Candidata a deputada federal: Katia Costa defende desarmamento e melhor gestão de estatais
Filiada ao PSOL, bibliotecária afirma que buscará "acabar com os privilégios"
Atuou ainda como conselheira do Conselho de Cultura de Brusque, e suplente do Conselho do Idoso e do Conselho de Patrimônio Histórico do município.
Ela participa pela primeira vez de um processo eleitoral. Afirma já ter sido convidada outras vezes, até por partidos de direita, opostos ao PSOL, mas tinha medo de concorrer. Hoje, considera-se de esquerda.
“Sempre fui voltada a fazer o bem para as pessoas, pensar no outro, em como a gente pode melhorar o convívio entre as pessoas. Se isso é ser de esquerda, acredito que o caminho é na esquerda”, afirma. Nessa entrevista, a candidata fala sobre suas propostas de governo.
Assista na íntegra:
Por que decidiu ser candidata a deputada federal?
“Assim como a maioria dos brasileiros, vendo toda uma trajetória de coisas erradas acontecendo no país, vi que só através do partido político a gente consegue entrar na política de fato. Eu faço uma política social, mas para efetivar leis e realmente defender o povo, tem que estar na Assembleia Legislativa ou na Câmara dos Deputados, por isso resolvi entrar na política”.
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Caso eleita, qual o primeiro projeto de lei pretende propor?
“Coloquei compromissos como metas, compromissos com o cidadão, um deles é o de acabar com os privilégios. Algumas pessoas acham utópico, que ninguém vai conseguir nunca fazer. Já está tramitando alguma coisa no Congresso, vou verificar qual o teor, como ele está escrito e realmente lutar contra os privilégios. Um projeto de lei que acabe, por exemplo, com o auxílio-moradia, com a quantidade de assessores”.
Considera que tem conhecimento técnico suficiente para analisar a execução do orçamento federal?
“Não sou contadora nem sou economista, sou bibliotecária. Uma das coisas que aprendi na minha trajetória foi procurar se informar, procurar as pessoas que vão me auxiliar nesta questão de economia. A gente vai fazer análise em conjunto com as pessoas que vão me assessorar. Quantos candidatos tem esse know how, quantos prefeitos, quantos senadores tem? Nem todos que estão sendo candidatos têm”.
Como seria seu investimento dos recursos de emendas parlamentares? Elas seriam aplicadas 100% na região?
“Eu sempre falo que a gente, quando trabalha por um estado, trabalha por municípios, não só por uma região. Imagina se todos os deputados do Oeste forem os eleitos, não vão olhar por mais nada em Santa Catarina? Estando lá, a ideia é unir forças pelo estado, pelo país, todas as regiões têm que ser atendidas. Obviamente que se tem alguém do Oeste que puxa coisas para o Oeste, e eu estou pelo Médio Vale, vou conversar e trazer coisas para a região. Eu sei que é algo ruim de falar, mas é algo histórico, a gente vê sempre alguém puxando para um lado. Eu não vou mentir, as pessoas querem que eu fale que vou trazer verbas para Brusque, mas e as outras cidades, como é que ficam? Eu não vou ter esse mesmo discurso, os políticos que estão aí fazem esse mesmo discurso sempre”.
Que medidas de economia de recursos pretende tomar no seu gabinete? Está disposta a abrir mão de benefícios?
“Os compromissos que eu elenquei incluem redução total de assessores, tem 25 assessores [por deputado]. Precisamos de algum contador, alguém na área de economia, um bom advogado. Vai ter que ter alguém de confiança para estar do seu lado. Também têm as verbas de gabinete, que acho exorbitantes. Tudo já é pago pelo governo, por que ainda tem uma verba extra? Nisso a gente vê político, muito antes da campanha, viajando pelo Brasil com dinheiro público, e se diz não corrupto. Um deputado vai receber auxílio-médico pago por nós, ele tem um salário muito bom e pode sim pagar um plano de saúde”.
A senhora não tem experiência política. Por que iniciar a carreira como deputada federal e não como vereadora?
“Já me convidaram como candidata a vereadora, inclusive em partidos de direita, e sempre achei que não era a hora. As pessoas dizem: ‘quando chegar lá, você vai ser corrupta’, então havia esse medo. Em dezembro surgiu o convite e achei que estava na hora de encarar”.
Algumas reformas devem chegar à Câmara dos Deputados. Qual é a mais importante e qual é o modelo ideal?
“A reforma que tem que ter é a reversão da PEC 55 [do teto de gastos públicos], que congelou investimentos. Saúde e Educação não podem ficar com verbas congeladas. Temos que trabalhar juntos para que isso seja repensado, independente do governo. A Reforma Trabalhista está precarizando o emprego, a gente tem que rever isso. Na Reforma Política, o modelo político de hoje, que o PSOL defende, é a da lista mista”.
Como acredita que é possível melhorar as finanças na União?
“Temos que fazer uma grande auditoria, cobrar das grandes empresas, 1% da população tem o grande montante de dinheiro do país, muitos não pagam os seus impostos, recebem renúncia fiscal, por aí que se pode começar”.
Como sua campanha está sendo financiada?
“Tenho apoiadores amigos, o financiamento em dinheiro ainda não abrimos a vaquinha, estou pensando se realmente vai valer a pena. E temos o fundo partidário, que é um valor mínimo para cada um e é com isso que a gente vai trabalhar”.
Qual foi o principal erro da atual legislatura da Câmara dos Deputados?
“O maior erro é ter deixado o [Michel] Temer lá, ter feito o golpe, ter tirado uma mulher [Dilma Rousseff] do poder. Vários governadores fizeram a mesma coisa que ela fez e estão no pleito”.
O STF começou a discutir a descriminalização do aborto. Se um projeto aportar na Câmara, votará contra ou a favor?
“Eu sou a favor da descriminalização, muitas mulheres morrem. Uma política pública direcionada para a saúde da mulher tem que ser feita, muito mais do que já é feito”.
Em relação ao projeto de lei que revoga o Estatuto do Desarmamento, quando ele for à votação, será a favor ou contra flexibilizar a posse de armas?
“Sou totalmente contra o armamento, as pessoas só vão acabar se matando. Já conheci pessoas que são tecnicamente preparadas e que não tem o psicológico preparado para ter uma arma, imagina o cidadão dito de bem ter uma arma em casa. A gente quer que as pessoas sejam boas e não ruins. A pessoa que tiver uma arma não vai ser boa, vai ser ruim. Aí podem me dizer, mas e se tu fores assaltada? Temos que trabalhar políticas públicas para que a segurança seja boa, para que a educação realmente aconteça, para que se tenha uma qualidade de vida mínima dos presídios. As pessoas pensam que jogar o bandido lá é o melhor caminho. Tem vários aspectos que tem que ser tratados no país, antes do armamento. Não é esse o caminho”.
Existe uma premissa de que parte da esquerda no Brasil está preocupada mais com pautas periféricas, como a descriminalização das drogas, do que com temas centrais, como o desemprego. Você concorda com essa visão?
“Não, a gente está preocupado com tudo, o PSOL quer geração de emprego e renda, quer que tenha educação, quer cuidar das pessoas”.
Entre as suas propostas de governo está “defender as empresas públicas”. O governo pode gerir essas empresas com a mesma eficiência que a iniciativa privada?
“Eu sou servidora pública há nove anos, meus pais foram servidores públicos, acredito sim no serviço público de qualidade. Algumas máquinas estão inchadas ou o serviço não está eficiente. Acredito na Petrobrás, nos Correios, que tem pessoas que dão o sangue por aquilo. Acredito que se gerenciar corretamente, se não colocarem pessoas que não devem estar ali, por exemplo os assessores. Se tem um lá que não está trabalhando, que está vendendo açaí, essas coisas é que não podem acontecer. Se tem déficit é porque alguém não gerenciou direito. Uma empresa privada também afunda porque foi mal gerenciada. Tanto no público quanto no privado, se não for bem gerenciado vai morrer”.
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Consta nas suas propostas “incentivar a sustentabilidade e dizer não ao agrotóxico”. É possível fazer agricultura em larga escala sem agrotóxico, já que a agricultura orgânica tem um custo maior e um alcance menor?
“A agricultura orgânica tem um custo elevado porque em vez de investir na orgânica estão investindo nos venenos. Não sou estudiosa da área, mas o que entendo é que se a gente investisse mais, a agricultura orgânica seria muito beneficiada e barateada. Estão facilitando para o agronegócio que coloque mais veneno, para a produção ainda ser maior, e as pessoas que trabalham com orgânicos estão sendo quase que marginalizadas. É uma questão prioridade, o que vai ser melhor para o povo, comer veneno ou comer comida boa”.
Apenas 1% da população concentra o “grande montante” de dinheiro do país?
Não procede. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, uma minoria mais rica formada por 10% dos brasileiros detinha 43,3% da renda total do país. Na outra ponta, os 10% mais pobres detinham apenas 0,7% da renda total. Considerando apenas os 1% que ficam no topo, a renda média foi de R$ 27.213 por mês – 36,1 vezes a média recebida pela metade mais pobre da população, que ganhava R$ 754 por mês.
No mundo, 82% de toda a riqueza gerada em 2017 ficou nas mãos do 1% mais rico da população, enquanto 3,7 bilhões de pessoas não obteve nada. Ao longo dos últimos 25 anos, enquanto o 1% mais rico deteve 27% do crescimento da renda global, a metade mais pobre do mundo ficou com 13% de cada dólar inserido na economia. Os números são da Oxfam, confederação de ONGs presente em 94 países, que trabalha para a redução da desigualdade.
Cada deputado federal tem direito a 25 assessores?
Exato. Cada gabinete pode contratar até 25 secretários parlamentares, que prestam serviços de secretaria, assistência e assessoramento direto e exclusivo nos gabinetes dos deputados, em Brasília ou nos estados.