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Brusque terá plano municipal de prevenção ao suicídio em 2022

Atualmente, é seguido plano estadual; cidade registra aumento de casos nos últimos anos

Brusque iniciou a construção do Plano Municipal de Prevenção ao Suicídio. De acordo com a coordenadora de Saúde Mental Municipal, Inajá Gonçalves de Araújo, a previsão de finalização do protocolo é para agosto de 2022.

Atualmente, a cidade segue o protocolo da Rede de Atenção Psicossocial, do Sistema Único de Saúde (SUS) estadual. Entretanto, Inajá destaca que o plano precisa ser pensado de acordo com a realidade de cada município. Os pontos avaliados são desde as características da sociedade até as formas de suicídio registradas.

“Temos um protocolo que é um norteador, mas temos as especificidades de cada região. Cada município tem a sua realidade e temos que trabalhar em cima disso. Formas e estratégias para evitar tais situações”, explica.

Conforme a coordenadora, o protocolo está sendo construído pela equipe técnica da Saúde Mental Municipal. Neste momento, a equipe está no processo de capacitação ofertada pelo Ministério da Saúde.

O que os dados apontam

De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os números de suicídios variam ao longo dos anos, mas apontam leve aumento a partir de 2012.

Os maiores registros foram em 2016 e 2019, quando a cidade registrou 16 casos de suicídio durante cada ano. Deste total, a maior parte dos suicídios foram cometidos por homens. Em 2016, foram 12 e em 2019 foram 14.

Contudo, Inajá ressalta que o maior número de tentativas são de mulheres. Porém, por serem mais impulsivos, os homens escolhem meios mais agressivos e têm maior risco de letalidade.

“As mulheres que estão passando por problemas psicológicos tendem a procurar atendimento psicológico. Isso a gente observa que os homens buscam em últimos casos, até na parte clínica, como uma dor, por exemplo. Isso a gente também vê dentro da saúde mental”, conta.

Além disso, ela destaca que, as minorias são mais expostas aos preconceitos, violências e discriminação. Isso resulta em índices maiores nessa população. “Também, estamos em uma sociedade que tem o tabu da masculinidade. Que o homem não pode ser fraco, não pode chorar. Esse fator dificulta a busca por atendimento especializado”, completa.

Segundo a coordenadora, a gestão municipal analisa os dados registrados para fazer uma reflexão e criar políticas públicas. O objetivo é realizar ações para ampliar e fortalecer a promoção da saúde, vigilância, prevenção e atenção integral relacionadas ao suicídio.

Em busca de ajuda

Inajá frisa que homens e mulheres que estão sofrendo de depressão ou apresentam sintomas relacionados à doença, devem procurar um profissional da área da saúde imediatamente para um diagnóstico confiável.

“O suicídio é um fenômeno complexo que pode afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero. O suicídio pode ser prevenido, procure ou incentive a pessoa a procurar ajuda de um profissional ou serviço de saúde. Se o risco de suicídio é grande, oriente que a pessoa não deve ficar sozinha”, ressalta.

Em Brusque, caso a pessoa necessite de ajuda, é possível buscar apoio pelos Serviços de Saúde Caps e Unidades Básicas de Saúde (UBS). Também, há os serviços de emergência do Samu, pelo número 192, dos Prontos-Socorros e Hospitais. Outro local de acolhimento são os canais do Centro de Valorização da Vida (CVV), com atendimento pelo número 188 ou www.cvv.org.br.

Leia também:
Como funciona o atendimento crianças com transtornos comportamentais em Brusque.

Desafios da juventude: pandemia afeta saúde mental dos adolescentes

Os dados do Ipea também apontam um aumento a cada ano do número de suicídios entre jovens, de 15 a 29 anos. Em 2019 foram sete no total. Para a psicóloga Adelanta Scuissiatto, que atende no Centro de Atenção Psicossocial (Caps infantil), a adolescência, dos 10 aos 19 anos, é um momento único, que molda as pessoas para a vida adulta.

Adelanta explica que, apesar de a maioria dos adolescentes ter uma boa saúde mental, múltiplas mudanças físicas, emocionais e sociais, incluindo a exposição à pobreza, abuso ou violência, podem torná-los vulneráveis a condições de saúde mental.

Outro ponto destacado pela psicóloga são os efeitos da pandemia da Covid-19. “Hoje, a depressão e os transtornos de ansiedade são as principais causas de doença incapacitantes entre os adolescentes no mundo, ampliados em decorrência das medidas de isolamento social e dos impactos socioeconômicos da pandemia”, explica.

Adelanta aponta que a pandemia agravou tanto a saúde física e emocional dos adolescentes, como a qualidade do sono e alimentação, a gestão dos recursos financeiros e das relações familiares, além de impactar suas perspectivas educacionais.

Para ela, com a soma desses fatores, o suicídio aparece com índice altíssimo entre essa população.

“Nós, enquanto rede de apoio e contato direto destes adolescentes – pai, mãe, responsáveis, escola, profissionais de saúde, comunidade – temos um papel importantíssimo no acolhimento, observação e escuta desta demanda”, reforça.

Luiz Antonello/O Município

Mudanças entre gerações 

Segundo a psicóloga, as condições de saúde mental começam por volta dos 14 anos e percorrem a vida adulta. Ela observa que nas gerações anteriores não havia um índice mensurável sobre a saúde mental de adolescentes, mas atualmente a alta demanda pede acolhimento e orientação.

“Além de todas as mudanças esperadas nesta fase de desenvolvimento da vida, estamos observando adolescentes isolados, com tristeza grave, irritação, medo, crises de choro, falta de ar, sensação de morte, comportamentos auto lesivos, estresses, sem perspectivas de futuro, sentindo-se como incapacitados, não conseguindo dar ‘conta’ das atividades diárias do cotidiano”, detalha.

São atividades de casa, tarefas escolares, gestão do tempo, organização de sono, alimentação e higiene. Adelanta ainda relata que muitos adolescentes se sentem como fardo para os familiares. Também, que muitos perdem o prazer de fazer atividades que antes gostavam. Então, o pensamento de não estar ali, de suicídio, tornou-se recorrente e como única solução.

Papel de cada um

Com os desafios, a psicóloga ressalta que é importante que se construa uma mobilização no sentido de prevenir, identificar, acolher, encaminhar e tratar problemas relacionados à saúde mental dos adolescentes.

As ações passam por diversas áreas. São:

– Família: auxiliar o adolescente a passar por este período com menor sofrimento e prejuízo, favorecer o tratamento;
– Educação: pensar a readequação do conteúdo escolar, priorizando a saúde emocional e reformulando as formas de aprendizado pós-pandemia;
– Saúde: ações relacionadas aos serviços de saúde também são fundamentais para tratamento de adolescentes com sofrimento psíquico (iniciando nos serviços básicos de saúde até os especializados);
– A arte, a cultura e o esporte também têm papel crucial na promoção da saúde mental da população como um todo, mas especialmente entre os adolescentes. A produção de conteúdo que favoreça a imaginação e a criatividade, que fortaleça a percepção do adolescente de pertencimento a grupos ou tribos pode favorecer o seu desenvolvimento saudável neste momento.

“As consequências de não abordar as condições de saúde mental dos adolescentes se estendem à idade adulta, prejudicando a saúde física e mental e limitando futuras oportunidades”, finaliza.


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