João Vítor Roberge

Campeão da Superliga de vôlei, Maurício Thomas sonha com retorno a Brusque

Treinador está impressionado com modelo de investimento de seu atual clube, Taubaté, e almeja treinar time profissional em casa

Quando Lucarelli aplicou uma cortada impiedosa para cima da defesa do Sesi, em 11 de maio, o Taubaté (SP) comemorou seu primeiro título da Superliga Masculina de vôlei, e o ex-treinador da Abel, Maurício Thomas, comemorou mais uma conquista em sua extensa carreira, desta vez, como auxiliar do técnico Renan Dal Zotto. A equipe paulista estava longe de ser favorita ao título e, nas semifinais, havia eliminado o Sada Cruzeiro, interrompendo uma sequência de cinco títulos e oito finais seguidas dos mineiros.

De férias em Brusque, onde mora sua família, Maurício Thomas acompanha os treinos da Abel, equipe da qual é presidente. Já foi técnico do time adulto em 2017, quando terminou no segundo lugar da Superliga B feminina, e ficou em quarto lugar da Superliga com a Brasil Telecom em 2008 e 2009.

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O brusquense nascido em Brasília já renovou com o Taubaté para a temporada 2019-2020, mas sonha com um dia em que retorne para casa como técnico de um time competitivo na Superliga. “Esta arena [Brusque] merece um time, a Abel merece estar na elite do voleibol brasileiro. Nosso objetivo é a formação, mas é um grande sonho estar no cenário nacional”, relata.

Em um esporte repleto de times efêmeros que surgem com patrocinadores poderosos que desistem de suas equipes após alguns anos, Maurício Thomas afirma ter encontrado em Taubaté um modelo diferente, com respaldo de legislação municipal. Com jogadores de renome como Lucão, Lucarelli, Vissotto e os argentinos Facundo Conte e Nicolás Uriarte, o auxiliar teve a missão de treinar uma equipe bem estruturada, mas que tinha pela frente adversários mais poderosos.

Impressionado com o que encontrou na cidade de pouco mais de 300 mil habitantes, Thomas acredita que é possível repetir a fórmula em outras cidades: Brusque, por exemplo.

Modelo
O Taubaté possui, entre seus patrocinadores, a Fundação Universitária Vida Cristã (Funvic), a farmacêutica EMS e a Havan. Uma lei de incentivo fiscal municipal criada em 2013 permite a captação de recursos de impostos, sendo até 50% por meio de amortização do Imposto Sobre Serviços (ISS) e do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Junto à lei, há o Fundo de Apoio ao Desporto Amador de Taubaté (Fadat), que recebe aporte financeiro de investidores privados.

Desde 22 de fevereiro trabalhando no Taubaté, Maurício Thomas se impressionou com a força do apoio público no município. Afirma que, desta forma, o time não corre tantos riscos de acabar como quando um único patrocinador ou um pequeno grupo assume a equipe, podendo fazer e desfazer uma equipe a qualquer hora.

“Somos muito gratos a todos os patrocinadores da Abel. Outras empresas também podem, tentamos despertar este interesse. Saúde, educação, segurança, são importantes, prioridades, claro. Taubaté não tem uma arena como essa, por exemplo, mas tem time de vôlei, futebol, handebol, projeto nas escolas públicas.”

Na opinião do treinador multicampeão, a captação de recursos e a busca por patrocinadores não necessariamente deveria ser realizada por integrantes das equipes. Caberia, então, ao poder público enxergar no esporte uma ferramenta de transformação social e propaganda do município.

“Vamos de sacolinha nas empresas, pedimos por favor, nos humilhamos, algo que talvez não seja nossa obrigação. Um professor pago para dar aula aqui [na Arena] não é favor, não é mais que a obrigação. O espaço é público, é para a sua população. Talvez ninguém vire jogador, mas seguirão suas profissões, fogem de más influências, seguem exemplos.”

Thomas acredita que Brusque tenha tradição e potencial suficientes para seguir os passos de Taubaté. Faltaria, em suas palavras, vontade e uma visão sobre esporte além de gastos. “Sabemos das dificuldades, entendemos as prioridades. Há muita tradição aqui. Esta tradição não tem sido mantida, nossa arena é ociosa. Se não é da vontade, não adianta. Todas as modalidades, todos os esportes lutam, não falo só do vôlei.”

A saída sugerida é a Havan, um dos patrocinadores da Abel, que apoia também diversas equipes esportivas de Brusque e do Brasil, incluindo Taubaté. Maurício Thomas questiona se há incentivo suficiente para que a empresa brusquense possa alavancar uma equipe esportiva profissional. “Ele [Luciano Hang] é apaixonado pela cidade, mas ele não tem as mesmas condições que em outros lugares. Tem que tentar proporcionar.”

Pós-Turquia
No Vakifbank, time de futebol feminino da Turquia, Maurício Thomas conquistou diversos títulos, inclusive da Champions League, em maio de 2018. Para voltar a sair do Brasil apenas com uma proposta muito boa em um ambiente de fácil adaptação para filhos e esposa, que tiveram dificuldades na Turquia.

Querendo voltar ao Brasil, acertou com a equipe feminina de Londrina, que havia acabado de subir à Superliga A, a elite do vôlei brasileiro. Com a saída do principal patrocinador, o time se desmanchou. Para manter a vaga, a equipe, com Mauricio Thomas, conseguiu uma mudança para Balneário Camboriú, onde teve um apoio importante da torcida.

Mas, sob condições abaixo das planejadas, incluindo cinco meses de salários atrasados, não evitaria o rebaixamento na temporada 2018-19. “Era o menor orçamento da liga, muita dificuldade, dependendo de parceiros e de dinheiro de bilheteria”, relata.

Na metade do segundo turno, o técnico da seleção brasileira masculina, Renan Dal Zotto, estava para conciliar seu cargo com a função de técnico no Taubaté na Superliga A masculina. Chamou um velho conhecido para ser auxiliar técnico: Maurício Thomas.

Do nada ao tudo
Com os trabalhos no Taubaté, Maurício Thomas abriu mão do cargo de técnico da seleção brasileira juvenil feminina, que disputa o Mundial da categoria em 2019. “Entrei em contato com o Zé Roberto Guimarães, técnico da seleção principal, e disse que tinha que me ausentar. Em ano de Mundial, não dá para assumir pela metade.”

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O brusquense é responsável pelos treinamentos em todas as partes, como bloqueio, saque, ataque e movimentação tática, dividindo a parte estratégica com Dal Zotto. “A ideia era dar um refino técnico ao time, que era necessário. Era um time bom, mas com muitos problemas, jogadores de muito alto nível, mas desacreditados.”

Após terminar a primeira fase na terceira posição, a equipe passou pelo Vôlei Renata, de Campinas, em duros confrontos das quartas de final. Nas semifinais, foi a vez de passar pelo grande favorito, o poderoso Sada Cruzeiro, pentacampeão consecutivo, vice-líder na primeira fase.

A final, contra o Sesi, melhor time da primeira fase, foi definida no quinto jogo. O placar foi 3 sets a 1, com parciais de 25-21, 25-22, 21-25 e 25-20. “Fomos recebidos em caminhões de bombeiros, era uma cidade inteira envolvida, por sete anos esperando este título. Foi uma grande conquista. Não éramos favoritos, mas dentro do grupo, sabíamos que seria possível”, lembra.