Brusque tem mais de 60 ostomizados; conheça a história de pacientes
Procedimento cirúrgico abre um novo caminho para que as fezes e a urina sejam eliminadas, por meio de uma bolsa coletora
Procedimento cirúrgico abre um novo caminho para que as fezes e a urina sejam eliminadas, por meio de uma bolsa coletora
A Secretaria de Saúde de Brusque faz o acompanhamento de 67 pacientes ostomizados, de diferentes faixas etárias.
A ostomia é um procedimento cirúrgico que abre um novo caminho para que as fezes e a urina sejam eliminadas. Geralmente, esse orifício é feito em uma parte oca do órgão, como a parede abdominal. Como não há controle voluntário da consistência e da quantidade que é expelida, o ostomizado precisa usar uma bolsa coletora para suas necessidades.
Vera Lúcia Fernandes Faria, 63 anos, é uma das pacientes ostomizadas acompanhadas pela Secretaria de Saúde. Em 2009, ela foi diagnosticada com câncer no reto e além das sessões de quimioterapia e radioterapia, precisou se submeter a uma ostomia.
“Eu comecei a ter sangramento, então procurei o médico. Fiz alguns exames e não foi encontrado nada, então fui encaminhada para fazer uma colonoscopia, e foi então que veio o diagnóstico do câncer”, conta.
Vera diz que receber o diagnóstico foi um baque, mas mesmo com todas as dificuldades do tratamento, sempre teve muita fé e encarou tudo com bom humor.
A ostomia foi parte do tratamento. Vera diz que sem o procedimento, poderia ter morrido. “Não é fácil. A aceitação do procedimento é ruim, a adaptação é pior ainda, mas hoje eu entendo que sem isso, eu não estaria mais aqui”.
Antes de ter que passar pelo procedimento, Vera não sabia o que era ostomia.
Existem cinco tipos mais comuns de estomias: colostomia, ileostomia, urostomia, gastrostomia e traqueostomia.
No caso de Vera foi realizada a ileostomia, que é a abertura no intestino delgado para a saída das fezes. Há 12 anos, ela utiliza a bolsa coletora. Em algumas situações, como a de Vera, é possível fazer a reversão. Ela, entretanto, prefere não passar por um novo procedimento. “Já faz tanto tempo que foi feito, que seria complicado tirar agora, então vou continuar assim”, diz.
Vera afirma que mesmo com a bolsa coletora, vive uma rotina considerada normal. “Claro que tenho alguns cuidados, não posso sair arrastando móveis, erguendo peso, mas faço tudo que preciso fazer. Não vejo limitação”.
A bolsa é trocada, em média, a cada dois dias. Dependendo da qualidade do material, consegue ficar até cinco dias com a mesma, fazendo apenas a higienização.
Ela recebe as bolsas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com ela, são 20 unidades recebidas por mês.
Em relação à alimentação, ela destaca que evita comer com frequência alguns tipos de alimentos com muitas fibras, por exemplo, porque contribuem para entupir a bolsa coletora.
“Às vezes dá vontade de comer, e eu como, mas não da forma que comeria quando não era ostomizada”.
Vera afirma que quem não a conhece, acaba nem percebendo a presença da bolsa coletora. Ela consegue disfarçar a bolsa em meio às roupas e quando sai de casa, utiliza uma mochila transversal, que esconde o volume.
Apesar de levar uma vida normal, às vezes, acaba se deparando com inconvenientes, principalmente quando há troca de modelo das bolsas utilizadas, por exemplo, e o conteúdo acaba vazando.
“Sempre gostei muito de caminhar, eu caminho bastante, mas algumas vezes já aconteceu de chegar em um lugar e perceber que a bolsa está vazando e ter que pedir para alguém trazer uma nova pra mim. Isso pode acontecer, mas não é sempre. É algo que a gente aprende a conviver com os anos”.
Moradora do Centro de Brusque, Sônia Regina de Souza, 61 anos, também é uma das pacientes ostomizadas acompanhadas pela Secretaria de Saúde. Ela fez a cirurgia em 2017, logo após descobrir um câncer grave no reto, e cinco anos depois, leva uma vida normal.
Ela tem a bolsa coletora ligada ao intestino delgado. No seu caso, a bolsa pode ser retirada, mas Sônia ainda não se sente preparada. O plano inicial era que Sônia precisasse da bolsa somente por alguns meses, mas como ela teve que passar por sessões de quimioterapia, esse tempo foi ampliado.
“Depois de cerca de dois meses usando a bolsa, descobri um câncer muito sério no fígado. Tive que parar a quimioterapia para fazer a cirurgia no fígado. A quimioterapia, que duraria seis meses, se estendeu por um ano. Fiquei muito debilitada e os médicos acharam melhor continuar com a bolsa. Depois veio a pandemia e agora ainda estou avaliando. Vou tirar quando me sentir pronta”, diz.
Sônia conta que nunca rejeitou a bolsa. No começo, foi difícil a adaptação, mas logo aprendeu como funciona e hoje leva uma vida normal. De acordo com ela, a bolsa não a impede de fazer nada.
“Eu vivo uma vida plena. Eu viajo, faço pilates, caminho, limpo a casa, trabalho, tudo com a bolsa. Eu entro até na piscina. Só coloco um shorts por cima do biquíni e entro. Não tem problema nenhum, não descola, nada. É vida normal”.
Assim como Vera, Sônia recebe as bolsas da Secretaria de Saúde. A troca, de acordo com ela, é feita a cada quatro dias. “Eu esvazio a bolsa umas cinco vezes por dia, aí faço toda a higienização. É um processo que no início é difícil, mas depois a gente acostuma”.
Sônia afirma que, muitas vezes, nem se dá conta que está com a bolsa. “Eu não escondo de ninguém, não tenho vergonha. Mas muitas pessoas nem percebem. É algo que pra mim é muito tranquilo. Eu estou viva graças a isso. Agradeço todo dia por estar viva”.
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