Brusque usa aplicativo interno para auxiliar trabalhos de análise de desempenho
Ideia foi aplicada pelo analista Rennato Bennata; rotina do profissional inclui ciclo complexo, que vai do pré ao pós-jogo
Há seis meses trabalhando no Brusque, o analista de desempenho Rennato Bennata tem conseguido repassar informações aos jogadores do clube por meio de um aplicativo para celular. A ideia é tornar mais acessíveis os dados coletados sobre o quadricolor e seus adversários para jogadores, elenco e comissão técnica. O programa faz parte do setor chamado Centro de Inteligência do Marreco (CIM), está em funcionamento desde o Campeonato Catarinense, e é voltado apenas para o uso interno.
O programa é dividido em três frentes: a análise de mercado, voltada à diretoria e aos membros da comissão técnica; a análise da equipe, com diversas estatísticas e indicadores de desempenho; e a análise do adversário, com a qual jogadores e comissão podem conhecer melhor o próximo oponente.
A análise da equipe possui diversos dados coletivos e individuais, e é possível conferir pelo retrospecto geral da competição ou por jogo. Com as informações em mãos, os jogadores podem fazer suas autoavaliações e saber, em números, em quais quesitos estão bem e em quais precisam melhorar.
“Os indicadores de desempenho são específicos por posição. Os laterais precisam de cruzamentos, assistências para finalização, porcentagem de acertos de passes. E isto está no aplicativo. A visualização do Pará, que é lateral, é diferente da que tem o Diego Jardel, que é meia, que é diferente da visualização do Rodolfo Potiguar, que é volante”, explica.
Na seção de análise do adversário, constam características e dados recentes individuais de cada jogador. Há também vídeos de entrevistas coletivas recentes e de atletas adversários em partidas anteriores.
O aplicativo foi configurado por iniciativa própria de Bennata, por conta de uma necessidade que sentia em outros trabalhos. De acordo com o analista, foi o aperfeiçoamento de um projeto que já possuía. O propósito do modo de visualização é que seja atrativo e de fácil acesso para o jogador, utilizando videogames como referência. Não houve custos para o clube, pois o programa opera dentro de um servidor grátis, sem ultrapassar o limite de armazenamento de dados.
“É mais para a gente acelerar o processo de transferência da informação aos atletas. Um dos maiores desafios do analista e da comissão técnica é sintetizar a informação e passá-la o mais rápido possível, da melhor forma”, comenta Bennata.
Inicialmente, o analista compilava os dados coletados dentro de um arquivo PDF. Além do longo tempo que a tarefa levava, o documento era compartilhado por WhatsApp, o que não era o ideal. “Eu tive duas situações em que o Whatsapp ficou fora do ar, e fiquei sem ter como passar a informação ao atleta.”
Está em desenvolvimento um aplicativo específico para o trabalho dos goleiros, da preparação ao jogo.
A análise de desempenho
O trabalho de Rennato Bennata é desenvolvido em três momentos distintos: pré-jogo, durante o jogo e pós-jogo.
Pré-jogo
No pré-jogo, são priorizadas as análises de adversário. O analista ouve do técnico Luan Carlos as prioridades e acerta um “protocolo” que vai guiar a coleta de informações. O processo já começa com o trabalho da assessoria de comunicação, que envia coletivas de imprensa dos treinadores adversários relacionadas aos três jogos mais recentes. Também é feito o monitoramento da imprensa local de cada clube em questão.
Depois, é feita a coleta de relatórios prontos para compreender os sistemas de jogo. Bennata, juntamente com o auxiliar-técnico Teco, analisa o elenco adversário individualmente e elenca pontos fortes e fracos de cada jogador. Estas são as primeiras informações com as quais o aplicativo é alimentado, com vídeos inclusos.
A etapa seguinte é a análise tática dos últimos cinco jogos. “[Os cinco jogos são] para contemplar troca de treinador, entradas e saídas de jogadores, rotações no elenco. Com jogos, consigo pegar todas as variações táticas”, comenta.
É feita uma triagem de lances de saída de jogo, tiro de meta, organização ofensiva, transição defensiva, marcação de tiro de meta, organização defensiva e transição ofensiva, além de bolas paradas. O trabalho rende entre 100 e 150 miniclipes, que passam por um filtro do treinador. Estes vídeos podem ser acessados pelos jogadores e são utilizados para a palestra que explica as estratégias e os trabalhos de preparação contra o adversário.
Enquanto isso, Bennata colhe informações de arbitragem, possíveis formações, e elabora leituras completas dos dois últimos jogos mais relevantes para a ocasião. Estas informações também são postadas no aplicativo.
O analista também faz trabalhos de campo no treino, filmando sessões de treinamento, inclusive dos goleiros, com os quais faz um trabalho específico para o preparador Márcio Quevedo. “Por exemplo, o Luan viu que o adversário joga fazendo pressão na nossa saída de jogo. Ele vai fazer os treinos para sair destas pressões. Eu, com um drone, filmo a movimentação tática. Aí eu já passo para a comissão. Não faço análise tática do treino. Isto é responsabilidade do Teco e do Luan. Então eles fazem a análise e selecionam os melhores clipes para a análise do treino, que será usada na preleção”, explica.
Jogo
Bennata edita vídeos da preleção com sinalizações e destaques pedidos pelo treinador. Pouco antes do jogo, realiza uma leitura rápida da escalação do adversário, para verificar se há algo que tenha fugido da preparação da equipe para a partida. A escalação é enviada pela assessoria de imprensa.
Durante o jogo, é feita a análise do adversário, verificando o que coincide e o que não coincide com as análises prévias que ajudaram a formar a preparação para aquela partida específica. Estas informações são transmitidas a Teco, em tempo real. Diversos elementos são contados, e é monitorada a relação entre o treino e o jogo: se o que foi trabalhado nos treinamentos está sendo bem aplicado quando é “para valer”.
No intervalo e após o apito final, Bennata envia estatísticas da partida à diretoria e à comissão técnica. A equipe de transmissão da TV Bruscão também recebe os dados.
“São análises não conclusivas. É um trabalho de observação, não de conclusão, de sugestão. Não somos preparados para tomar decisões. Somos preparados para observar se o que foi preparado está sendo executado, e o que o adversário está fazendo de diferente do que estudamos. A decisão vai ser entre auxiliar e treinador no banco”, comenta.
Pós-jogo
Após as partidas, Bennata monta um relatório com todos os números da partida, destacando os indicadores apropriados para a proposta de jogo do técnico Luan Carlos. “O Luan gosta de jogar pressionando, encurtando espaços. O adversário não pode ter ações ofensivas, temos que retardar o máximo possível, e há indicadores específicos para isto”, exemplifica. Há números de ataques por minuto, número de oportunidades de gol criadas, eficiências e estatísticas individuais de cada jogador, voltadas ao plano tático.
O relatório do jogo inclui o vídeo completo e também o compacto, um resumo com todas as situações de finalização, perigo de gol, cartões e pênaltis, a favor e contra o Brusque, além de entradas no chamado “último terço” e das bolas paradas, que são analisadas por Teco.
Luan Carlos e Teco analisam o jogo, tendo o compacto como suporte principal. Eles separam o que consideram de destaque, para que Bennatafaça o arquivo de análise da partida, que será utilizado na palestra de pós-jogo. O ciclo termina com o mapeamento total das ações individuais de cada jogador, que também são inseridas no aplicativo do clube.
Há também uma etapa de estudos de origem das finalizações e dos gols que o time marca e sofre. Ao fim do primeiro turno da Série B, também é realizada uma análise geral de todos os times da Série B, apontando suas tendências nos returno e alguns jogadores de destaque que podem passar a ser monitorados pelos processos de observação de potenciais reforços.