Brusquenses apostam em hábitos veganos para vida mais saudável
Empresas locais percebem crescimento no consumo de alimentos e outros produtos sem matéria-prima animal
Os produtos veganos são aqueles que não utilizam nenhum produto de origem animal, e não se limitam apenas a alimentos: roupas, acessórios, cosméticos e outros itens também podem contar com a produção vegana, e são geralmente a escolha de quem opta por exercer um consumo mais consciente e saudável. Em Brusque, a onda tem ganhado força aos poucos, ao passo em que diversas empresas apostam na fabricação e na comercialização neste nicho.
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A Vibe Acessórios é uma empresa brusquense sediada no bairro Águas Claras. Fundada em 2014 por Bruna Franci da Silva, partiu da ideia da jovem de contribuir para uma cultura sustentável. “Depois de começar a estudar design de moda, me aprofundei no caminho da sustentabilidade e comecei a mudar meus hábitos de vida, e isso se aplicou profundamente no que eu queria pra marca, mudando os produtos que ofereço”, explica.
Atualmente, nenhuma peça produzida pela empresa integrada por Bruna e sua mãe possui matéria-prima animal. Os produtos da loja seguem a chamada “slow fashion”, ou seja, a “moda lenta”. A matéria prima utilizada é sobra das indústrias têxteis, reaproveitando o que seria descartado para a criação de produtos atemporais. “A meta é reduzir ao máximo a quantidade de lixo no nosso meio ambiente e produzir peças de qualidade, para que durem mais tempo, dando uma nova vida útil ao que terminaria nos lixões e aterros.”
Para Bruna, o planeta já pode abdicar das matérias-primas animais pois possui tecnologia suficiente para isto. “É uma ideologia seguida por mim em relação aos outros seres vivos do planeta. Tudo pode ser substituído e modificado.”
Os preços de produtos veganos, à primeira vista do público, são mais caros do que os convencionais. Bruna explica que os fatores que causam esta situação são o tempo da produção artesanal, que muitas vezes envolve outras pessoas no processo, elevando os valores. “Essa ideia, apesar de antiga, parece novidade para a nossa região pois os consumidores continuam com a preferência exclusiva pelo preço.”
“É uma questão de hábito, vai do consumidor experimentar coisas novas, se permitir, se educar a uma nova forma de consumo. A mídia tem grande importância nisso, quando apresenta novos meios para as pessoas conhecerem e se sentirem motivadas a mudar seus hábitos. Tem a questão do custo-benefício. Vale muito mais comprar um produto de qualidade por um preço maior do que vários outros baratos que duram pouco tempo”, palpita Bruna.
Hoje, a Vibe tem as modelagens, corte e costura feitas majoritariamente pela mãe de Bruna, ainda que a designer de moda participe desta parte do processo. As primeiras peças de cada modelo geralmente ficam para as duas, e depois que o resultado é satisfatório, são geradas as peças que serão vendidas. “É algo muito familiar e orgânico, nós analisamos o material disponível no ateliê, vindo das doações, pensamos o que pode ser produzido, criamos a modelagem e iniciamos os testes.”
A loja possui acervo de jeans em estoque e grandes doações de amostras que pertenciam a coleções de representantes que saíram de linha. “Como o jeans é um tecido mais bruto e grosso, temos produzido bolsas e necessaires, além de outros acessórios e decorações.”
Café vegano tem ingressos esgotados
O veganismo está em tamanha evidência em Brusque que o 1º Café Colonial Café sem Leite — evento que conta com diversos pratos veganos e palestras a ser realizado no Casarão Garibaldi em 29 de julho — teve seus 80 ingressos esgotados no segundo dia de vendas.
O nome do encontro, evidentemente, já é sinal do veganismo, uma vez que veganos não consomem leite de origem animal. Também serão realizadas palestras e rodas de conversa sobre o tema, além de feira de produtos veganos e lançamento do livro Carnelatria, da autora Sônia Felipe.
O Café sem Leite contará com todas as opções de um café colonial convencional, mas com todas as receitas adaptadas para versões veganas. Bolos, tortas, brigadeiros, coxinhas, pastéis, hambúrgueres, pães, patês, geleias, café, leites e sucos, nenhum deles com a utilização de matéria-prima animal. Além disso, algumas opções não contêm glúten. Todos os pratos serão preparados pelos organizadores do evento, o restaurante brusquense Santo Vegetal e o blog SC Veggie.
“Esta parceria foi feita para fazer o evento acontecer. Tivemos a ideia para alcançar um maior número de pessoas e promover diversidade nos pratos oferecidos. As duas empresas trabalham com produtos veganos mas possuem estilos distintos de cozinha”, explica a proprietária do Santo Vegetal, Morgana Moresco.
Ao contrário do que se afirma em muitas ocasiões, Morgana acredita que a alimentação vegana, mais saudável, é mais barata do que a convencional. “A base de uma alimentação vegana não é mais cara. Vegetais, frutas e grãos são consideravelmente mais baratos que carne. Claro que existem opções mais caras que outras, assim como um filé mignon custará mais que um peito de frango. No caso de produtos como roupas e acessórios, a demanda ainda é pequena, então o preço precisaria ser maior”, conta.
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Os ingressos sendo esgotados de forma tão rápida são indício de crescimento de comida vegana em Brusque e região. Para Morgana, a queda de preço de produtos como tofu e leites vegetais causam maior procura. Com isso, os supermercados têm passado a vender mais produtos veganos, como os queijos, mas ainda possuem um preço mais elevado.
“Muito do que se consome no dia a dia são comidas veganas, mas as pessoas não estão atentas. Muitos clientes pedem as refeições para complementar alguma proteína animal que preparam em casa, outros pedem para experimentar, se surpreendem e se tornam clientes. Há também aqueles que procuram os alimentos veganos ao serem diagnosticados com problemas de saúde que podem ser tratados ou revertidos com alimentação vegana”, explica.
“Toda mudança de hábito tem dificuldades”
Analu Silveira parou de comer carne vermelha aos 20 anos, e aos poucos foi parando também com frango e peixe. Neste processo, foi se adaptando até interromper o consumo de alimentos de origem animal em 2016. “Toda mudança de hábito implica em dificuldades, porque existem as substituições. A questão social também dificulta”, explica.
Hoje com 27 anos, a modelo não percebe grandes diferenças no custo da alimentação vegana para a convencional. “Os vegetais que se encontram na feira são normalmente baratos, o que é caro é a carne. A não ser que a pessoa coma muitos industrializados. mas eu, por exemplo, faço meu leite de coco em casa, e isto é barato.”
O consumo e a oferta, de acordo com Analu, tem crescido. Mais opções estão presentes nos estabelecimentos, e até mesmo pessoas que não são veganas têm procurado alguns produtos. “Este ano tem sido diferente. Este estilo de vida tem sido mais visado pelas pessoas.”
Atualmente os hábitos de Analu não se restringem à alimentação. A modelo procura sempre roupas e cosméticos que não têm produtos de origem animal em sua composição, mas avisa que não é necessário fazer mudanças radicais. Não é necessário parar de utilizar tudo que se utiliza da noite pro dia para comprar tudo novo.
“Tem que ser aos poucos. Começa pelo sabonete, vai pra pasta de dente, depois para a maquiagem, e quando se vê, já se está usando muitos produtos sem matéria-prima animal. Claro que nem sempre é possível, às vezes a pessoa pode precisar de um remédio que foi testado em animais, por exemplo. Mas estou sempre atenta”, encerra.