Brusquense recolhe da rua dezenas de cachorros desnutridos e feridos para recuperá-los
Na busca pelo amor, o aposentado Valmor Mayer encontrou "anjos de quatro patas"
Na fala mansa e no olhar doce, o retrato de um homem que aprendeu a observar a criação humana de uma forma diferente. Na busca pelo amor, o brusquense aposentado Valmor Mayer, de 68 anos, encontrou “anjos de quatro patas”.
Numa casa alugada, simples e pequena, no bairro Dom Joaquim, o senhor acolhe cachorros atropelados e desnutridos que encontra nas ruas da cidade. Hoje, ele abriga 32 cães nos menos de 100 metros quadrados entre a residência e o pátio.
Uma série de acontecimentos na vida de Mayer o levaram a uma mudança de consciência. Divorciado há dez anos, ele morou durante sete anos em três bairros diferentes de Brusque. Em cada um deles, encontrou animais que precisavam de proteção.
No Azambuja, em 2006, adotou Preto, que já é velhinho e está cego. Depois, no bairro Limeira, encontrou o Perigo, um cão que era de um vizinho e estava doente – hoje já falecido. Após isso, quando morou no Guarani, acolheu Bob.
“Não somos muito diferentes de um cachorrinho, de um gato e de todos os animais. Na realidade nós também somos animais. Temos alma, corpo e espírito. O animal tem corpo, tem alma, mas não tem espírito”, diz Mayer. “Antes eu não era muito chegado aos animais, mas são coisas que acontecem na vida. Na busca pelo amor eu fui despertado e estou construindo algo melhor para eles [cães]”, acrescenta.
O tutor diz que sentia necessidade de fazer algo pelo próximo. Ele chegou a trazer moradores de rua para casa, no entanto, percebeu que eles, muitas vezes, estavam nessa condição por opção.
Para Mayer, diferente dos andarilhos, os animais não estão na rua por opção. Por isso, gradativamente e voluntariamente, todos os animais que ele encontra na rua em condições precárias acaba recolhendo e ajudando na recuperação para, depois, levar à adoção. “Mesmo aposentado, eu trabalho com vendas, então estou sempre na rua. Quando vejo um cachorrinho atropelado, muitos que mal cruzam as pernas de tão magros que estão, eu recolho”.
As despesas
Para oferecer assistência básica aos 32 cães, Mayer tem muitas despesas. Em média, são gastos por mês R$ 1,8 mil entre o aluguel, a água e a luz. E ele recebe apenas R$ 580 de aposentadoria e uma comissão que varia de R$ 400 a R$ 1 mil do trabalho de vendas – em alguns meses, não recebe nada. Mas, em meio às dificuldades, os animais são bem tratados e vivem bem no puxado improvisado pelo tutor. Na varanda do pátio, há um espaço divido com algumas tábuas e lonas de plástico para proteção contra o frio. Também há sofás e cobertas para que os cachorros fiquem mais confortáveis.
Mayer gasta pouco com a ração dos animais. Ele costuma ganhar de vizinhos e de voluntários aleatórios. Há mercados que também oferecem miúdos, como dorso de galinha, para preparação de outros alimentos. A clínica veterinária Fofinhos Pet Shop também auxilia no tratamento dos animais que estão muito debilitados, cuidando deles sem cobrar. Porém, os bichinhos estão sem receber vacinas, pois Mayer não tem condições de pagar para todos.
Alegria
Com tantos cães, parece quase impossível decorar os nomes. Mas Mayer sabe a nomenclatura de cada um: os Três Mosqueteiros, o Bob, o Preto, o Bidu, a Ovelhinha, o Ninão, a Ratinha, o Mostro, o Perigo e por aí vai. “Conheço cada um deles, pode ser de madrugada, se escuto algum chorando, venho ver o que eles têm. Fim de semana sento no chão, e eles vêm tudo em cima de mim, eu converso muito com cada um”, conta.
Mayer diz que sua alegria é poder reabilitar ao animais para que sejam adotados. Quando eles estão mais fortes, sua neta Luana, estudante de Medicina Veterinária, leva os cães para as feirinhas da Associação Brusquense de Proteção aos Animais (Acapra) e da Protegendo os Animais Com Todo Amor (Pata). “Minha maior felicidade é ajudá-los e receber este carinho. Também são muito carentes, o amor deles é até às vezes muito egoísta, se dá mais amor pra um, o outro fica com ciúmes”.
A vida do brusquense foi transformada pelo amor dos cachorros. Ele afirma que antes tinha problemas de hipertensão e era muito estressado. “Melhorei a minha saúde e com relação às pessoas estou compreendendo um pouco mais o ser humano. Grande parte das pessoas são agressivas por falta de carinho, por falta de atenção. Com certeza os animais me fazem entender um pouco melhor a vida, o por quê de estarmos aqui. Sem contar que eles me mantém ocupados com o carinho, com a atenção e com a limpeza”, conta.