Caminhantes e ciclistas na Babel musical
Volto a escrever sobre o domingo na avenida Paulista. Dessa vez, minha caminhada me permitiu observar um impactante quadro da profusa diversidade humana. Vi uma multidão em movimento, um caleidoscópio de biotipos humanos, um amalgama de gente de todos os tipos e raças; de todas as cores, tamanhos e diferentes indumentárias. Vi as oito faixas […]
Volto a escrever sobre o domingo na avenida Paulista. Dessa vez, minha caminhada me permitiu observar um impactante quadro da profusa diversidade humana.
Vi uma multidão em movimento, um caleidoscópio de biotipos humanos, um amalgama de gente de todos os tipos e raças; de todas as cores, tamanhos e diferentes indumentárias.
Vi as oito faixas da larga avenida literalmente ocupadas por milhares de caminhantes como eu, velhos, pais e filhos, jovens e cadeirantes; vi ciclistas e esqueitistas serpenteando, passando rápidos, aproveitando a planura dos três quilômetros da avenida transformados em duas pistas de livre rolamento.
Outros tantos, vi parados, senhores das calçadas de ambos os lados porque, enquanto uns como eu, exercitam a liberdade da ociosidade, outros exercem o seu comércio semanal, vendendo de tudo um pouco de miudezas, em meio a uma profusão de peças de arte e artesanato, as grades de proteção dos edifícios das grandes corporações financeiras transformadas em cavaletes das telas de pintores de rua.
E, se trabalhar é preciso, vi palhaços a promover um suposto trabalho de teatro infantil, em favor da alegria e do entretenimento das crianças. Como golpes podem acontecer a qualquer momento e local, penso que a abordagem não passava de uma palhaçada de mau gosto, de um pretexto para pedir dinheiro aos pais das crianças abordadas.
Ao lado dos caminhantes e ciclistas vi passar uma tranquila “Caminhada e Cadeirada de Conscientização da Esclerose Lateral Amiotrófica”. O cortejo, que mais parecia uma procissão religiosa, reunia pessoas de todas as idades e matizes, que caminhavam lentamente e portando brancos balões da paz.
Acabei conscientizado de que esta doença, conhecida pela sigla ELA, é um tipo mais raro e grave do que a esclerose múltipla.
Outra procissão vi também passar. Esta sim, religiosa, a Marcha para Jesus, da igreja Renascer. A grande maioria, de jovens, vestindo camiseta com a figura de Cristo no peito.
Estranha e contrastante coincidência, notei que as centenas de fieis, cantando um salmo de louvor, passaram rente a um sócia de Elvis Presley, vestido ou fantasiado de “rei do rock”, que dedilhava sua estridente guitarra e não parou de vocalizar uma canção imortalizada pelo ídolo, tudo em plena avenida da liberdade profana.
E por falar em música, além do sócia de Elvis, muitos outros imitadores de ídolos musicais lá estavam, cantando e tocando seus instrumentos, em muitos casos, abusando dos tímpanos dos passantes.
Na minha caminhada de hora e meia, escutei a voz de Tim Maia, de Nelson Gonçalves, dos Beatles, de um saxofonista cabeludo tocando jazz. Vi e ouvi bandas, muitas bandas de rock, músicos e cantores de forró e samba, nessa Babel de ciclistas, caminhantes e de acordes musicais sem limites, que se estenderia por todo o domingo na Paulista.
O ponto alto dos eventos, infelizmente, não pude assistir. À tarde, ainda aconteceria a apresentação da Banda de Fusileiros Navais.