Caçador, uma espécie em extinção?
Ainda existem pessoas que desafiam o Ibama, o rigor da lei criminal e viajam grandes distâncias, atravessam divisas de estados deste enorme país-continente, para satisfazer a um capricho proibido pela lei criminal, só para saciar o desejo de fazer uma caçada. Como cantou o nativista João Chagas Leite, em sua bela canção, Alerta de Sangue, […]
Ainda existem pessoas que desafiam o Ibama, o rigor da lei criminal e viajam grandes distâncias, atravessam divisas de estados deste enorme país-continente, para satisfazer a um capricho proibido pela lei criminal, só para saciar o desejo de fazer uma caçada.
Como cantou o nativista João Chagas Leite, em sua bela canção, Alerta de Sangue, “Esses homens que caçam, que atiram e que matam, – fazendo da morte esporte e lazer, – não sabem, por certo, que um dia por perto – a Mãe-Natureza também pode morrer”.
Para essas pessoas, caçar é viajar, entrar na mata, caminhar por picadas, subir e descer encostas, fazer esperas atrás de tocos e moitas. É enfrentar chuva, sol e perigos, inclusive, a prisão, porque os fiscais do Ibama sempre estão de olho nesses infratores de espingarda a tiracolo. Tudo, para viver a emoção de disparar um tiro num veado, num cateto, numa perdiz ou num pássaro qualquer da nossa fauna nativa.
Depois de tantos anos de educação ambiental, o que leva esses caçadores do século 21, alvos da mira implacável dos órgãos de defesa ambiental, a insistir em suas caçadas clandestinas? Por que deixam suas casas e cidades, correndo o risco de serem presos, para matar um animal ou uma ave das nossas matas? Acho que não há uma explicação lógica para essa conduta que algumas pessoas ainda insistem em praticar.
Penso que o caçador deste novo tempo de preservação ambiental é um remanescente daquela geração a que pertenci e que cresceu vendo seus pais e avós caçando livremente, numa época em que caçar era um esporte comum dos finais de semana sem praia, sem futebol, sem TV e muito menos Internet ou WhatsApp.
Nos meus tempos de guri, em Tijucas, e não era diferente em outros lugares, vivíamos caçando de gaiola e de funda ou estilingue na mão. Boa parte dos adultos saía de casa aos sábados e domingos de madrugada, em direção às encostas da Mata Atlântica, para caçar de espingarda.
Creio que existe algo de misterioso na conduta desses caçadores de hoje. Por atavismo, carregam em suas entranhas o gene dos nossos ancestrais, caçadores por instinto e necessidade. Durante milênios, a caça garantiu o alimento indispensável para a sobrevivência da humanidade. Sem a carne, rica em proteínas, proveniente de uma fauna selvagem, saudável e abundante, é provável que o ser humano não tivesse resistido às adversidades impostas pela natureza e não tivéssemos chegado até os dias de hoje.
Penso que o caçador urbano é uma espécie em extinção. Com a educação ambiental, as próximas gerações já não conviverão com homens de espingarda nas mãos para abater um animal ou uma ave.