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Brusque também tem Pelznickel

Fundação Cultural do município incentiva a criação de grupos do personagem no município

A Fundação Cultural de Brusque está incentivando a criação de grupos de Pelznickels no município. A ideia partiu do historiador Álisson Castro, que integrou a Sociedade do Pelznickel, de Guabiruba, e agora, pretende fomentar o personagem em Brusque.

“A ideia é fomentar o Pelznickel nos Bairros, que cada grupo seja autônomo, não esteja ligado a um único grupo grande. Não dá para desvirtuar, o objetivo é trazer um Natal mágico para as crianças e que elas possam refletir um pouquinho sobre seu comportamento”.

De acordo com ele, muitas pessoas assistem aos desfiles e ficam interessadas no personagem, gostariam de participar também, mas não sabem como começar. “Uma das ideias é que a Fundação Cultural forneça esse contato e que explique sobre o personagem, qual o verdadeiro intuito, ensine a confeccionar as roupas e, assim, cada um fazer em sua comunidade”, destaca.

Castro é morador do bairro Santa Terezinha e já começou a encarnar o personagem nas ruas do bairro. “Eu acho que quanto mais tiver nos bairros, sem uma ideia de centralização, melhor. Cada um faz na sua comunidade”, destaca.

O historiador ressalta que há 40, 50 anos, essa prática acontecia no bairro Santa Terezinha. “Eram poucas as residências, então todo mundo se conhecia, a pessoa que normalmente encenava o Pelznickel normalmente sabia quem era a criança mal comportada, estava inserido em uma atmosfera de comunidade. Esse é o objetivo desse chamado”, diz.

Para ele, a personagem tem um caráter pedagógico. “Fazer a criança abandonar seus vícios, que possa respeitar mais os adultos, reforçar o vínculo entre o adulto e a criança. Essa prática acabou sendo espetacularizada, e o principal objetivo é despertar uma reflexão da criança sobre seus atos”.

Castro ressalta que a intenção é fazer uma releitura do personagem, principalmente, com relação à vestimenta. “Temos que ter a preocupação ambiental, então se há 150 anos era normal pegar barba de velho, gamiova, hoje temos que entender o nosso momento. A ideia é mudar um pouco a característica, usar trapos, considerando que somos o Berço da Fiação Catarinense, temos a possibilidade de criar com outros materiais”.

Álisson Castro decidiu retomar o costume em Brusque / Foto: Divulgação

Registros na cidade

Durante muitos anos, Luiz Heil, de 65 anos, foi morador do bairro Santa Terezinha. Hoje, ele mora em Barra Velha, Litoral norte de Santa Catarina, mas lembra com carinho da época que andava pelas ruas do bairro brusquense vestido de Pelznickel.

Seu Luiz seguia a tradição de seus antepassados e, foi observando um primo, que ele decidiu encarnar o personagem. O Pelznickel dele, no entanto, era um tanto quanto diferente dos personagens que hoje são famosos em Guabiruba.

“O Pelznickel é o contrário do Papai Noel. Eu botava uma roupa velha, paletó e calça do avesso, cinta, um facão de madeira, vara de marmelo e o sino para chamar a atenção. A máscara era feita com um pacote de trigo, onde eu colava a barba de velho e colocava chifre”, diz.

Com essa caracterização, ele saía pelas ruas do bairro cobrando obediência das crianças. “Eu fazia a entrega dos presentes na árvore de Natal, fazia as crianças rezarem, e se o pai dizia que a criança foi mal criada e pedia pra eu dar uma varada, eu fazia. Muitas vezes, as crianças se escondiam debaixo da cama, dentro do guarda roupa e eu tirava elas do esconderijo e dava uma varada simbólica”, conta.

Já se a criança teve um bom comportamento durante o ano, o Pelznickel era bonzinho. “Eu tinha que ter responsabilidade. Se a criança era boazinha, eu tinha que falar coisas bonitas, incentivar, para que ela continuasse assim. Se ela foi ruim, eu tinha que ser bravo”.

Ele lembra que em uma de suas andanças, chegou a mandar uma criança para o hospital. “A criança começou a xingar minha mãe e a querer a puxar minha máscara, tive que reagir, quanto mais apanhava, mais malvado ele era”.

Seu Luiz afirma ser o único que fazia o personagem no bairro. Ele recorda que se vestiu de Pelznickel até a década de 1970, depois disso, passou a ser Papai Noel. “Assustava muito as crianças, então quando meus filhos nasceram, comecei a ser Papai Noel e também já estava perigoso andar assim nas ruas, levava muita pedrada, as crianças não respeitavam mais”.

Apesar de tudo, ele sente muita saudade da época que encarnava o personagem. “Eu faria tudo de novo, tenho saudade. Lembro que muitas vezes a criança tinha um comportamento ruim, o Pelznickel brigava e, no outro ano, ela se comportava bem. Isso era muito bom”.

Quem também tem lembranças do Pelznickel em Brusque é Valdir Panca, de 70 anos. Ele cresceu com o seu pai, Nicanor Panca, como o personagem no Natal. “Naquela época, na década de 1950, ele se vestia de ‘Pencinique’, mas era diferente do que conhecemos hoje. Ele vestia uma roupa vermelha ou xadrez, vinha com uma sinetinha e usava máscara com barba de algodão. Era o que hoje conhecemos como Papai Noel, mas chamávamos de ‘Pencinique'”.

Sua família morava próximo ao Mont Serrat e recorda que o seu pai, no dia 24 de dezembro, visitava a casa dos vizinhos como o personagem para entregar os presentes. “Nós enfeitávamos a árvore e, de repente, o pai sumia e logo o ‘Pencinique’ aparecia com os presentes”, lembra.

A origem

De acordo com o historiador, esse ritual veio junto com os imigrantes provenientes da região de Baden, na Alemanha. Por muito tempo, o personagem era a referência que os brusquenses tinham do Natal.

No entanto, a partir da década de 1960, o Papai Noel chega a Brusque, junto com as grandes lojas de departamentos. O personagem vermelho chega na cidade com força e, em meados da década de 1970, muitos brusquenses já se caracterizavam assim. “De início, o Papai Noel era considerado exótico, tal qual o Pelznickel é hoje. O pessoal estranhava porque ele não castigava, não batia, era só bonzinho. Depois da década de 1970, com a televisão, essa personagem acabou adentrando no imaginário popular e, com o crescimento da cidade, acabou se popularizando a ponto do Pelznickel ser deixado de lado”.

Serviço

Quem tiver interesse em se tornar um Pelznickel pode entrar em contato com a Fundação Cultural, pelo telefone 3396-8113 ou com Álisson Castro, no 9222-4595.