Brusque não elege um deputado federal há quase 20 anos; veja levantamento
Cidade também está sem representante na Assembleia Legislativa desde a eleição de 2018
Cidade também está sem representante na Assembleia Legislativa desde a eleição de 2018
Em 1891, na primeira legislatura da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), após a Proclamação da República, Brusque tinha dois representantes a nível estadual: Carlos Renaux, do Partido Republicano Catarinense, e João Bauer, do Partido Federalista.
Em 2022, após 131 anos após do início daquela legislatura, a cidade está sem representantes eleitos na Alesc. Na última eleição para deputado estadual, em 2018, a região teve recorde de candidatos a uma vaga na assembleia: oito. Porém, nenhum foi eleito.
Seis conseguiram a suplência. Entretanto, apenas Paulo Eccel (PT) chegou a assumir o mandato por 30 dias em 2020.
A última vez que Brusque elegeu um representante na Alesc foi em 2014. Naquele pleito, Serafim Venzon (PSDB) fez 50.232 votos e foi reeleito para o mandato de deputado estadual. Em 2010, ele também foi o único candidato da cidade eleito, com 35.434 votos.
Desde 1947, ano em que a Alesc foi reaberta após o período do Estado Novo de Getúlio Vargas, a atual legislatura é a primeira que não tem nenhum representante de Brusque.
Os políticos que mais representaram Brusque na Alesc foram Mário Olinger e Braz Joaquim Alves, eleitos por quatro mandatos. Ciro Roza e Serafim Venzon vem em seguida, com três mandatos no legislativo estadual.
Apesar de exercer quatro mandatos como deputado estadual, o nome do brusquense Braz Joaquim Alves não é muito lembrado pela população, diferente de políticos da mesma época como Mário Olinger e Raul Schaefer, por exemplo.
O historiador Aloisius Lauth explica que Braz Alves foi professor do Colégio Cônsul Carlos Renaux durante o período de nacionalização das escolas e igrejas.
“No Colégio Cônsul Carlos Renaux que era de maior tradição de língua alemã, eles foram obrigados a substituir o quadro de professores. O colégio foi fechado e reaberto com o nome de Colégio Alberto Torres e os professores eram brasileiros e o Braz Alves teve muita influência sobre as famílias de Brusque, porque era um professor do Cônsul”.
Com a deposição de Getúlio Vargas, em 1945, são criadas novas constituições federal e estadual. Braz Alves foi um dos constituintes e posteriormente eleito deputado estadual como um dos representantes de Brusque.
“Ele era um professor voltado para comunidade específica e em Brusque neste momento prevalecia a visão dos operários têxteis. Em 1946 funda-se o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Ele é um dos líderes desse movimento e é pelo PTB que é eleito deputado constituinte”, lembra o historiador. Braz Alves renunciou ao mandato em dezembro de 1960.
O historiador lembra que Brusque já teve um vice-governador eleito. Natural do Rio Grande do Sul, o médico Francisco Dall’Igna chegou em Brusque na década de 1950 e na cidade ganhou projeção política estadual. Atuou fortemente junto com os sindicatos e, tornou-se um dos líderes do PTB em Santa Catarina.
Foi eleito deputado estadual com 4.463 para a legislatura de 1963-1967. Ainda deputado, concorreu ao cargo de vice-governador ao lado de Ivo Silveira, pela coligação do Partido Social Democrático (PSD) com o PTB. Na eleição de 1965, a chapa formada por Dall’Igna e Ivo Silveira foi eleita.
Em julho de 1966, entretanto, Francisco Dall’Igna teve seu mandato cassado e a perda dos direitos políticos por dez anos, com base no Ato Institucional 2 (AI 2).
“O movimento militar era contrário a uma possível invasão dos comunistas e o PTB tinha essa figura. A primeira atitude foi cassar todos os políticos do PTB e aí entra a figura do Chico Dall’Igna que desapareceu. Se tornou anônimo. Ninguém mais podia falar sobre ele. Inclusive, a praça próxima de onde hoje é a Fundação Cultural chamava-se praça Francisco Dall’Igna, mas depois de todo esse movimento teve o nome alterado”, lembra o historiador.
O único representante de Brusque na Câmara Federal até agora foi Serafim Venzon. Ele foi deputado federal durante três mandatos: 1995-1999, 1999-2003 e 2003-2007. Nesta última, ele conseguiu a suplência, e assumiu o mandato de fevereiro de 2003 a abril de 2004.
De lá pra cá, nenhuma liderança política da cidade conseguiu uma vaga na Câmara Federal. Na última eleição, Brusque teve também um recorde de candidaturas ao cargo: sete, mas assim como no pleito estadual, ninguém foi eleito. Cinco conseguiram a suplência, mas até o momento, ninguém foi convocado para assumir o mandato.
O mestre em Sociologia Política e professor da Univali, Eduardo Guerini, destaca que a representação legislativa para uma região é importante porque resulta em demandas que o deputado pode encampar junto ao Executivo, como emendas parlamentares, destinação de recursos e, ao mesmo tempo, representa a força política daquela região.
“A falta de um representante significa fraqueza política e falta de organização da sociedade civil e dos representantes do poder econômico, político e social para que se demonstre a importância do município para uma representação mais ampla. Uma base parlamentar é importante no sentido de garantir que essa representatividade seja vinculada aos anseios do município e da região”, diz.
O professor observa, entretanto, que embora a região de Brusque, Guabiruba e Botuverá totalize quase 200 mil habitantes, Brusque está muito próxima de cidades polo como Blumenau e Itajaí, que tendem a capitanear maior densidade eleitoral e caracteriza uma maior competição política dos representantes à Assembleia.
“Por isso Brusque é representada de forma tênue ou enfraquecida. Se considerarmos a questão básica de densidade eleitoral, serão lançados mais candidatos na região que além de mais densidade, tem mais força política e econômica. Um exemplo é Blumenau e até mesmo Itajaí”, avalia.
Outro ponto levantado por Guerini é o grande número de candidatos da mesma cidade, como ocorreu em 2018. “Quanto maior o número de candidatos, menor a capacidade de alcançar um sucesso eleitoral”.
1891
Carlos Renaux
João Bauer
1898-1900
Augusto Schiefler Thies (renunciou ainda em 1898)
1916-1918
Carlos Julio Renaux
1935-1937
Rodolfo Vitor Tietzmann
1947-1951
Raul Schaefer
Braz Joaquim Alves
1951-1955
Braz Joaquim Alves
1955-1959
Mário Olinger
Braz Joaquim Alves
1959-1963
Mário Olinger
Braz Joaquim Alves
1963-1967
Nilo Bianchini
Mário Olinger
Francisco Dall’igna
1967-1971
Mário Olinger
1971-1975
Antônio Heil (faleceu durante o mandato)
1975-1979
Walmir Wagner
1979-1983
Cesar Moritz
1983-1987
Gentil Battisti Archer
1987-1991
José Luiz Cunha (Bóca)
Luiz Amilton Martins
1991-1995
José Celso Bonatelli
José Luiz Cunha (Bóca)
1995-1999
Ciro Roza
1999-2003
Ciro Roza
2003-2007
Paulo Eccel
2007-2011
Dagomar Carneiro
Serafim Venzon
2011-2015
Ciro Roza
Serafim Venzon
2015-2019
Serafim Venzon
2019-2022
Paulo Eccel (assumiu por um mês em 2020)
1995-1999
Serafim Venzon
1999-2002
Serafim Venzon
2003-2006
Serafim Venzon