Bombeiros recordam de ocorrências marcantes ao longo de 40 anos em Brusque
Corpo de Bombeiros Militar completou em novembro quatro décadas no município
Corpo de Bombeiros Militar completou em novembro quatro décadas no município
O Corpo de Bombeiros Militar de Brusque comemora 40 anos de história. A inauguração do primeiro quartel no Centro foi em 9 de novembro de 1982, tendo como o primeiro comandante o subtenente Mário Marquardt. Na época, a base era chamada de 6ª Seção de Combate a Incêndios do 2º Subgrupamento de Incêndios
Ao longo de quatro décadas, de plantão em plantão, os bombeiros enfrentaram dificuldades e colecionaram histórias. Entre eles, está o veterano aposentado Ligório José Wietcovsky, de 72 anos.
Natural de Botuverá, o morador do bairro Azambuja lembra que foi transferido de Porto União para Brusque para a inauguração que deveria ter acontecido em agosto de 1982.
“Ficamos esse tempo sem ter o que fazer, pois não tinha o caminhão. As dependências físicas estavam ali, mas não tínhamos equipamentos. Quando veio o caminhão, o quartel foi inaugurado”, inicia.
Ele detalha que, no começo, a cidade contava com cerca de 40 bombeiros e apenas um veículo. “Tínhamos muita gente para trabalhar, mas pouca viatura e poucos equipamentos. Diferente de hoje, que temos equipamentos, mas não temos muita gente. Em termos, é mais fácil trabalhar hoje do que antigamente”, compara.
As dificuldades eram incontáveis e elas acompanhavam os plantões dos bravos socorristas. A cada chamado, entre acidentes, incêndios, resgates e partos, eles faziam o possível para improvisar, como nos casos de incêndios em vegetação.
“Antes, só tínhamos o batedor, que usávamos até a exaustão. Nós sentávamos para respirar um pouco, mas não tinha mais o que fazer. Para a fumaça, tínhamos uma máscara, mas não tínhamos o cilindro. No combate a incêndio, quando chegávamos à exaustão e o vento vinha ao contrário, tínhamos que deitar no chão, pois a tendência é a fumaça subir. Mas respirávamos as cinzas, era difícil. As sequelas vieram depois”, detalha.
Outra memória era a falta de uma maca rígida para as ocorrências de acidente de trânsito. “A gente ia de caminhão, pegávamos o cara todo quebrado, o colocávamos ele numa maca de lona, que não era rígida, e depois em cima do caminhão. No hospital, se ele tinha dez fraturas, ele chegava com umas 20. Não tínhamos o que fazer”, continua.
O veterano aposentado Carlos Henrique de Andrade, 57, é natural de Curitibanos e foi transferido para Brusque em 2000, onde atuou até se aposentar em 2019
“A gente improvisava. O batedor, por exemplo, pegávamos um cabo de vassoura, íamos na borracharia, cortava as câmaras e as amarrávamos. Assim, fazíamos um batedor. O único equipamento que tínhamos era o capacete”, completa.
As melhorias no serviço, conforme Ligório, foi sentida após a aplicação do Fundo de Reaparelhamento do Corpo de Bombeiros (Funrebom), no final da década de 1990. “Com o Funrebom começou a ficar bom, pois começaram a comprar máscaras, cilindros de oxigênio, coisa que só se via em filme. O bombeiro foi equipado”, complementa.
Outro bombeiro que atuou por longos anos em Brusque foi o botuveraense José Moacir Cesari, 64, morador do Rio Branco. Após atuar em Florianópolis, São Miguel do Oeste e Itajaí, ele chegou na 3ª Companhia de Bombeiros Militar em 1985.
José ressalta que os equipamentos comprados através do fundo vieram na época do comandante João Batista Cordeiro Jr. Ao logo dos anos, o trabalho ficou mais equipado e, em 2003, ocorreu a separação entre a Polícia Militar de Santa Catarina e o Corpo de Bombeiros Militar, resultando em duas corporações distintas.
“Antes a gente ia na cara e coragem. Não tínhamos nem o equipamento de EPI, mas enfrentávamos a situação”, comenta. “Mas ser bombeiro está no sangue. Se o bombeiro olhar alguém em perigo, ele se joga e não mede as consequências. Estou há 20 anos aposentado, se eu passo aqui na frente ou por uma viatura com a sirene ligada, eu me arrepio. Está no sangue”, completa José.
“Chegamos em 1982 e em já 83 tivemos o teste, a cheia de Gaspar e Blumenau. Trabalhamos direto lá até normalizar a situação, fazendo o transporte de águas e lavando as ruas do lodo”, inicia Ligório.
No ano seguinte, foi a vez de Brusque sofrer uma inundação. “Em 1984, numa segunda-feira fui para o quartel com água até o joelho, com o rio subindo, fizemos a mudança do quartel para o Tiro de Guerra”, conta.
O bombeiro foi dormir às 4h dentro de um caminhão. Duas horas depois já fui chamado para entrar em forma. “Tudo encharcado, pois fiquei com água até a cintura, fiquei encharcado a tarde toda e a noite toda. Na quinta-feira consegui ir até o Dom Joaquim, pois morava lá na época, preocupado para saber como estava a minha família. Não tínhamos comunicação, porque o telefone não funcionava. Foram dias de muita agonia”, continua.
O trabalho foi intenso. Os bombeiros usavam uma canoa para buscar as famílias ilhadas, além de transportar materiais. “Quando começou a normalizar, voltei pra casa e o resultado veio. Fiquei internado por 18 dias com pneumonia”, completa.
A atuação em Itajaí marcou José, com as fortes enchentes, além das ocorrências de afogamento em praias. “Itajaí é testa de ferro, é ocorrência assim todo dia”, conta.
Mas em Brusque, uma ocorrência marcante foi a retirada de um corpo que estava em estado de decomposição há 30 dias dentro de um poço, no bairro Planalto, no final dos anos 1980.
“Mataram o cara e jogaram o corpo lá, não sei que fim deu o caso. Estávamos em três bombeiros, um ficou em cima e dois desceram. Não tínhamos equipamentos, eram quase 30 metros de descida”, conta.
Eles atuaram na retirada do corpo das 11h até umas 16h. “Jogaram bastante lixo e barro em cima, então até movimentarmos isso tudo demorou. Até aí, estava tranquilo, o problema foi quando começamos a mexer no corpo”, relembra.
José e o colega precisaram envolver o corpo com o lençol de uma maneira com que a cabeça não caísse. Isso tudo tentando suportar o cheiro que era insuportável. “Ele estava todo em decomposição, então tínhamos que trazer a cabeça pra cima. Isso sem nenhum material, nenhum EPI, de respiração nem nada”, finaliza.
Carlos Henrique recorda de diversas ocorrências que marcaram a história dele como bombeiro. A mais intensa foi a trágica colisão de dois ônibus que provocou a morte de pelo menos 40 pessoas em 2000, 38 delas eram turistas argentinos que viajavam para Balneário Camboriú. “A cena era desumana. Foi a minha última ocorrência em Curitibanos, antes de vir pra cá”, recorda.
Em Brusque, Carlos também foi marcado por diversos acidentes de trânsito. “Era que nem o mar, comia gente e cuspia ossos”, diz.
Para ele, esse é o pior tipo de ocorrência, quando famílias inteiras morreriam, inclusive crianças. Contudo, uma ocorrência que permanece com ele até hoje foi uma parada cardiorrespiratória.
Num domingo de folga em 2004, o bombeiro foi para um rodeio no pavilhão de Eventos Maria Celina Vidotto Imhof. Então, uma movimentação diferente próxima a barraca da Prefeitura de Brusque chamou a atenção dele.
“Tinha um senhor caído, cheguei até ele e vi que estava sofrendo uma parada cardiorrespiratória. Estava babando, cheio de macarrão na boca, e tirei com os dedos. Pedi uma sacola plástica, fiz uma luva. Tirei todo aquele vômito, iniciei a massagem cardíaca e respiração boca a boca. Pedi para acionarem os bombeiros, passou-se cinco minutos e ele estava roxo, porém tinha respiração cardíaca. Mas vi que ele não tinha mais volta”, relata.
Segundo Carlos, o homem foi levado ao hospital. Já ele continuou no rodeio e depois voltou cansado para casa. Na terça-feira de manhã, o coronel chamou o bombeiro para ir ao quartel.
“Eu trabalhava só na quarta. Pensei: o que eu fiz? Chegando no quartel, me falaram que iam me levar no hospital pois tinham uma surpresa. Cheguei lá e o cara estava vivo”, relata emocionado. “Até hoje, se eu lembro eu fico faceiro, foi gratificante. Me marcou muito, tivemos muitos acidentes de trânsito, mas nessa eu sei que consegui fazer alguém voltar à vida”, explica.
Atualmente, a situação nos quarteis dos bombeiros é outra, pois eles contam com uma boa estrutura e diversos equipamentos de segurança à disposição. Para o capitão Rodrigo Gonçalves Basílio, comandante da 3ª Companhia de Bombeiros Militar, a mudança é resultado dos muitos anos de história da corporação.
“É uma história muito bonita e de muita luta, dedicação e comprometimento. Sempre que tenho oportunidade, procuro conversar com os nossos bombeiros militares veteranos, porque eles são a história da nossa corporação. A gente percebe que o bombeiro militar hoje é resultado de todas essas ações realizadas ao longo do tempo”, reflete.
Hoje, o Corpo de Bombeiros Militar em Brusque é composto de um efetivo militar de 34 bombeiros, que contam com o apoio dos comunitários ativos na sede. Esse efetivo encontra-se distribuído nas três bases existentes no município, sendo duas na região central, e uma no bairro Águas Claras, inaugurada em 12 de novembro de 1999.
Entre os anos de 2018 e 2022, foram atendidas 19.604 ocorrências. São os combate a incêndios (em edificações, veículos e vegetações), acidentes de trânsito, atendimentos pré-hospitalares, buscas terrestres, operações de mergulho, salvamentos em altura, resgates veiculares, capturas de animais silvestres, entre tantas outras.
Além disso, são realizadas ações desenvolvidas pela corporação com o objetivo de evitar situações de incêndio e pânico em imóveis e áreas de risco. Nos últimos cinco anos, foram analisados em Brusque 7.363 projetos preventivos e realizadas 56.361 vistorias, entre vistorias.
Outro serviço realizado são as perícias em local de incêndio e explosão, efetuadas no âmbito da 3ª Companhia, que também engloba Guabiruba e Botuverá. Entre 2018 e 2022, foram executadas 112 perícias, ocasiões em que, além de terem sido apuradas as causas e subcausas das ocorrências, buscou-se também avaliá-la como um todo.
Por fim, o comandante aponta que a construção de um novo quartel deve ocorrer em breve. “Com uma infraestrutura melhor, para possibilitarmos ao nosso efetiva um lugar melhor para se trabalhar e melhor atender a cidade. Acreditamos que já no primeiro semestre de 2023 iniciaremos essas obras”, finaliza.
– subtenente Mário Marquardt (1982 a 21 de fevereiro de 1983);
– 1º tenente Marcos Antonio Vieira (de 21 de fevereiro de 1983 a 5 de março de 1984);
– 1º tenente Edson Souza (de 5 de março de 1984 a 12 de novembro de 1984);
– 1º tenente Bruno Khnis (de 13 de novembro de 1984 a 17 de marços de 1986);
– 1º tenente Marlon Jorge Teza (de 18 de março de 1986 a 23 de fevereiro de 1988);
– 1º tenente Eduardo Pereira Novaes (de 23 de fevereiro de 1988 a 5 de maio de 1991);
– 2ª tenente Luiz Henrique Kirch (de 5 de maio de 1991 a 3 de junho de 1991);
– 1º tenente Júlio César da Silva (de 1º de junho de 1991 a 17 de março de 1994);
– 1º tenente Evandro Carlos Gevaerd (de 18 de março de 1994 a 18 de fevereiro de 1998);
– 1º tenente João Batista Cordeiro Jr. (de 19 de fevereiro de 1998 a 25 de abril de 2005)
– major José Gamba Júnior (de 26 de abril de 2005 a 22 de fevereiro de 2013);
– capitão Hugo Manfrin Dallossi (de 22 de fevereiro de 2013 a 11 de junho de 2018)
– capitão Jacson Luiz de Souza (de 11 de junho de 2018 a 11 de junho de 2021);
– capitão Rodrigo Gonçalves Basílio (de 11 de junho de 2021 até atualmente).