Brusque conta com grupo de estudos oficial da tradição Sōtō-shū
Desde 2016, cerca de 15 pessoas se reúnem semanalmente em busca do autoconhecimento
Desde 2016, cerca de 15 pessoas se reúnem semanalmente em busca do autoconhecimento
Desde 2016, cerca de 15 pessoas se reúnem semanalmente em um espaço no Jardim Maluche, para praticar a tradição Sōtō-shū, considerada a maior escola do Zen Budismo no mundo.
O grupo, intitulado Daissen Ji Zen Brusque – Grupo de Estudos Zen de Brusque, funciona sob orientação direta do monge Genshô Sensei de Florianópolis, responsável pelas comunidades Daissen Ji em todo o Brasil.
A coordenadora do grupo, Claudia Thamasia, é praticante e aluna direta de Genshô Sensei que a encorajou a montar o grupo e a estimular as pessoas a praticarem o Zen Budismo no município, um dos poucos no estado que possuem um grupo de estudos oficial da tradição.
A prática essencial dentro do Zen Budismo é a meditação sentada e silenciosa, denominada Zazen. “Dentro do zen, não se tem a visão de o mais importante ser essa parte intelectual, ritualística ou devocional, e sim, a prática do sentar em silêncio”, diz.
Os encontros, que acontecem toda quinta-feira, têm duração de uma hora e meia. Neste tempo, os participantes se sentam virados para uma parede branca (com o mínimo de distrações visuais) com os olhos semicerrados, alinham a postura e, por um determinado tempo, ficam em silêncio observando a própria mente.
“A essência dessa prática, dentro desse silêncio, da manutenção da postura, de estar com os olhos meio abertos e manter a respiração consciente, natural, seria a mente que observa a própria mente. O objetivo final é o que se chama no budismo em geral de iluminação ou liberação”, diz.
Claudia destaca que a iluminação ou liberação que o praticante busca no Zen Budismo é algo como libertar-se das questões existenciais, do sofrimento, e se baseia na experiência de Buda, que ao contrário do que muitos pensam, não é uma divindade, mas uma denominação que significa “aquele que despertou”.
“O Buda foi um príncipe que renunciou ao trono e saiu em busca de respostas para questões existenciais. Após anos de prática ascética, tendo encontrado e praticado com diversos mestres, senta-se em meditação silenciosa sob uma árvore e após sete dias e sete noites atinge o que chama de “iluminação”ou “perfeito estado de esclarecimento e unicidade com tudo que existe”. Ao longo do restante de sua vida seguiu praticando e ensinando para todos que quisessem praticar que qualquer pessoa poderia atingir este estado”, completa.
Durante o encontro, a prática do sentar-se em silêncio é dividida em ciclos, já que pode se tornar uma experiência desconfortável fisicamente, principalmente para os iniciantes. Geralmente, o grupo senta em ciclos de 40 minutos, entretanto, há encontros em que se inicia com sessões de 20 minutos sentados para auto-observação, depois ao soar dos sinos, o grupo se levanta e caminha lentamente por 10 minutos, para ativar a circulação e estimular o corpo, sempre mantendo o mesmo silêncio e, depois, voltam a sentar por mais 20 ou 30 minutos.
“Quando o grupo está mais habituado, iniciamos com 30 minutos, até chegar o nosso ciclo principal que é 40, 10, 40 minutos, que totaliza uma hora e meia de meditação silenciosa. Em determinados encontros são adicionados ao final da prática a leitura de textos da tradição zen budista e também são realizados os rituais pertinentes a prática”.
Durante todo o tempo, há posturas a serem seguidas, que segundo ela, são uma forma de manter a mente presente. Ao longo do ano também há atividades como: Zazenkai (um dia inteiro de práticas e palestras com ou sem a presença do Sensei) e também retiros mais extensos de três a cinco dias de práticas.
Subprodutos da prática do Zazen
Alcançar o alto grau de realização é o objetivo final do Zen Budismo, entretanto, há também os subprodutos da prática, os chamados benefícios, que a meditação traz para o corpo e também para a mente.
Além da tradição, Claudia comenta que, já é comprovado pela ciência através de pesquisas com praticantes de meditação, que quando uma pessoa pára o corpo e alinha a coluna, silencia um pouco os sentidos, desperta um estado de atenção e reduz estímulos. Fazendo isso em local calmo, tranquilo, sem distrações, o cérebro altera os pontos de foco.
“Quando sento em silêncio, o sistema nervoso simpático, que é o que faz a parte da ativação do corpo, repousa um pouco e o parassimpático, que faz a parte de sensação, de relaxamento, ele se ativa mais, só aqui já há uma diferença muito grande pro organismo, e o funcionamento dessa máquina que é o nosso corpo e mente”.
A coordenadora do grupo afirma que com a redução de estímulos, o corpo começa a ter um certo equilíbrio do sistema nervoso central e, assim, é possível treinar o cérebro a mudar os pontos de foco: de polifocal para um único ponto de foco ou menos pontos, no caso do Zen Budismo, na respiração, por exemplo.
“É normal que a pessoa vá aprendendo habilidades durante a vida e faça tudo no automático, o que demanda mais energia. Com o excesso de atividades da vida moderna, há maior desgaste, fazendo com que as pessoas em algum momento se sintam exaustas, sugadas, ansiosas, com sensações de sobrecarga, pressa, angústia. Então podemos considerar como um subproduto da prática do Zazen, a redução desses fatores”.
De acordo com ela, com o tempo é possível transformar o funcionamento do cérebro, o que se reflete em tranquilidade, aumento da criatividade, entender e poder usar melhor todo o potencial da mente.
“Os aspectos ligados ao corpo são muito bons, trazem muita saúde física, emocional, mas cada vez mais vemos que dá pra ir mais fundo”.
Em busca de tranquilidade
Claudia destaca que muitas pessoas procuram o grupo, inicialmente, como uma forma de relaxar, de desligar a cabeça após um dia longo de atividades, como uma espécie de fuga para a correria do dia a dia. Entretanto, com o tempo, muitos acabam se aprofundando na prática, como aconteceu com Claudia.
Ela iniciou as práticas de meditação como um complemento ao seu trabalho e acabou encontrando sentido dentro da tradição Zen Budista. Hoje, ela se prepara para, em breve, tomar os votos Zen Budistas, afirmando sua opção pessoal enquanto praticante e aluna do Monge Gensho Sensei.
“Não há restrição das pessoas virem pra sentar, relaxar, aquelas que só querem sair de casa pra ficar em silêncio, todos são bem-vindos para que com o tempo tenham sua própria experiência dentro do Zen Budismo”.
A coordenadora ressalta que qualquer pessoa pode participar do grupo e, inclusive, a primeira quinta-feira de cada mês é dedicada aos iniciantes, com meditações mais curtas e orientações de como funciona a prática. “Todos são bem-vindos. O Zen Budismo é muito livre, a pessoa pode participar uma vez e voltar daqui a 20 anos que não será questionada”.
Claudia destaca que o Zen Budismo não é uma religião, mas sim, um método não-teísta. “Pessoas de qualquer religião podem vir se sentar conosco para meditar porque assim estará observando a sua própria mente, e vai encontrar questões, respostas, ensinamentos, vai ter sua própria experiência, o Zen é muito livre, não está catequizando, pastoreando ou pregando alguma coisa”.
Saiba mais
Quem quiser participar do grupo em Brusque pode entrar em contato com Claudia pelo telefone: 99967-1050. O grupo se reúne na rua Carlos Graf, 01, no Jardim Maluche.