Famílias polonesas marcaram a história de Brusque
Conheça três delas: Schlösser, Walendowsky e Woitena
Os descendentes de poloneses têm papel relevante para Brusque desde a sua chegada. Foram preponderantes para o desenvolvimento têxtil, assim como para várias outras atividades.
Há muitas famílias de destaque e seria difícil contar a história e os feitos de todas. Mas vale lembrar seus sobrenomes e a trajetória de algumas delas que, por diferentes motivos, ficaram marcadas na história da cidade.
Schlösser, Walendowsky e Woitena são apenas três delas. Conheça suas histórias:
Schlösser: a força do têxtil
A história da família Schlösser está intimamente ligada à imigração polonesa. Apesar de serem etnicamente alemães, eles também viviam em território polonês e vieram pouco depois dos tecelões de Lodz.
Marcus Schlösser, empresário brusquense, tem estudado sobre a história da família há anos. Com ajuda de pesquisadores, ele conseguiu traçar a sua origem até a cidade de Monschau, na Alemanha, perto da fronteira com a Bélgica e a Holanda.
O primeiro Schlösser a vir para Brusque foi Gustavo, marido de Natalie Starnell, com que se casou em 1885, ainda na Polônia. Ele veio para o Brasil em 1896, cerca de sete anos depois dos tecelões.
Os dois tiveram sete filhos: Adolf, Hugo e Carl nasceram em Zgierz; Robert nasceu em Lodz; Otto, Olga e Anna já nasceram em Brusque.
O bisavô de Marcus é Gustavo, Adolf é o avô e o pai dele é Horst. Assim como muitas famílias polonesas queriam esquecer o seu passado, os Schlösser também desejavam.
Marcus conheceu a história da família em fragmentos. “Comentava-se muito pouco. Não houve uma tradição oral de explicar o porquê saíram”.
O brusquense diz que é de se perguntar se além da crise houve mais algum motivo para atitude audaciosa de emigrar para Brusque. “Era um convite só de ida, com um baú, e com uma promessa de emprego. Foram até Hamburgo e aqui chegaram sem saber o que encontrariam”, pondera.
“Nunca houve um relato do porquê. A única coisa é uma carta que meu bisavô começou a escrever endereçada aos colegas. Não sabemos a quem seriam. Fala das impressões da primeira chegada. É um manuscrito que está num bloco junto com questões de contabilidade que fazia para si e para outros, mas não sabemos se chegou a ser enviado”, explica.
Marcus diz que, embora tivessem vindo da Polônia, seus antepassados tinham poucos hábitos “poloneses”. Eram etnicamente alemães e mantiveram seus costumes por mais de um século desta forma, mesmo quando estava em território ocupado por russos.
“Tudo era feito em alemão, a língua materna da grande maioria dos que vieram era o alemão. O que eu lembro é que o meu avô sabia cantar Noite Feliz em polonês, então teve algum entrelaçamento lá”, lembra Marcus.
Falar alemão era uma necessidade para morar em Brusque. A maioria dos habitantes era germânica e tinha resistências a falar outros idiomas.
A experiência com os irlandeses e ingleses mostrou a importância de saber alemão para viver na colônia.
Walendowsky: guardiões da cultura
Ivan Walendowsky, casado com Célia Maria Loyola, é um dos principais entusiastas e patrocinadores de trabalhos e pesquisas sobre a imigração polonesa em todo o país. O brusquense atua em parceria há décadas com o Consulado da Polônia, em Curitiba, e com entidades e pesquisadores.
Hoje, Walendowsky é reconhecido por sua atuação em prol dos poloneses. Tanto que recebeu, em 2018, diretamente do governo da Polônia, a cidadania. O documento é assinado pelo próprio presidente da Polônia, Andrzej Duda.
Prova do reconhecimento do governo é que Ivan foi convidado para ser o cônsul honorário da Polônia em Santa Catarina. Ele não aceitou porque, nesta fase da vida, busca descansar, mas se sentiu lisonjeado pela honraria.
O reconhecimento é fruto do envolvimento dele e da família com o resgate da cultura polonesa no Brasil e em Brusque. Desde os primeiros Walendowsky que vieram para Brusque, o casal Miechal e Alvina, a família mantém laços com o país europeu.
Na década de 1880, Miechal percebeu que a situação chegou a tal ponto, com guerra, miséria, crise e ocupação, que seria melhor ir embora.
“Na região de Tomaszow-Mazowiecki, perto de Lodz, a ocupação era russa, tanto é que cartórios e instituições públicas usavam o alfabeto cirílico. Meu avô falava que o pai dele, insatisfeito sobre essa opressão em cima da preservação do jeito polaco de ser e falar, vendeu as coisas lá para vir embora”, conta Ivan.
O casal foi até o porto de Hamburgo, na Alemanha, para embarcar rumo aos Estados Unidos. Mas no meio da viagem foram convencidos por outra família a vir para o Brasil, e assim o fizeram.
Junto com eles vieram quatro filhos: Antoniego, Franciszek (Francisco), Stephan e Ignácio. A menina Córdula nasceu no navio.
Eles foram instalados inicialmente no Ribeirão do Ouro, hoje Botuverá, porque as terras mais perto da sede da colônia já estavam ocupadas. No entanto, ficaram pouco tempo por lá porque havia muitos conflitos com indígenas.
Os Walendowsky se mudaram para Limeira. Francisco casou com Anastácia Wietkowsky e tiveram Luiz, José, Félix, Romualdo, Inácio, Maria e Hilário.
“Meu pai José falava polonês com os pais e os irmãos. Mas eles tinham necessidade de se comunicar bem em português por causa dos alemães e italianos”, comenta Ivan.
José foi funcionário da prefeitura e também teve uma serraria, atividade muito comum entre imigrantes poloneses. “O pai teve serraria vendida para o Stoltenberg, depois montou transportadora com um italiano e depois virou caminhoneiro, levava arroz e trazia açúcar para cá”, destaca Ivan.
Ele lembra com carinho do modo polonês do avô Francisco. Bem ao jeito polaco, ele costumava contar repetidamente as histórias da família e suas origens para os filhos e netos.
O apreço pela família e pela história da Polônia é algo que une os imigrantes poloneses em todo o mundo. Até hoje, as origens polonesas são muito fortes entre os Walendowsky.
As histórias repassadas oralmente garantiram a preservação da memória familiar, pois as cartas entre os que ficaram na Polônia e os imigrados cessaram em 1933, quando o nazismo começava crescer na Alemanha e arredores.
Depois da 2ª Guerra Mundial, a Polônia se tornou comunista e a comunicação continuou inviável. Somente após 1989, quando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) caiu, é que foi possível obter mais informações, por meio de pessoas que ainda tinham algum contato com a terra dos antepassados.
Depois de muitos anos, em 2007, Ivan e o filho mais novo, João Paulo, foram para a Polônia. A viagem serviu como um ensaio para o reencontro que ocorreria três anos depois. Na virada de 2010 para 2011, eles voltaram ao país europeu. Foram para Tomaszow-Mazowiecki e encontraram o sobrenome Walendowsky na lista telefônica.
“Ligamos e contamos que estávamos no restaurante e eles se dispuseram a ir até lá. Na época, o Facebook e as redes sociais não eram tão difundidas, por isso foi difícil achá-los”, conta João Paulo.
Ali os Walendowsky se reconectaram. Até hoje, os dois lados da família mantêm contato. Recentemente, Ivan esteve na Polônia e conversou com uma parente, que lhe entregou algumas fotos do seu bisavô.
Woitena: parente do Papa João Paulo 2º
A família Woitena (também são encontradas as formas Voitina e Voitena) destaca-se por uma situação curiosa. São verdadeiramente parentes de Karol Wojtyla, o Papa João Paulo 2º.
A semelhança dos nomes já denuncia a proximidade. Mas para além disso, a semelhança física entre alguns integrantes e o papa é realmente impressionante.
Karol Wojtyla foi eleito bispo de Roma e papa em 16 de outubro de 1978. A notícia teve especial impacto nos Woitena de Brusque.
“O meu pai Isidoro é que era o Woitena. Quando o João Paulo 2º foi eleito, perceberam que o sobrenome Woitena era muito parecido com Wojtyla. Aí começaram com essa história de que era parente”, comenta Nivio Woitena, morador do bairro Santa Terezinha.
Miriam, irmã de Nivio, conta que, na época, um parente chamado Floriano foi até o bairro Boiteuxburgo, em Major Gercino, para conferir se Jacob, o primeiro da família a habitar a região, era Wojtyla.
Na lápide, não havia dúvidas: ele se chamava Jacob Wojtyla. O sobrenome fora alterado por erros de cartórios ao longo das décadas.
Foi uma felicidade para Isidoro, neto de Jacob, saber que tinha o mesmo sobrenome do papa. Católico, como a grande maioria dos poloneses, ele não conteve a emoção.
Mas até aquele momento sabia-se só que o sobrenome era o mesmo. Não havia confirmação de qual era o grau de parentesco.
Isso mudou em 1999, quando um sobrinho do papa, chamado Andrej Wojtyla, esteve em Brusque com uma comitiva de poloneses. Ele era pesquisador da história da família e descobriu que parte tinha vindo para o Brasil.
Nivio conta que, em fevereiro de 1999, Andrej pediu para conhecer Isidoro no Hotel Monthez, onde a comitiva estava hospedada. Assim que Isidoro entrou no recinto, Andrej o reconheceu e o cumprimentou como parente, tamanha a semelhança física. Ana Busnardo Woitena, 87 anos, viúva de Isidoro, diz que os dois eram muito parecidos.
Andrej confirmou as suspeitas e esclareceu a história: o irmão de Jacob ficou na Polônia. Ele seria depois o avô do papa. Portanto, o avô de Isidoro era irmão do avô do pontífice. Isidoro e Karol eram primos de segundo grau, pois tinham os mesmos bisavôs.
A genética também comprovou o parentesco. Assim como o papa, José Voitina, irmão de Isidoro, teve Mal de Parkinson e faleceu no ano 2000. Isidoro faleceu em 2007 por problemas pulmonares.
Repercussão
Miriam guarda até hoje um caderno cheio de recortes de jornais de vários lugares onde seu pai foi notícia por ser parente do Papa João Paulo 2º.
O pontífice morreu em 2 de abril de 2005, um sábado. Na segunda-feira seguinte, o Consulado da Colômbia ligou para os Woitena porque uma rádio colombiana queria entrevistar Isidoro sobre a morte.
A entrevista durou mais de uma hora. O locutor perguntava em espanhol, a consulesa, na linha telefônica, traduzia e Isidoro, no telefone, respondia em português.
“Marcaram hora para o pai estar aqui. Eles perguntavam para ela, ela para o pai e assim ia. Tinha gente aqui em casa, foi uma correria aquele dia”, conta Miriam. Foram muitas reportagens, entrevistas e declarações para a imprensa devido ao parentesco.
Para Miriam e Nivio, é motivo de orgulho ter as mesmas origens do papa. Os dois até hoje mantém a fé católica. Ele inclusive trabalha há mais de 50 anos na Paróquia Santa Terezinha.
As filhas de Miriam, Yasmin e Anny, também se orgulham das origens. Recentemente, elas visitaram o Vaticano.
Outros sobrenomes poloneses em Brusque
Abramovitz
Andrezejewski
Arendartchuk
Badura
Baranoski
Bartnik
Bieliski
Bilek
Bogowicz
Bohaczuk
Bonikoski
Budtiqcitz
Buttchevitz
Butzch
Cernucky
Civinski
Colnachi
Conink
Cugik
Daobroski
Darocesk
Daroceski
Dobecz
Drosdosky
Dubiella
Felisky
Flizikoski
Flizikowski
Formanquevsky
Galinski
Geracesck
Goginski
Graciki
Graczcki
Haacke
Hartke
Iatzac
Imianovsky
Iunceck
Jaraceski
Jaraciski
Jatzak
Jeworowski
Jucik
Kapuscinski
Kingeski
Kogikowski
Konopka
Korchak
Koschamik
Koschmik
Koschnik
Kosckni
Kricinski
Kruxink
Kubiak
Kuczkowski
Kuneski
Kusvkowski
Latichuky
Lenartovicz
Lepeck
Lewandowski
Lischeski
Majewski
Maleski
Marchewsky
Menisck
Michelaski
Mikiewicz
Mikowski
Milsik
Moraski
Murceski
Nasguewitz
Novak
Novkovic
Oleskovicz
Oleskovicz
Openkowski
Osouski
Pertschy
Petrusky
Pioczkoski
Piotrovfki
Podiatski
Pommucinski
Pomniecimsqi
Ponikieski
Potratz
Przysiezny
Quesinski
Rataiczyk
Ratuchniak
Rocinski
Romaski
Rubik
Rublesc
Rudnik
Ruzinski
Sayczuk
Scafaschek
Schavarski
Schilenski
Schipitoski
Sdarochy
Sefovitz
Sigusky
Slomsky
Smialowski
Stadnik
Starosky
Stefainski
Szkolny
Szpoganicz
Szvaiczuk
Tarnakloski
Tarnowsky
Tithurski
Tomczak
Varaceski
Vellwock
Visnheski
Wielewski
Wilamoski
Witkosky
Wochiniski
Woicikoski
Wosniak
Wyrepkoski
Zielinski
Ziembicki
Zmijevski
Fonte: Brusque Polonesa, autor Celso Deucher
Você está lendo: Famílias polonesas marcaram história de Brusque
Leia também:
Colonos de língua inglesa antecederam os poloneses
Polônia não existia como Estado no século 19
Dezesseis famílias polonesas foram assentadas no Sixteen Lots
Saporski leva imigrantes de Brusque para Curitiba
Descendentes de Saporski relembram trajetória do bisavô
Tecelões de Lodz promovem revolução industrial em Brusque
Poloneses foram fundamentais para a Renaux e a Schlösser
Imigrantes são assentados em áreas mais distantes
Descendentes buscam perpetuar cultura polonesa
Comunidade polonesa está presente em 16 estados do Brasil