Brusque tem abstenção recorde de 20,95% nas eleições municipais
Índice vem crescendo desde o início do século; proporção foi maior em níveis estadual e nacional
As eleições de 2020 tiveram 20,95% de abstenção em Brusque, um recorde na cidade. Foram 18.363 eleitores que não compareceram aos locais de votação. Desde 2000-2004, a proporção de pessoas que não participam das eleições só aumenta.
Apesar do aumento expressivo na abstenção, o índice de Brusque ainda foi menor do que os registrados em Santa Catarina e no Brasil. O índice de abstenção no primeiro turno das eleições municipais deste ano foi de 23,14% em todo o país. Em Santa Catarina, foi 22,47%.
Os votos brancos e nulos, por outro lado, tiveram queda pela primeira vez desde 2004. Em 2016, eram 13,37% do total, e em 2020 foram 8,37% (5.801 votos). A proporção é semelhante à das eleições de 1992 e 1996
Outros municípios
Em 2016, Guabiruba teve 6,33% de abstenção, e em 2020, 12,04% (1.821 eleitores). Em Botuverá, a situação se manteve relativamente estável. houve 7,19% de abstenção no pleito anterior, e em 2020 o índice foi de 7,83%, uma diferença de 33 eleitores.
Em Nova Trento, o índice subiu de 13,84% para 14,52%, representando uma mudança menos drástica do que em Brusque ou Guabiruba. Em São João Batista, a abstenção nas eleições subiu de 18,07%, em 2016, para 23,79%, em 2020.
Desinteresse e pandemia
Para o mestre em sociologia Eduardo Guerini, o crescimento em abstenções caracteriza “certa alienação política do eleitor” e uma resposta à obrigatoriedade do voto. Os votos brancos e nulos também representam uma tendência.
Mas, se por vezes o eleitor se fez presente para anular o voto ou votar em branco, uma alternativa encontrada pelos insatisfeitos com as opções, com processo e obrigatoriedade foi sequer ir às eleições.
“Com uma multa de pequeno valor, uma justificativa facilitada, o eleitor entende isto como manifestação de contrariedade à obrigação de votar. E quanto maior o número de votantes, mais representativa uma eleição é para a sociedade. Quanto menor, menos representativa.”
“Houve um cenário de grande polarização nas eleições de 2018, nas quais houve grande engajamento do eleitorado em torno de uma certa onda de ‘nova política’, de mudança que não se confirmou. E as eleições municipais de 2020 tiveram muitas figuras tradicionais da política”, completa. A presença destas figuras, para Guerini, é um dos fatores que, de certa forma, manteve distantes dos locais de votação algumas pessoas mais ansiosas por algum tipo de renovação ou mudança.
A pandemia é apenas um componente do alto índice de abstenção. “A pandemia criou uma certa restrição aos grupos vulneráveis, indicação inclusive da Justiça Eleitoral. Isto causou um aumento de abstenções em alguns lugares, dependendo muito das conjunturas locais.”
Quanto ao desinteresse, Guerini também vê fraca participação da população brasileira na política e nas decisões da sociedade, com exceção do voto. “Após o voto, o eleitor simplesmente não se responsabiliza do processo seguinte: a atividade parlamentar e o controle de gestões públicas, que requerem eterna vigilância.”