Brusquenses em Londres avaliam saída do Reino Unido da União Europeia
Reino Unido pretende fechar as fronteiras aos imigrantes
Os brusquenses que vivem no Reino Unido passam por um momento de incerteza. Na semana passada, 52% dos britânicos votaram em um referendo para que a nação deixe a União Europeia (UE). A saída foi bastante conturbada e teve como um dos temas centrais a imigração no país. Há indicativos de que a política para os imigrantes possa mudar, afetando diretamente Robson Zen, o Binho, e Marcos Matignago, que moram em Londres.
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O Reino Unido – formado pela união da Inglaterra, País de Gales, Irlanda do Norte e Escócia – faz parte da UE. O bloco econômico reúne 28 países do continente europeu. Os cidadãos dessas nações podem transitar e morar livremente de um lugar para o outro, sem necessidade de passar pela imigração.
Isto quer dizer que os italianos podem morar em Londres, por exemplo, sem problemas. É assim que funciona hoje, mas deve mudar. Um dos temas centrais da campanha pela saída da União Europeia foi a imigração. Boa parte dos britânicos sente-se incomodada com o número de cidadãos de outras nações que vivem no país deles.
O problema, para a ala conservadora dos britânicos, é que a UE não é formada apenas por países ricos como a Itália, a Alemanha e a Holanda. Também compõem a Romênia, a Polônia e a Bulgária. Os habitantes desses países, então, aproveitam-se da livre circulação dentro do bloco econômico e vão morar no Reino Unido, onde as condições de vida são melhores. Para se ter ideia, os poloneses formam o maior grupo de imigrantes na terra da rainha Elizabeth II.
Se um governo conservador assumir o comando do Reino Unido, como tudo indica, há indicações fortes de que as regras de imigração para europeus e brasileiros irão mudar. Tanto Binho quanto Marcos estão incluídos no contingente de imigrantes europeus porque têm passaporte italiano. Por isso os dois vivem um momento de incerteza.
“Muita coisa pode acontecer”
Binho Zen mora em Londres, capital do Reino Unido e da Inglaterra, há oito meses. Ele conseguiu o passaporte italiano ainda no Brasil e foi para lá para realizar um sonho. Hoje, trabalha como assistente administrativo na empresa de Marcos Matignago. Na visão dele, a saída do país da União Europeia não será tão rápida ou brusca.
“Muita coisa pode acontecer, tem um abaixo assinado para ter um novo referendo”, diz. Os britânicos que não concordam com o Brexit (saída britânica em inglês) alegam que não houve informações suficientes para o público escolher de forma coerente sobre a saída ou permanência na UE. Além disso, Binho diz que o resultado do referendo deve ser ratificado pelo parlamento, e existe muita briga política sobre isso.
Apesar de ser atingido pelas possíveis mudanças na imigração, Binho não está apreensivo com relação ao futuro. “Não vai ser uma hora para a outra [a saída]. Mesmo que seja determinado que o Reino Unido saia, não será tão rápido. Fala-se em dois anos”, comenta. Ele também acredita que o país buscará acordos diretamente com países como Itália e Alemanha, se a saída se concretizar.
Sobre o preconceito em Londres, Binho diz que nunca foi constrangido. “Isso depende da pessoa, mas o meu inglês não é perfeito. Quando a gente fala, os ingleses fazem um esforço para ajudar, tem gente que não faz e te ignora, mas isso é raro”, diz.
A visão do empresário
Marcos vive em Londres há 16 anos e é empresário. Ele é dono de uma empresa que faz a parte elétrica em obras de novos imóveis e emprega vários imigrantes. A maioria dos empregados é de brasileiros, mas também tem alguns do Leste Europeu. Ou seja, uma mudança na legislação de imigração dos europeus o afetará diretamente.
A empresa de Marcos trabalha com contratos do governo, e com a instabilidade política, ele teme o que pode acontecer. “Também tenho imóveis aqui, eu coloquei um para vender porque o preço pode cair. Estão falando que pode cair uns 30%”, afirma. Na avaliação dele, o Brexit “é muito negativo” e é fruto de uma campanha de desinformação.
“O inglês fez uma campanha meio falsa, falaram só da imigração”, afirma. Para ele, a campanha foi muito focada naquilo que a UE tira do Reino Unido, mas não falaram tanto daquilo que é dado em retorno. Mesmo com o referendo e os problemas, Marcos está confiante e torce para que a União Europeia chegue à uma negociação com os britânicos para evitar um impacto muito grande na economia.