Calmo, distante da família e desempregado: quem é o suspeito de matar mãe e filha em Blumenau
Anderson Nakamura foi preso com cocaína em 2013 e, segundo a polícia, fornecia drogas a amigos e conhecidos
Anderson Nakamura foi preso com cocaína em 2013 e, segundo a polícia, fornecia drogas a amigos e conhecidos
Distante da própria família, desempregado e com passagem pela polícia por posse de cocaína. Foi assim que a Polícia Civil descreveu Anderson Tadashi Nakamura, 27, suspeito de ter matado Inês do Amaral, 57, e Franciele Will, 30, no ano passado.
Para a família das vítimas, no entanto, o rapaz é descrito como uma pessoa calma, tranquila e que tratava a todos com respeito. Não à toa a prisão dele ocorre mais de um ano após o duplo homicídio, que chocou Blumenau.
O crime permaneceu um mistério para a população por mais de 13 meses. Desde o início a polícia acreditava que o responsável pelos assassinatos era alguém próximo da família.
É o caso de Nakamura. Ele era amigo da família e frequentava a casa. A polícia ainda não tem clareza sobre a motivação dos assassinatos.
Após a entrevista coletiva desta quarta-feira, 22, em que a prisão foi anunciada à imprensa, os jornalistas tiveram um breve contato com Nakamura. Ele disse que estava arrependido, não sabia explicar o que tinha feito e justificou o crime afirmando que “xingaram minha família”.
Odair Will, filho e irmão das vítimas, nunca suspeitou que Nakamura seria o autor do crime. Amigo de Odair desde a adolescência, Japa, como era conhecido pelos amigos, convivia com toda a família.
“Ele era amigo nosso, da minha mãe, meu, da minha irmã também, quando ela vinha aqui em casa. A gente sempre se tratou muito bem e com respeito. […] Nunca demonstrou ser uma pessoa assim”, conta Odair.
A família sabia que Nakamura tinha passagem pela polícia. Em 2013, ele foi preso por posse de cocaína. Na casa dele, a Polícia Civil também encontrou uma balança de precisão.
O delegado Egídio Ferrari afirmou que Japa era conhecido por vender drogas no bairro. Ele fornecia pequenas quantidades para amigos e conhecidos.
Ainda segundo as investigações da Polícia Militar, Nakamura não tinha muito contato com a família. Nenhum familiar ou amigo sabia onde ele estava após o sumiço. Pouco tempo após o crime, Anderson se mudou para Lages, onde trabalhava em uma empresa madeireira.
Odair Will tinha 16 anos quando conheceu Anderson a partir de amigos em comum. A família sempre tentou ajudar Nakamura, que estava desempregado após o envolvimento com tráfico de drogas. Para colaborar, Inês sugeriu que ele fizesse serviços na casa dela em troca de pagamento.
O rapaz contava ter planos para o futuro, como comprar uma máquina de sorvete para ter renda própria. Nos fins de semana, Inês sugeria para o filho que convidasse o amigo para almoçar com eles. Odair descreve a relação da mãe com Japa como amigável.
“Ela adorava conversar com ele”, comenta.
Na coletiva desta quarta, os policiais informaram que Nakamura teve uma discussão com Inês naquela manhã. Na versão do assassino, a vítima teria xingado familiares dele.
“Minha mãe ajudou ele. A gente estendeu a mão pro cara pra ajudar e ele vem e me faz um negócio desses. A revolta é bem grande, mas uma sensação de alívio muito grande por saber que tá lá [no presídio]. Vai pagar pelo que fez”, desabafou Odair.
Nas semanas anteriores ao assassinato, Nakamura havia se distanciado da família. Odair conta que ainda via ele no bairro, porém com menos frequência. Por esse motivo, não suspeitou do envolvimento quando o amigo se mudou para Lages.
“Nem passou pela cabeça. Perguntei pra ele se ele viu algo de estranho. Ele visualizou no Facebook e não respondeu, mas eu estava com a cabeça tão cheia tentando imaginar alguma pessoa que tivesse uma atitude que encaixasse com o que aconteceu…”, conta Odair.
Uma das evidências que levou a polícia a acreditar que o autor do crime morava na região foi o fato de que ter fugido com o carro de Inês. Câmeras de segurança da rua mostraram que apenas uma pessoa entrou e saiu da rua a pé no período do crime.
A partir das características físicas do pedestre, ficou claro que Nakamura estava na rua naquela manhã. As roupas usadas por ele no dia do crime estavam também em uma foto publicada no Facebook.
Além disso, o trajeto feito pelo suspeito de carro demonstrava que ele conhecia a região. Ao invés de fugir pela Via Expressa, ele adentrou o bairro Tribess, passando por ruas pouco conhecidas.
A investigação mostrou que, antes de morar no Tribess, Nakamura já havia residido próximo da área onde o carro foi encontrado, na Itoupava Norte.