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Brusque: uma cidade ainda tranquila?

Quando cheguei em Brusque, no final de 1971, para exercer a Promotoria de Justiça, encontrei uma cidade tranquila, com uma população que, me parece, não passava dos 40 mil habitantes, a grande maioria descendente das famílias colonizadoras, gente da terra, como assim se dizia e era conhecida. Poucos eram os forasteiros que, como eu, por […]

Quando cheguei em Brusque, no final de 1971, para exercer a Promotoria de Justiça, encontrei uma cidade tranquila, com uma população que, me parece, não passava dos 40 mil habitantes, a grande maioria descendente das famílias colonizadoras, gente da terra, como assim se dizia e era conhecida. Poucos eram os forasteiros que, como eu, por força do ofício, outros em busca de serviço, numa cidade vista como próspera e cheia de oportunidades, aqui aportavam para viver em meio à população nativa acostumada ao trabalho e à ordem.

Era uma comunidade marcada pela tranqüilidade, pela segurança e pelos baixos índices de criminalidade. Durante o período em que exerci a Promotoria, os crimes praticados não eram muitos. Ficavam restritos ao grupo das lesões corporais, a maioria de natureza leve por briga de vizinho ou de algum valentão e dos furtos simples. Raros eram os crimes contra a liberdade sexual, poucos os homicídios dolosos, que não ultrapassam a dois por ano, quase nenhum assalto à mão armada. Crimes de tráfico de entorpecente, hoje tão comuns e tão graves, estavam debutando na página policial para serem os primeiros casos denunciados pelas teclas da minha Olivetti.

Assim era Brusque. Cidade pequena, interiorana, de muitas casas de portão aberto, de gente sentada na varanda nas tardes de domingo que, na semana, trabalhar é preciso; de um só edifício com elevador, em frente à praça do Barão; de três ou quatro sinaleiras e poucos automóveis nas ruas e de um só guarda de trânsito, o saudoso José Fischer. Enfim, assim era Brusque, ainda uma vila de gente conhecida, que se cumprimentava e caminhava descontraída, nas calçadas da saudade.

Ninguém pode segurar o que todos querem, o progresso. Brusque cresceu, sua população aumentou. Hoje, passa dos 125 mil habitantes e ganhou sintomas de cidade grande. Prédios em vez de casas, muros cada vez com mais altura, portões se fechando, ruas congestionadas de veículos conduzidos por motoristas invisíveis atrás das películas que escondem um simples aceno de um possível rosto amigo. Coisa de cidade grande, ninguém se conhece, ninguém se cumprimenta mais.

Lembrei de tudo isso ao ler a reportagem deste jornal, que noticiou a operação da nossa Polícia Civil e a prisão de 18 pessoas acusadas de graves crimes. Perguntei a amigos.

Nenhum preso é conhecido. Nem o jornal informou os nomes. São os presos deste novo tempo, estranhos delinquentes que, parece, nada têm a ver com a nossa cidade.

Para a polícia, as prisões vão evitar que a violência tome conta de Brusque. Vamos torcer para que assim seja e que, apesar das mudanças trazidas pelo o progresso, nossa cidade continue tranquila e segura.