Brusquense foi um dos fundadores da Coamo; conheça a história de José Aroldo Gallassini
Ele é o presidente do Conselho de Administração da maior cooperativa agrícola da América Latina
Ele é o presidente do Conselho de Administração da maior cooperativa agrícola da América Latina
Nascido e criado em Brusque, José Aroldo Gallassini, 80 anos, é um dos cooperativistas mais bem sucedidos do país. Em 1970, o engenheiro agrônomo brusquense foi o idealizador da Coamo, que hoje é a maior cooperativa agrícola da América Latina.
De família simples, José Aroldo viveu em Brusque até os 17 anos, quando decidiu servir ao Exército e estudar em Curitiba, capital do Paraná. Porém, nunca esqueceu de suas origens. Nos momentos de folga e férias, sempre retornou à cidade natal para matar as saudades da família e amigos. Inclusive, em 1969, casou-se com a também brusquense Marli Pereira, em cerimônia e festa realizada na cidade.
Filho de Henrique e Othilia Gamba Gallassini, José Aroldo cresceu em meio à fábrica de móveis da família, mas o ofício do pai nunca o interessou. Desde cedo, demonstrou interesse pelo trabalho na terra, profissão que decidiu seguir e que abriu portas para a melhoria da vida de milhares de famílias no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
O gosto de José Aroldo pela agricultura foi herdado do avô, Estevão Gamba, que era um pequeno agricultor. Desde criança, ele adorava plantar, colher e cuidar da horta da família.
O brusquense também sempre foi bastante estudioso e dedicado. Fez o primário no Colégio Santo Antônio – atual São Luiz – e o ginásio no Colégio Cônsul Carlos Renaux.
Comecei no mercado de trabalho aos 13 anos fazendo cobranças da fábrica de móveis do meu pai em Brusque
Durante o ginásio, trabalhou na fábrica de móveis do pai, pintando e envernizando peças e também fazendo cobranças – sua área preferida. O trabalho na empresa da família, entretanto, não durou muito.
Logo que terminou o primeiro grau, no fim de 1954, decidiu se aventurar em Curitiba e morar com o tio e o irmão mais velho. José Aroldo tinha apenas 13 anos, mas a experiência não foi boa e ele retornou para a casa dos pais em Brusque.
Ele arrumou emprego em uma loja de calçados, mas queria mesmo era trabalhar na Fábrica Renaux. Surgiu então, uma oportunidade na loja da fábrica, onde iniciou sua vida profissional com carteira assinada.
Aroldo iniciou fazendo entregas para os clientes de bicicleta, mas logo foi designado para cumprir uma função interna da loja. Mais tarde, o jovem foi transferido para o escritório e ao mesmo tempo fazia aulas de datilografia, desenho e de elaboração de plantas de casa. Seu chefe no escritório das Lojas Renaux, Osni Pereira, o ensinava também contabilidade aos sábados.
A dedicação e competência de Aroldo logo foram notadas e o jovem foi promovido a caixa geral do departamento, com a responsabilidade de fechar o movimento dos três caixas da loja.
Ele trabalhou de 1957 a 1959 nas Lojas Renaux. No início de 1959, aos 17 anos, ele pediu demissão para poder se alistar no Exército e estudar. O jovem brusquense queria ser engenheiro agrônomo e, para isso, precisaria sair de Brusque. Ele escolheu Curitiba para iniciar a nova etapa de sua vida.
Após servir o Exército, Aroldo conseguiu emprego no Banco Noroeste e à noite estudava no Colégio Estadual do Paraná. Também atuou em uma empresa de ônibus vendendo passagens e no Banco do Comércio.
Em 1963 prestou vestibular para Agronomia na Universidade Federal do Paraná (UFPR). No primeiro, não atingiu nota para entrar na graduação desejada e, por isso, se matriculou no curso de Jornalismo. No fim daquele ano, fez novo vestibular e passou em 19º lugar para iniciar a tão sonhada faculdade em 1964.
Para conseguir juntar dinheiro, Aroldo prestava serviços para uma família de Curitiba que fazia topografia para o governo do estado, assim, ele conseguia se manter na capital paranaense e ainda fazer uma boa poupança.
Após se formar, Aroldo decidiu seguir o caminho da extensão rural. Por isso, prestou concurso para a Acarpa, atual Emater – o equivalente à Epagri em Santa Catarina. Ele foi aprovado e contratado como técnico do órgão. Após um período de estágio, foi designado para ser extensionista em Campo Mourão. A partir daí, sua história e dos agricultores daquela região mudariam para sempre.
De jipe, Aroldo Gallassini chegou em Campo Mourão em 1968. A cidade recebeu muitos agricultores gaúchos e catarinenses, que trouxeram a cultura do plantio de trigo para o local. A maioria das plantações, entretanto, era para agricultura familiar, sem uma grande produção.
Os agricultores da cidade, inclusive, reclamavam muito da qualidade do solo. Como extensionista, o brusquense tinha a missão de ajudar a solucionar os problemas dos produtores e desenvolver a agricultura no local.
O engenheiro brusquense conduziu os primeiros experimentos de trigo na região, com trabalho de pesquisa de variedades, adubação, época de plantio e, logo a seguir, a implantação da soja.
Já durante a faculdade, Aroldo se interessou pelo cooperativismo. Fez, inclusive, alguns cursos para se aperfeiçoar no tema. Quando chegou a Campo Mourão, percebeu que a criação de uma cooperativa poderia contribuir para o desenvolvimento da agricultura naquela região.
Começamos comprando sementes de trigo, depois de soja. Dali para frente não paramos mais. Os cooperados confiaram e não paramos mais
O brusquense foi o responsável pela organização dos produtores a sua inserção no cooperativismo. “Comecei a realizar um levantamento da realidade rural da cidade. Era o fim do ciclo da madeira. Comecei a desenvolver a assistência técnica. Um ano depois, em 9 de dezembro de 1969, fizemos uma reunião no Clube Mourãoense e um dos assuntos era o cooperativismo”, recorda José Aroldo, atual presidente do Conselho de Administração da Coamo.
Anteriormente, aquela região do Paraná já havia vivido tentativas frustradas de fundar uma cooperativa. Mas mesmo receosos, os agricultores confiaram no trabalho do brusquense e apostaram na ideia. O prefeito da época, inclusive, ofereceu um terreno para a instalação da cooperativa.
Sob a liderança do brusquense José Aroldo Gallassini, a Coamo foi fundada em 28 de novembro de 1970, com 79 agricultores.
A partir daquele dia, a cooperativa gerenciada por José Aroldo – que se desligou da Acarpa – iniciou o trabalho que até hoje não parou. “Começamos comprando sementes de trigo, depois de soja. Construímos o primeiro armazém de fundo chato, que ainda existe, depois o primeiro escritório e as coisas foram funcionando bem. Dali para frente não paramos mais. Os cooperados confiaram e não paramos mais”, destaca o brusquense.
Rapidamente, os agricultores começaram a perceber os benefícios da cooperativa, que foi crescendo e se expandindo. Quatro anos depois da fundação, foi aprovada a expansão da Coamo para os municípios de Engenheiro Beltão e Mamboê, próximos a Campo Mourão. Hoje, a cooperativa está em 71 municípios no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul e conta com quase 30 mil cooperados.
Não dava para imaginar que a Coamo chegaria até aqui com tanto sucesso
“Não dava para imaginar que a Coamo chegaria até aqui com tanto sucesso. Mas eu tinha uma qualidade que me ajudou. Comecei no mercado de trabalho aos 13 anos fazendo cobranças da fábrica de móveis do meu pai em Brusque. Depois em Curitiba, trabalhei em dois bancos e ainda fiz cálculo de topografia para uma empresa. Essa experiência, me deu uma boa vivência para conduzir o trabalho inicial da cooperativa”.
Em Santa Catarina, especificamente, a Coamo está presente em seis municípios: São Domingos, Abelardo Luz, Ipuaçu, Ouro Verde e Xanxerê, todos na região Oeste.
Em meio século de atividade, o trabalho dos cooperados da Coamo se estende em cerca de 4 milhões de hectares de terras que produzem, anualmente, o recebimento e a comercialização de mais de 5,6 milhões de toneladas de grãos.
A cooperativa idealizada pelo brusquense corresponde a 3,6% de toda a produção nacional de grão e fibra. No mercado externo, a Coamo exporta 11% do total de todas as cooperativas brasileiras.
O parque industrial da cooperativa é composto por duas indústrias de esmagamento de soja, cujas capacidades de produção somadas é de 5 mil toneladas/dia; uma refinaria de óleo de soja com capacidade de 660 toneladas/dia; uma fábrica de gordura hidrogenada com capacidade de 100 toneladas/dia; uma indústria de margarina com capacidade para 180 toneladas/dia; duas fiações de algodão com capacidade para 30 toneladas de fio/dia; uma torrefação e moagem de café com capacidade para 15 toneladas/dia e um moinho de trigo com capacidade para 200 toneladas/dia.
Todo esse complexo industrial transforma mais de 1,7 milhão de toneladas de produtos por ano, agregando valor à produção dos cooperados e criando empregos nas regiões em que atuam.
No parque industrial da cooperativa são produzidos diversos alimentos com as marcas Coamo, Primê, Anniela e Sollus. Entre os mais conhecidos estão o óleo de soja Coamo e também a margarina Coamo.
“O que nos orgulha não é somente sermos uma cooperativa forte e grande, mas podemos olhar para trás e constatar nesse meio século que com a nossa união e força, contribuímos para o desenvolvimento dos nossos quase 30 mil cooperados, com evolução e transformação, não só nos campos de produção, mas também, na qualidade de vida da família Coamo”, ressalta o brusquense.