João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Campanha da Fraternidade 2022

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Campanha da Fraternidade 2022

João José Leal

Por causa do coronavírus e sua espada de doença e morte, esta quarta-feira de cinzas amanheceu sem os últimos acordes e gritos carnavalescos. De qualquer forma, o tempo de quaresma está começando para nos fazer refletir sobre a Campanha da Fraternidade. Neste ano, a igreja católica escolheu o tema atual e importante, “Fraternidade e Educação”. É uma questão que vem dividindo a sociedade civil.

De um lado, estão os que defendem o modelo tradicional de escola, vista como um espaço de disciplina e de respeito aos valores educacionais já consagrados por práticas pedagógicas capazes de conduzir o processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos curriculares com a necessária eficiência. Não rejeitam mudanças nem reformas. Mas, acreditam que elas devem ser implantadas de forma gradativa e oportuna, de forma a garantir que a educação mude, sim, mas para melhor.

Do outro lado da trincheira, soam as vozes da Nova Escola do século 21, pregando a necessidade de um olhar diferente sobre a educação, principalmente sobre a importante relação docente/aluno. Para tanto, é preciso abandonar os antigos conceitos educacionais que orientam a atual prática de ensino-aprendizagem. Nesse novo modelo, o aluno deve ser visto como ator importante de construção coletiva do seu próprio saber. Nada de carteiras enfileiradas, de aulas expositivas, de alunos calados, nada de toques de sineta. Tudo isso simboliza a velha educação autoritária, ineficiente e deformadora do potencial de competências e habilidades.

O problema, no entanto, não é mudar porque a educação de hoje já não é a mesma de 20 ou 50 anos atrás. Afinal, ninguém é contra reformas desde que necessárias, oportunas e contribuam para melhorar o sistema educacional existente. O que não se pode aceitar é que, em nome de uma nova escola do século 21, princípios básicos da educação sejam ideologizados por um olhar reducionista e que, principalmente, na área das ciências sociais, conteúdos curriculares sejam pensados e elaborados de forma sectária, para dar nova leitura dos fatos históricos sem a indispensável isenção científica.

Tenho lido críticas e denúncias sobre conteúdos curriculares que desqualificam antigos personagens da história brasileira, agora, rotulados de representantes da classe dominante, para enaltecer a figura de outros personagens vistos como heróis populares e injustiçados pela história oficial. Modelos econômicos e políticos já praticados com resultados desastrosos têm sido apresentados como solução para os nossos problemas. É preciso, sim, resgatar certos personagens da nossa história, mas sem discriminar ideologicamente outros nomes também importantes.

É evidente que essa prática pedagógica contraria os valores maiores da educação, afastando-a dos seus princípios básicos previstos no artigo 3º, da LDB, que consagra o pluralismo de ideias e a liberdade de aprender e ensinar. Somente respeitando esses princípios, estará a educação brasileira preparando nossa juventude para o exercício da cidadania e do trabalho. E, como prega a Igreja, para uma sociedade mais fraterna!

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