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Brusque tem mais de 60 ostomizados; conheça a história de pacientes

Procedimento cirúrgico abre um novo caminho para que as fezes e a urina sejam eliminadas, por meio de uma bolsa coletora

A Secretaria de Saúde de Brusque faz o acompanhamento de 67 pacientes ostomizados, de diferentes faixas etárias.

A ostomia é um procedimento cirúrgico que abre um novo caminho para que as fezes e a urina sejam eliminadas. Geralmente, esse orifício é feito em uma parte oca do órgão, como a parede abdominal. Como não há controle voluntário da consistência e da quantidade que é expelida, o ostomizado precisa usar uma bolsa coletora para suas necessidades.

Vera Lúcia Fernandes Faria, 63 anos, é uma das pacientes ostomizadas acompanhadas pela Secretaria de Saúde. Em 2009, ela foi diagnosticada com câncer no reto e além das sessões de quimioterapia e radioterapia, precisou se submeter a uma ostomia.

“Eu comecei a ter sangramento, então procurei o médico. Fiz alguns exames e não foi encontrado nada, então fui encaminhada para fazer uma colonoscopia, e foi então que veio o diagnóstico do câncer”, conta.

Vera é ostomizada desde 2010 | Foto: Bárbara Sales/O Município

Vera diz que receber o diagnóstico foi um baque, mas mesmo com todas as dificuldades do tratamento, sempre teve muita fé e encarou tudo com bom humor. 

A ostomia foi parte do tratamento. Vera diz que sem o procedimento, poderia ter morrido. “Não é fácil. A aceitação do procedimento é ruim, a adaptação é pior ainda, mas hoje eu entendo que sem isso, eu não estaria mais aqui”.

Antes de ter que passar pelo procedimento, Vera não sabia o que era ostomia. 

Existem cinco tipos mais comuns de estomias: colostomia, ileostomia, urostomia, gastrostomia e traqueostomia.

No caso de Vera foi realizada a ileostomia, que é a abertura no intestino delgado para a saída das fezes. Há 12 anos, ela utiliza a bolsa coletora. Em algumas situações, como a de Vera, é possível fazer a reversão. Ela, entretanto, prefere não passar por um novo procedimento. “Já faz tanto tempo que foi feito, que seria complicado tirar agora, então vou continuar assim”, diz.

Vera afirma que mesmo com a bolsa coletora, vive uma rotina considerada normal. “Claro que tenho alguns cuidados, não posso sair arrastando móveis, erguendo peso, mas faço tudo que preciso fazer. Não vejo limitação”.

Foto: Adelcio Barbosa/Prefeitura de Contagem

A bolsa é trocada, em média, a cada dois dias. Dependendo da qualidade do material, consegue ficar até cinco dias com a mesma, fazendo apenas a higienização.

Ela recebe as bolsas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com ela, são 20 unidades recebidas por mês.

Em relação à alimentação, ela destaca que evita comer com frequência alguns tipos de alimentos com muitas fibras, por exemplo, porque contribuem para entupir a bolsa coletora. 

“Às vezes dá vontade de comer, e eu como, mas não da forma que comeria quando não era ostomizada”.

Vera afirma que quem não a conhece, acaba nem percebendo a presença da bolsa coletora. Ela consegue disfarçar a bolsa em meio às roupas e quando sai de casa, utiliza uma mochila transversal, que esconde o volume.

Apesar de levar uma vida normal, às vezes, acaba se deparando com inconvenientes, principalmente quando há troca de modelo das bolsas utilizadas, por exemplo, e o conteúdo acaba vazando.

“Sempre gostei muito de caminhar, eu caminho bastante, mas algumas vezes já aconteceu de chegar em um lugar e perceber que a bolsa está vazando e ter que pedir para alguém trazer uma nova pra mim. Isso pode acontecer, mas não é sempre. É algo que a gente aprende a conviver com os anos”.

“Vivo uma vida plena”

Moradora do Centro de Brusque, Sônia Regina de Souza, 61 anos, também é uma das pacientes ostomizadas acompanhadas pela Secretaria de Saúde. Ela fez a cirurgia em 2017, logo após descobrir um câncer grave no reto, e cinco anos depois, leva uma vida normal.

Ela tem a bolsa coletora ligada ao intestino delgado. No seu caso, a bolsa pode ser retirada, mas Sônia ainda não se sente preparada. O plano inicial era que Sônia precisasse da bolsa somente por alguns meses, mas como ela teve que passar por sessões de quimioterapia, esse tempo foi ampliado.

Sônia fez a cirurgia em 2017 | Foto: Arquivo pessoal

“Depois de cerca de dois meses usando a bolsa, descobri um câncer muito sério no fígado. Tive que parar a quimioterapia para fazer a cirurgia no fígado. A quimioterapia, que duraria seis meses, se estendeu por um ano. Fiquei muito debilitada e os médicos acharam melhor continuar com a bolsa. Depois veio a pandemia e agora ainda estou avaliando. Vou tirar quando me sentir pronta”, diz.

Sônia conta que nunca rejeitou a bolsa. No começo, foi difícil a adaptação, mas logo aprendeu como funciona e hoje leva uma vida normal. De acordo com ela, a bolsa não a impede de fazer nada.

“Eu vivo uma vida plena. Eu viajo, faço pilates, caminho, limpo a casa, trabalho, tudo com a bolsa. Eu entro até na piscina. Só coloco um shorts por cima do biquíni e entro. Não tem problema nenhum, não descola, nada. É vida normal”.

Assim como Vera, Sônia recebe as bolsas da Secretaria de Saúde. A troca, de acordo com ela, é feita a cada quatro dias. “Eu esvazio a bolsa umas cinco vezes por dia, aí faço toda a higienização. É um processo que no início é difícil, mas depois a gente acostuma”.

Sônia afirma que, muitas vezes, nem se dá conta que está com a bolsa. “Eu não escondo de ninguém, não tenho vergonha. Mas muitas pessoas nem percebem. É algo que pra mim é muito tranquilo. Eu estou viva graças a isso. Agradeço todo dia por estar viva”.

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