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Brusquense de 89 anos é coveiro há mais de seis décadas

Santo Pavesi trabalha no cemitério da igreja Sagrado Coração de Jesus, no Guarani

Prestes a completar 90 anos, Santo Manoel Pavesi não é um homem comum. Além de realizar voluntariamente um trabalho que dá medo em muita gente – ele é o coveiro oficial no cemitério da Capela Sagrado Coração de Jesus, no Guarani – , existe uma inquietude nos seus movimentos que revela uma pessoa ativa, norteada em se doar pelo próximo.

Natural da localidade de Ourinhos, em Botuverá – município que na época de seu nascimento pertencia a Brusque -, Pavesi não esconde a satisfação em desempenhar o seu ofício nada simples. Em 65 anos como coveiro, foram mais de 700 enterros realizados, cerca de cinco apenas neste ano. Caixões de crianças, jovens, adultos e idosos já passaram pelas suas mãos. Histórias inusitadas também estão em suas recordações.

O trabalho de voluntário do senhor começou quando ele tinha 27 anos e era recém-casado com Celsa Lúcia Pavesi, falecida há cerca de 15 anos, e no qual ficou unido em matrimônio por 47. Foi em Botuverá, que por necessidade da comunidade, Pavesi começou a fazer os primeiros enterros, função exercida até 1981 na capela do cemitério de São João Batista, em Ribeirão de Ouro.

Depois deste ano, ele continuou sendo coveiro no cemitério do Guarani, onde está até hoje. “Comecei porque não tinha outro que fazia, ninguém gostava, tinham medo dos defuntos. Eu não tinha medo e queria ajudar”, conta o senhor, que inicialmente preparava e fechava as covas, quando solicitado, durante às noites e aos sábados e domingos.

Pavesi já fez mais de 700 enterros durante a sua vida / Daiane Benso

Sempre envolvido com a igreja, há 36 anos em Brusque, Pavesi já ajudou na construção da capela e do salão da comunidade Sagrado Coração de Jesus. Tocava o sino nas missas, e hoje mantém fixa a sua função de fazer as covas, remover restos mortais, limpar os túmulos e cortar o mato do cemitério das 6h às 10h de segunda-feira a sábado, e também em outros horários quando chamado. “Me sinto feliz em ajudar as pessoas, é uma necessidade. Se ninguém enterrar, onde vão colocar os mortos?”, diz o senhor, que afirma que não chora em trabalho. “Somos obrigados a se manter firmes. Não adianta chorar, um dia eu também vou”.

Pavesi, que vai diariamente ao cemitério com sua mobilete, diz que algumas situações lhe marcaram nestes anos. Em uma delas, quando foi remover os restos mortais de uma pessoa falecida há 12 anos e encontrou o corpo intacto. Outra, uma adolescente morta com 15, teve o caixão violado e joias roubadas.

“Desde que mexo com os defuntos nenhum me mordeu. Ninguém voltou para contar como é lá do outro lado. Enquanto eu puder e Deus me acompanhar continuarei fazendo esse trabalho para a comunidade”, diz.


“Não fico parado”
Desde criança Pavesi sempre gostou de trabalhar. Aos sete anos, em Ourinhos, ele ajudava a família a cortar lenha para uma serraria. Ele trabalhou na roça também e por 26 anos dedicou-se ao serviço de detonação de rochas na Votorantim Cimentos S/A e na Calwer Mineração, quando morava em Ribeirão do Ouro, em Botuverá. No começo o trabalho era feito manualmente e depois com compressores de perfuração. Ele se aposentou por tempo de serviço nestes lugares, porém, não baixou a guarda.

Pavesi, que mora sozinho no Guarani desde o falecimento da esposa, cozinha, limpa a casa e faz objetos manuais. Ele geralmente dorme às 18h30 e acorda às 5h, prepara o seu café e vai para o cemitério. “Tem que trabalhar. Se tem coisa que minha mãe não me deu quando eu nasci foi preguiça. Não nasci pra ficar parado e o segredo é fazer tudo com amor e carinho. Se não for assim, não vai pra frente”.

Senhor de 89 anos cuida dos túmulos e da limpeza do cemitério / Daiane Benso

Firme em suas palavras, Pavesi possui um humor invejável. Ele conta que ainda quando trabalhava com perfuração de rochas sofreu um acidente, onde quebrou as costelas e perfurou o pulmão. Ficou 22 dias no hospital e lembra de ter morrido e “voltado”. Segundo o idoso, “Deus disse que lá não era lugar para malandro”.

Adelino Pavesi é um dos sete filhos do coveiro, que tem dez netos e dois bisnetos. Ele afirma que o pai é a inspiração da família e que gosta de viver em movimento. “Se tivesse bastante Santos no mundo seria bem diferente. Hoje as pessoas não têm mais responsabilidade, e ele vai continuar o seu ofício até quando puder, fazendo com amor e respeito”.