Brusque tem dupla de representantes na Paralimpíada Rio 2016
Matheus Rheine na natação e Soelito Gohr no ciclismo competem no maior evento paralímpico do mundo
Saem de cena os atletas, entram os ‘super-heróis’. Os maiores competidores paralímpicos do planeta têm um encontro marcado com o evento mais importante de suas carreiras desde esta quarta-feira, 7: a Paralimpíada do Rio. Para orgulho dos brusquenses, dois atletas que se desenvolveram em suas modalidades no berço da fiação catarinense estão na disputa e têm chances de medalha.
O multicampeão Matheus Rheine é uma das maiores apostas da natação para o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). A prova de que o brusquense é promissor foi seu desempenho nos Jogos Parapan-americanos de 2015, com um ouro nos 100 m livre; ouro e recorde nos 50 m livre, e um quarto lugar nos 400 m.
Com expectativas mais modestas, o ciclista Soelito Gohr pode fazer sua última participação em Paralimpíadas neste ano, após competir em Pequim 2008 e Londres 2012. Mesmo assim, aos 42 anos, busca um lugar no pódio em provas de velódromo e estrada.
Sem pressão
Estar competindo no Brasil, colocando em prova uma série de treinos pesados e tendo a esperança da torcida do seu lado não parece assustar Rheine. Mais maduro do que na sua primeira participação nas Paralimpíadas, o nadador diz não sentir tanta pressão e ainda acredita que contar com o evento no Brasil pode ser um fator positivo.
“Conversei com o psicólogo, comentamos sobre o desempenho da natação do Brasil nas Olimpíadas, que não trouxe nenhuma medalha nas piscinas. Eles pensaram muito nessa coisa de que nunca teve no Brasil, de que a torcida queria. Eu levo isso mais como algo divertido, uma coisa que pode me motivar”, explica.
Depois de terminar a temporada de 2015 como um dos grandes nomes da natação paralímpica – além dos ouros no Para-panamericano, ele conquistou duas pratas no mundial em Glasgow, Escócia -, o brusquense teve um 2016 difícil. Com treinos pesados que exigiram muito de seu vigor físico, o nadador de 24 anos teve complicações para realizar os tempos ideais em suas provas.
“Comecei o ano bem com uma competição em Funchal, Portugal, até consegui baixar alguns segundos na prova de 400 m livre, mas depois tive outras três competições em que não fui tão bem”, completa.
No entanto, as coisas voltaram a melhorar neste período próximo da Paralimpíada do Rio. Rheine explica que o descanso entre os desafios anteriores e os Jogos Paralímpicos fizeram toda a diferença.
“Incrível como as coisas mudaram. Eu tive treinos de matar, a gente sempre dá o sangue na piscina, mas às vezes o corpo não responde como queremos. Mas na última semana voltei a cair na água com minha confiança no céu, nadei muito bem. Eu sabia que uma hora esse treino todo iria me dar um bom retorno”, diz.
Emocionado, Rheine agradeceu o apoio que vem recebendo nas últimas semanas. Segundo o brusquense, as mensagens vêm de todo o Brasil, principalmente de sua cidade natal, de pessoas que muitas vezes não o conhecem, mas mesmo assim o incentivam.
“Nunca recebi tanta mensagem. Tem muita gente acompanhando meu trabalho e tudo que eu faço pelo esporte. Quero agradecer a confiança das pessoas, porque li mensagens que me fizeram derramar lágrimas. Quero mandar um beijo no coração de cada pessoa que deseja o bem para o outro e para mim nessa época importante da minha vida”, completa.
Há quatro anos, em sua primeira participação na competição, em Londres, o nadador paralímpico não trouxe medalhas para o Brasil. O tempo passou e o atleta só se desenvolveu desde então, transformando-se em figurinha carimbada nos pódios mundiais.
“Se a gente for comparar o Matheus de lá para cá, está completamente diferente. Minha forma de ir para as competições mudou, agora vou com a faca nos dentes. Cumpro minhas metas, e isso tudo é questão de ter ganho experiência”, diz.
Rheine compete na categoria S11, para atletas totalmente cegos. Sua primeira prova, os 400 m livre, será no sábado, a partir das 19h52. A prova de 50 m livre será realizada na próxima segunda-feira, às 10h25. No dia 15, Rheine entra nas piscinas do Estádio Aquático Olímpico para o seu último desafio, o 100 m livre, a partir das 10h47.
Veterano nas pistas
O ciclista, que fará 43 anos no dia da prova de estrada, só começou a competir provas para deficientes físicos depois de 2007, após mais de uma década participando e faturando medalhas em eventos não paralímpicos. Segundo Gohr, essa deve ser sua última Paralimpíada. O atleta, que faz críticas ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), acredita que já deveriam ter encontrado um substituto para competir.
“Eles não fazem um trabalho de captação de jovens para saber quem poderia competir no ciclismo. É complicado. Eles só souberam de mim quando me viram pela TV competindo, e aí entraram em contato comigo para ser um atleta paralímpico”, explica.
As expectativas para o ciclismo na sua categoria, a C5, para atletas com deficiência leve, não são tão boas. Gohr culpa parte disso pela aparente falta de apreço pelo ciclismo vindo do CPB. “Faltando uma semana para os Jogos Paralímpicos, nos chamaram para treinar no velódromo. Eu não tenho um aqui perto para poder treinar, então esse vai ser meu único período de preparação para as provas nesse ambiente. É muito pouco”, afirma.
Mesmo sem o treinamento ideal, não dá para duvidar de Gohr. O atleta foi ouro no Para-Pan de Guadalajara, em 2011, ouro no Para-Pan na Colômbia, em 2007, campeão mundial paralímpico de ciclismo de estrada em 2009 e no ano passado foi vice-campeão mundial de ciclismo de pista, na Holanda.
Quando definitivamente pendurar as luvas, o brusquense já tem uma ideia do que fazer: lutar para que o ciclismo paralímpico brasileiro tenha mais respeito. “Vou trabalhar com crianças deficientes, buscar resgatar o ciclismo. Conciliar o esporte e o estudo, ou então vai tudo acabar”, diz.
Gohr realizará quatro provas, sendo duas na rua, contrarrelógio e estrada, e duas no velódromo, contrarrelógio e perseguição individual. O atleta já pode ser conferido competindo na sexta-feira, 9, a partir das 16h30, quando inicia na prova de contrarrelógio no velódromo.