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Caminho Suave

Minhas professoras do ensino fundamental nunca ouviram falar
em construtivismo, sociointeracionismo, pedagogias progressistas, consciência
crítica ou qualquer desses jargões que se tornaram comuns no discurso
pedagógico das últimas décadas. Assim, suas aulas eram focadas no essencial:
ensinar-me a ler e escrever e desenvolver essa habilidade ao máximo. Eu
precisava aprender, o mais rápido possível, a dominar os sinais linguísticos e
trabalhar com eles, formando palavras, frases, redações e mais redações,
exercitando até a exaustão a ortografia, com ditados e mais ditados, além de
usar o caderno de caligrafia. E com o método mais tradicional e eficaz (e também
o mais criticado nos anos que se seguiram) eu aprendi a ler e a escrever, e li
muito, e escrevi muito, e continuo lendo e escrevendo. A cartilha “Caminho
Suave”, de saudosíssima lembrança, ajudou-me a, no período de um ano, dominar
praticamente todas as possibilidades de formação de sílabas, os dígrafos e as várias
outras nuances da nada fácil língua portuguesa. Tempos depois, já na faculdade,
ouvia sem entender muito bem a opinião de teóricos famosos, que desdenhavam do
método que funcionou tão bem para mim, porque ele não ensinava a ver a
realidade com olhos críticos, ou qualquer coisa parecida com esse palavrório
vazio.

Faz tempo que eu percebi que essas novas teorias, além de
acrescentarem pouco à evolução do pensamento pedagógico, têm provocado uma
queda vertiginosa da qualidade e da eficácia da formação intelectual no Brasil.
Os últimos dados da UNESCO, que nos colocam em vergonhosa posição quanto às
taxas de analfabetismo, confirmam as suspeitas. E não se trata apenas do número
de analfabetos que não frequentaram escola, o que é condenável do ponto de
vista político, mas justificável do ponto de vista pedagógico, pois a escola
não pode alfabetizar quem não está lá. O pior é a constatação de que 75% dos
brasileiros (incluindo os escolarizados) são considerados analfabetos
funcionais. Isso significa que estamos “cozinhando” as crianças por anos e anos
na escola, sem lhes dar o mínimo necessário para que possam ser consideradas
plenamente alfabetizadas. Urge repensar inteiramente nossas teorias e
processos, aproveitando o que houver de bom nas novas ideias, mas, acima de
tudo, recuperando a excelência que a educação mais antiga tinha, e que jogamos
no lixo sem avaliar direito. Se não estancarmos esta sangria hoje, caminharemos
para um obscurantismo educacional que dificilmente poderá ser revertido.