Bom dia, feminismo!
Muita gente ainda torce o nariz para essa palavra, olha feio para ela e pensa que é alguma ideia de gente recalcada para as mulheres dominarem o mundo… sejamos sinceras? É ideia de gente recalcada mesmo! Recalcadas por salários 30% inferiores, pela lacuna de representação política e social; recalcadas porque votamos há tão poucos anos! Por treze de nós serem assassinadas diariamente no país, e por não conhecermos a liberdade de viver sem julgamento.
Não entendo quem, vivendo tais coisas e tantas outras que não falo aqui, não seria recalcado. Machucado histórica e emocionalmente. E cá estamos! Lutando contra aqueles que pensam que o feminismo é uma bobagem.
Não sou nenhuma expert no tema, não sou militante nem quero dar aula a ninguém, mas sou, antes de qualquer coisa, um ser humano – exausto de viver em desequilíbrio. Pois esta luta não fala apenas em mulheres, ela só as traz para o foco, ao lado dos homens! Eles também são prejudicados pelo sistema que vivemos hoje, não pense você que viver sendo sempre o macho alfa não cansa. Tendo obrigação de único provedor, nunca chorando e sendo resignado a apenas algumas vocações específicas. Porque tais outras são coisa de mulherzinha (sic).
Homens também foram aprisionados historicamente, de uma forma diferente, sim, mas todos nós podemos nos unir para que exista justiça. A passos de formiga, continuamos. Mês passado foi anunciado que a nota de vinte dólares será estampada com o rosto de Harriet Tubman. Uma mulher! A escolha dela, e não de tantas outras, foi feita por voto (nada mais justo), sendo ainda mais válida por sua importância na abolição da escravatura e na luta pelo voto feminino nos Estados Unidos.
Cá entre nós, eu não a conhecia. Assim como não conhecia Mietta Santiago – advogada que percebeu a inconstitucionalidade no fato de mulheres brasileiras não poderem votar. Também não sabia que Rita Lobato Velho foi a primeira médica no Brasil, ou que Nélida Piñon foi a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras.
Mas o estranho nisso tudo não está no fato de mulheres começarem a ocupar espaços que antes não ocupavam. O estranho é que isto nos seja estranho! Se houvesse igualdade, conquistas femininas não seriam conquistas, apenas fatos rotineiros!
Mesmo assim, por séculos o que não instigou estranhamento foi nossa ausência!
Em contrapartida, não vemos ninguém mencionar o fato que quem, até então ilustrava a cédula americana de vinte dólares, era dono de uma fazenda de escravos! Responsável pela remoção de indígenas de sua morada, trazendo morte e doenças a seus povos. Ele é conhecido apenas como o sétimo presidente americano, Andrew Jackson…
Até quando vamos aceitar a violência como se fosse normal? Mudanças pequenas (como na moeda de um país) são necessárias para trazer visibilidade ao que já existe. Não há de novo.
Eduarda Paz Padoin – psicóloga