Bullying motiva cirurgias para orelha de abano

Operação está entre as mais procuradas em dois consultórios médicos de Brusque

Bullying motiva cirurgias para orelha de abano

Operação está entre as mais procuradas em dois consultórios médicos de Brusque

O constrangimento e a pressão social fazem com que a otoplastia – a cirurgia corretiva para as chamadas orelhas de abano – seja muito procurada pelas pessoas. Nos consultórios de dois cirurgiões plásticos de Brusque este tipo de operação está entre “as mais pedidas”.

O médico Arthur Koerich D’Ávila afirma que existe procura por este tipo de procedimento. O normal nas cirurgias estéticas é que os pacientes sejam adultos incomodados com alguma parte do corpo. A exceção a esta regra é a otoplastia – a única operação cujo público é, em sua maioria, crianças. Geralmente, os pais vão em busca do médico assim que o filho está apto a fazer a correção nas orelhas, para tentar evitar a chacota por parte dos colegas.

Laércio Cadore, também médico que atende em Brusque, diz que a otoplastia está entre as operações mais buscadas no município. “Normalmente, é feita em crianças, mas também tem adultos. Eu diria que 60% são crianças e 40% outros. Nestes 40%, metade é de adolescentes e a outra metade é de adultos”, explica.

Bullying e pressão social

O fato de a otoplastia estar entre as cirurgias mais procuradas e, ainda por cima, ser realizada principalmente em crianças pode ser explicada por outro fator: a chacota e pressão social, hoje conhecidas como bullying. Os dois médicos consultados pelo Município Dia a Dia relataram que este é o o motivo mais importante citado nas entrevistas pré-operatórias.

Cadore diz que os próprios pais levam as crianças e falam do constrangimento. “Normalmente, falam que os amiguinhos comentam, pegam no pé. Os próprios pais se manifestam e dizem que existe um pedido dos filhos para fazer a cirurgia”, comenta o médico.

D’Ávila também já ouviu situações desta natureza em seu consultório. “As pessoas que têm orelhas em abano sentem-se mal e querem ter uma aparência normal. Enquanto não fazem a cirurgia, tem sua autoestima prejudicada. Sentem-se constrangidas e sofrem bullying na escola”, afirma. Segundo o cirurgião, existem casos em que o efeito da otoplastia vai além do puramente estético e alguns pacientes não só ficam mais confiantes como também apresentam melhora no rendimento escolar.

Segundo os médicos, a recuperação após a cirurgia – que é simples e leva, em média, uma hora e meia – é tranquila. O paciente toma anestesia local e recebe alta no mesmo dia. “Uma pergunta frequente é quando o paciente poderá voltar a jogar futebol ou praticar atividades físicas como vôlei ou natação. E a resposta é, em média, entre dois e três meses após a cirurgia”, explica D’Ávila.

É preciso aceitar as diferenças

O psicólogo Ademir Bernardino da Silva afirma que o bullying é o reflexo de uma cultura intolerante que existe na sociedade. Para ele, o constrangimento aos colegas, seja na escola ou fora dela, é uma questão social a ser combatida. “O interessante é acabar com o bullying não só com a orelha de abano, mas também com os óculos, a gordura, a magreza e por aí vai”, completa Silva, que também é coordenador do curso de Psicologia da Unifebe.

Silva diz que o impacto psicológico do bullying por causa de características físicas não necessariamente terá consequências na fase adulta. Tudo depende da intensidade e também do perfil de quem sofre. Se a pessoa é reprimida e sofre com o constrangimento, poderá ter problemas. Mas há quem seja imune a isto e, embora se importe, não tenha o perfil de vítima.

Para o especialista, somente em casos mais extremos é que a pessoa que passa pela cirurgia – criança ou não – precisa procurar ajuda psicológica. Nestas situações, a tendência é de que já existam sintomas, como a agressividade.

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