou curiosidade, eles já ficaram mais animados. Como a gente compra os livros que eles querem ler, acaba que uma coisa puxa outra. Então mudou muito o hábito da leitura”.

“Estou me vendo lendo livros bem adolescentes, bem hollywoodianos”, ri Mônica | Foto: Bruno da Silva/O Município

Aline, diretora da escola, destaca que esse espaço não é mais apenas “para a retirada de livros” – atualmente, o espaço é aberto também para a comunidade botuveraense em geral. Além disso, ela destaca que o retorno que recebe dos pais é sempre positivo.

“Os pais mandam mensagem, inclusive de alunos dos anos iniciais, inserem o nome do filho na fila de espera para um livro, vem aqui, envia sugestões de livro. Muitos também viram que tinham livros de literatura mesmo em casa, ociosos, que só estavam ocupando espaço na estante e trouxeram para a biblioteca, democratizando o acesso”, destaca a diretora.

A biblioteca se tornou, portanto, um ponto de encontro dos alunos e um safe space para que eles conversem e se expressem. Mônica conta que alguns estudantes vão diariamente para falar de muitas coisas além das histórias que os livros contam, mas, pela relação de confiança construída, às vezes até abrir o coração.

“Eu acho que esse é o grande diferencial, uma relação que já foi construída. A palavra de ordem da biblioteca é acolhimento. Tenho uns 10, 15 alunos que todos os dias entram pra biblioteca, nem que seja só pra conversar. Também a gente tem muitos alunos depois da pandemia com crises de ansiedade. A gente recebeu muitos alunos vindos de outros locais que perderam familiares, que estão vivendo com o tio. Temos crianças com vínculo familiar frágil. Tem uma relação de confiança muito grande aqui dentro e é isso, a gente tenta acolher todo mundo, todos os alunos com o maior carinho possível, tratar eles com respeito”.


Assista agora mesmo!

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