Brusquenses se dedicam à arte da cutelaria; conheça esse ofício
Miro Fischer e Egon Borchardt Junior fabricam instrumentos de corte de forma artesanal
Miro Fischer e Egon Borchardt Junior fabricam instrumentos de corte de forma artesanal
Cutelaria, armiaria ou amoaria são nomes para a arte ou ofício de fabricação de instrumentos de corte. Contudo, para além de apenas uma faca ou facão, a dedicação vai para a criação artesanal de designs arrojados, sem contar o uso de materiais especiais.
Este é o hobby do brusquense aposentado Miro Fischer, de 54 anos, que é morador de Nova Trento, e a segunda profissão do gerente de vendas brusquense Egon Borchardt Junior, 37.
Fischer conta que o passatempo começou há dois anos, quando mudou-se de Brusque para Nova Trento. Com o novo local e moradia, ele pôde abrir uma oficina, adquirir equipamentos e insumos necessários.
Entretanto, a ideia de iniciar o hobby vem desde cedo, quando trabalhava na indústria de metalmecânica. Nesta profissão, conheceu os aços especiais e as aplicações.
Ele conta que se arriscava a fazer algumas peças, mas não tinha conhecimento para dominar o ofício. Com o tempo, aprendeu como fazer um tratamento interno adequado, e iniciou a fabricação de peças para conhecidos e amigos.
“Com esses conhecimentos fica mais fácil, até para iniciar o hobby, que é um ramo muito prazeroso. Depois dos muitos desafios para apresentar um produto consistente ao mercado, hoje eu posso ter essas peças exclusivas e de qualidade a oferecer”, conta.
A cutelaria também atraiu Borchardt, que iniciou em meados de 2017, após o nascimento do filho. Para ele, a vontade era construir algo que fosse impactante na vida dele e que tivesse certa importância. Também, ele queria uma faca de churrasco.
“A minha primeira foi muito difícil, pois eu não tinha a ferramenta adequada, não tinha conhecimento. Ficou horrível, na verdade, muito feia, mas gostei do trabalho, muito inspirador, e me apaixonei pela arte da cutelaria”, conta.
A ideia de fazer um artefato que pudesse durar muitos anos conquistou o gerente de vendas. Em seguida, ele começou a pesquisar vídeos na internet sobre o assunto e aprendeu algumas técnicas.
Logo, produziu a segunda faca, que foi vendida na época e garantiu a compra de um equipamento para agilizar o processo. Egon não parou mais, após três anos, conta que já produziu mais de 200 peças.
“Comecei fazendo facas para amigos e fui profissionalizando. Entendo que a faca não é uma faca, ela é uma joia. Eu procuro trabalhar na linha da exclusividade”, ressalta.
Em um ano, investiu cada vez mais em equipamento e hoje a cutelaria é uma segunda profissão para ele. “Nem sempre a beleza da peça é fundamental, mas sim a durabilidade dela, estamos falando de um produto centenário”, comenta.
Com o esforço e a habilidade artística manual, eles produzem sem o auxílio de máquinas industriais. Apesar dos cortes nos dedos, Miro avalia que a dedicação vale a pena.
“A recompensa maior da cutelaria é poder fabricar uma peça de alto desempenho, bonita, que agrade aos olhos do cuteleiro e consumidor”, diz.
Borchardt destaca que a cutelaria é uma arte, ela só é feita por um artista e não pode ser industrializada. Para ele, é uma paixão que não existe fim, mas com aprimoramentos constantes.
“Eu penso, que como um artista eu tenho que deixar um legado. Eu faço facas como se eu fizesse um quadro”, completa.
O valor de uma faca artesanal varia dos insumos do aço e materiais usados. O valor inicial, por ser uma peça exclusiva, é em torno de R$ 300. “Depende da peça e do tempo empregado para a produção”, adianta Fischer.
Já Borchardt conta que o valor de venda das suas produções é de R$ 299 até R$ 1.599, dentre vários tipos de modelos. Ele explica que a criação de uma faca dura em média 30 horas. “Uma marca boa tem o seu diferencial. Então, o cuteleiro precisa fazer um produto de qualidade, pois existe um mercado para isso”, diz.
Contudo, para ambos, o valor vai além do financeiro. Por ser uma arte, Borchardt avalia que o resultado final, com uma peça única, é o mais impactante. Fischer conta que não há sensação melhor do que ver a satisfação do cliente.
Segundo Fischer, a ferramenta mais importante para se fazer as facas de cutelaria é a lixadeira profissional, como outras ferramentas elétricas.
Ele também lista as limas, discos de cortes e flap discs, que são discos de polimento, como ferramentas essenciais, assim como rodas de pano ou de couro, para a afiação final das facas, além de insumos de latão e inox, para acabamento do cabo.
Borchardt diz que utiliza principalmente dois equipamentos neste processo artesanal, uma lixadeira de cinta e uma marreta. “Moldar um aço é melhor na mão, com lixas e pequenas ferramentas, do que transformar isso em uma produção industrial”, acrescenta.
Fischer conta que, em alguns casos, reaproveita materiais descartados para a criação de peças. Matérias-primas que muitas vezes seriam destinadas ao lixo, ferros-velhos ou ao meio ambiente.
“Isso é muito importante também. Preservar o meio ambiente ao reutilizar um material descartado de forma irregular. No final, a reutilização resulta em um material excelente, que lá na frente vai representar muito para um cliente”, diz
Borchardt explica que não utiliza materiais recicláveis, apesar de ser uma vontade. Pois utiliza insumos novos, por seguir a linha de raciocínio de fazer uma joia. Para isso, utiliza aço 1095, certificado. Também tempera as lâminas, processo que deixa o material mais duro, aços reutilizados podem quebrar neste processo.
Para o futuro, a vontade de Miro é se profissionalizar ainda mais. O projeto para este ano é fazer facas com aços exclusivos para adentrar cada vez mais ao mercado nacional, com a marca Cutelaria Di Trento. Para interessados, o contato da cutelaria é (47) 99653-5183.
Para o futuro, Borchardt pensa em expandir, aumentar o número de equipamentos, que refletirá na criação das facas. Quem sabe, até se tornar uma empresa nos mesmos moldes de outras do ramo da cutelaria. Hoje, ele trabalha por encomenda. É possível entrar em contato com Borchardt pelo Instagram e Facebook, além do (47) 99220-4845.