Brusque não tem estrutura para viabilizar doação de órgãos
Falta de equipamento e de profissionais incapacita hospitais a confirmar a morte encefálica
Falta de equipamento e de profissionais incapacita hospitais a confirmar a morte encefálica
Apenas depois de constatada a morte encefálica (cerebral), é possível retirar órgãos e tecidos para doação. No entanto, somente hospitais que conseguem realizar exames específicos estão aptos a viabilizar o procedimento através da SC Transplantes – Central de Captação, Notificação e Distribuição de Órgãos e Tecidos de Santa Catarina. Em Brusque, nenhum dos hospitais pode realizar as doações.
O responsável pela Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Azambuja, Eugênio José Paiva Maciel, explica que a instituição não tem o equipamento necessário para realizar a chamada arteriografia cerebral, exame exigido pela SC Transplante para confirmar a morte encefálica. No hospital, apenas a identificação clínica, por meio da gasometria arterial, confirma a perda das funções cerebrais.
“Precisamos de uma máquina específica para fazer a arteriografia, que é uma espécie de ultrassom do cérebro que mostra se as artérias cerebrais estão ativas. Essa máquina é muito cara. Eu batalho pra que tenha. Sem ela, não há como doar os órgãos”, diz.
Embora batalhe pelo equipamento, o médico afirma que os casos de morte encefálica são raros no Azambuja. Este ano, apenas um foi confirmado pela instituição. A Maternidade e Hospital Evangélico (HEM), por outro lado, não tem especialistas em neurologia. Por isto, segundo a gerente de enfermagem Jiceli Petró, a instituição não costuma atender pacientes que tenham algum diagnóstico referente a acidentes vasculares cerebrais.
“É muito raro ter algum paciente que possa evoluir pra morte cerebral. Eles geralmente são encaminhados para o Azambuja. Aqui já fizemos um encaminhamento para Blumenau quando acabamos atendendo um paciente de Pomerode”, afirma.
Protocolo definido
Criada em 1999, a SC Transplantes é uma gerência da Superintendência de Serviços Especiais e Regulação da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina e funciona como agência executiva do Sistema Nacional de Transplantes. É dela a função de coordenar as atividades de transplante em âmbito estadual. Qualquer instituição do estado, seja pública ou privada, deve passar pelos procedimentos do órgão para as doações.
Desde a inauguração, apenas um caso de morte encefálica foi repassado à SC Transplantes, cadastrado pelo Hospital Azambuja. Entretanto, explica a enfermeira do órgão, Silvana da Silva Wagner, o caso apenas foi confirmado posteriormente em outro hospital. Ela lembra também que o protocolo aberto não significa que a doação se confirmou.
“Quando o caso pode evoluir para morte encefálica, o hospital abre um protocolo e vai nos notificando por ali para falar sobre os exames e para confirmar ao final a morte. A partir do exame final e entre a autorização e o início da retirada dos órgãos, geralmente leva seis horas pra começar. E temos em torno de 18 horas para entregar o corpo à família”, explica a enfermeira.
No ano passado, a SC Transplantes registrou 202 doações no estado. Até abril deste ano, foram 62. O número, para Silvana, deve-se ao investimento do estado na capacitação dos profissionais. De acordo com ela, é importante que os médicos e os enfermeiros estejam treinados e aptos a conversar, conscientizar e orientar a família que está envolvida no procedimento.
“Mais do que conscientizar a população como um todo, é necessário dispor de tempo para capacitar os profissionais, pois são eles quem conversam com os familiares do paciente que sofreu morte encefálica. É um momento delicado que precisa ser tratado com cuidado”, diz.