Candidato à Prefeitura de Brusque pelo PT, Gustavo Halfpap explica suas propostas
"Não podemos prometer coisas impossíveis de cumprir", afirma Halfpap
Gustavo Halfpap (PT) fez parte do governo de Paulo Eccel (PT), interrompido em 2015, por decisão judicial. Antes disso, porém, o governo já vivia fases de turbulência política. Algumas ações previstas não puderam ser feitas, por falta de apoio na Câmara, como o financiamento internacional para construção de ponte e de um anel viário.
Com base nesse histórico recente de embates com a Câmara, o primeiro questionamento dirigido a Halfpap, nesta sabatina, está relacionado à governabilidade, caso ele seja eleito. Para ele, se tratam de momentos distintos, e não deve haver problemas no trato com o poder Legislativo.
“Eu tenho angariado um respeito dos vereadores e com muitos deles tenho uma boa relação”, afirma.
Ele diz que a época em que os projetos da ponte do Centro e do anel viário foram negados pela Câmara, se tratava de um período “mais quente” da política local. “Penso que hoje esses mesmo vereadores já teriam outra posição, por conta do fato de que o trânsito tem crescido e tem sido uma reclamação constante”.
Halfpap adiantou também que não fará “conchavos” em garantia de apoio político. Afirma que “essa troca mal vista de apoio por cargos deve ser evitada”.
Admite, porém, que negociações pontuais que incluem a participação de vereadores no governo podem ser feitas.
“A construção de apoios é importante, faz parte do jogo democrático, mas isso deve ser transparente. Se temos o apoio de um vereador que comunga de interesses em comum, ele pode, evidentemente, participar do governo”, argumenta.
Em outro ponto da entrevista, Halfpap falou também sobre outro dos principais entraves da gestão pública: as obras de prazo e custos intermináveis.
Para evitar isso, defendeu projetos melhores, que não precisem ser readequados, o que minimiza os atrasos nas obras. Também relembrou que, quando esteve no governo, três empresas foram afastadas das obras que tocavam, por falta de qualidade nos serviços e pedidos de aditivos desnecessários.
“Tivemos muito rigor quanto a isso, e me parece que é o caminho correto”, discursa.
Saneamento e esgoto sanitário
Halfap diz que é impossível dissociar o desenvolvimento de Brusque do início do tratamento de esgoto sanitário. Lembrou que todos os candidatos estão defendendo isso e que, com ele, não é diferente.
Lembrou que as redes de manilha implantadas na década de 1990 até hoje dão dor de cabeça para a prefeitura, já que dificultam buscar novos recursos federais para implantar o sistema de tratamento de esgoto.
“O que era para ser um avanço nunca funcionou, e hoje impede a busca de recursos, porque nos cadastros oficiais Brusque tem um esgoto financiado com recursos da União”, afirma.
Ele diz que tem o compromisso de iniciar esta obra, a qual estima que o custo total esteja entre entre R$ 250 milhões e R$ 400 milhões.
Sobre a participação privada, o candidato diz que não há a menor possibilidade dela acontecer na captação e distribuição de água, que cabe, atualmente, ao Samae.
No tratamento de esgoto, entretanto, afirma que essa é uma possibilidade, desde que referendada pela sociedade.
Prioridades em saúde
Questionado sobre investimentos em saúde, Halfpap dividiu-se entre destacar investimentos feitos no governo Eccel, elencar prioridades e tecer críticas às propostas de concorrentes, algumas classificadas por ele como fora da realidade.
O candidato disse que uma das reclamações mais constantes é sobre a demora em consultas, exames e cirurgias. “Temos que aperfeiçoar isso, é possível, muitas vezes é questão de organização e gestão, comprar cotas maiores de exames, isso é possível dentro do orçamento do município”.
Ele criticou alguns de seus adversários, sem citar nomes. “Eles falam algumas coisas que não têm pé na realidade, desconhecem o orçamento do município quando dizem que vão aumentar em R$ 20 milhões o orçamento da saúde”.
Argumenta que, quando se aumenta o orçamento da pasta, é preciso tirar dinheiro de outras. “Tem que continuar investindo, mas não é tão simples assim. O orçamento é limitado, as receitas tem crescido em ritmo menor, então não podemos prometer coisas impossíveis de cumprir”.
Fila de espera nas creches
O candidato elenca vários fatores que são determinantes para se ter, hoje, uma fila de espera por vagas em creche em Brusque. Cita o crescimento populacional do município, a vinda de novas empresas e o movimento migratório.
“Por mais que invista, não dá conta de suprir a demanda”, avalia.
Ele defendeu a gestão de Paulo Eccel, a qual, segundo o candidato, pegou a cidade com duas mil vagas em creche, e entregou com 5 mil. Argumenta que, com base nesse trabalho já feito, é possível diminuir a demanda, se eleito.
“Temos tranquilidade de afirmar que é possível fazer frente à demanda, não zerar, mas fazer frente”, disse Halfap, que defendeu ainda a adoção de uma fila de espera “clara e transparente”.
Melhorias no transporte coletivo
Gustavo Halfpap fez parte do governo que lançou a licitação para renovação da concessão do transporte coletivo em Brusque, projeto este que, por problemas judiciais, ainda não saiu do papel. Ele ressalta, contudo, que, ainda que haja a instabilidade jurídica, o consórcio responsável não deixou de fazer investimentos.
“Mas é evidente que temos que desembaraçar isso, procurar o Judiciário, temos que apostar no transporte coletivo. Brusque, pela peculiaridade topográfica, tem muita dificuldade de implantação de novas ruas, e desapropriação envolve muitos recursos, os imóveis são caros, temos dificuldade de ampliar a malha viária”.
Halfpap se propõe, se eleito, a trabalhar pela implantação de linhas circulares, que garantam ônibus pelo menos de meia em meia hora dos bairros ao Centro.
Segurança e guarda patrimonial
Halfpap afirma que descarta a criação de uma guarda patrimonial, armada ou não, como tem sugerido alguns de seus oponentes. Afirma que o município já assume competências que não são suas, mas do estado, no caso da segurança pública.
“Nós temos que dar conta da escola, da creche, da saúde, e cada vez que tiramos recursos dessas ações estamos desonerando o estado”, avalia.
Ele relata que a criação de guarda de trânsito, pela prefeitura, já foi uma medida para aliviar o trabalho da Polícia Militar em Brusque, mas avançar em relação a isso está fora de questão.
“Criar novas incumbências facilita o trabalho do estado. Vejo com restrição a questão da guarda patrimonial, vai deixar o sujeito lá, desarmado, eu afasto essa questão, porque não vejo muita utilidade”.
Ele voltou a criticar seus adversários, pelas afirmações de que iriam colocar câmeras de monitoramento por toda a cidade.
“Vejo candidatos dizendo que vão botar câmeras em todos os locais, e quanto mais câmeras há, mais pessoas tem que monitorar, do outro lado, não é tão simples assim colocar câmeras”.
Casa de passagem
Gustavo Halfpap fez parte do governo que implantou a famigerada Casa de Passagem, abrigo fechado durante a gestão de Roberto Prudêncio Neto (PSD). Questionado se pretende reabri-la, caso eleito, ele disse que não.
“Temos que dar tratamento humanizado às pessoas, mas como será feito eu não adianto. Não vai ser naquele local, assumo o compromisso com a comunidade, não queremos reabrir uma ferida”, afirma.
“Mas temos a responsabilidade de dar tratamento humanizado aos moradores de rua, temos que qualificá-los, fazer os tratamentos, mas também abrigá-los, tivemos um inverno bastante rigoroso, as pessoas tem que ter diariamente acesso a um banho, e uma cama”, explica o candidato.
Comando político no Samae
Um dos questionamentos dirigidos ao candidato trata da gestão do Samae. Nos últimos anos, a autarquia represou projetos devido às trocas no comando da prefeitura.
A cada novo gestor, uma ideia nova. A estação de tratamento que seria no Centro, por exemplo, foi cancelada. Halfpap, entretanto, diz que não vê tanta influência política na autarquia.
“Assumo o compromisso de dar gerenciamento técnico ao Samae, é uma questão de estratégia. Não vejo um caso tão grave de instabilidade política no Samae”.
Ele diz que é preciso investir com urgência na nova estação de tratamento e reitera que “não vê uma contradição entre a gestão política e o desempenho técnico da autarquia”.
Corte de secretarias
O candidato diz que é possível reduzir ou fundir secretarias municipais em Brusque, mas avalia que isso é uma questão particular de cada gestor, de sua forma de trabalho, e não necessariamente está atrelado ao corte de custos da máquina pública.
“O discurso que pode agradar um eleitor desatento é o de reduzir secretarias, mas não é bem assim que funciona. De fato, as estruturas da prefeitura vão continuar. Como vamos justificar que um município do porte de Brusque não tenha ações culturais?”, argumenta.
Ele diz que, se eleito, há possibilidade de junção de algumas funções, “para aprimorar, mas muito mais fruto do modelo de gestão do que redução de custos”.
O custo de um secretário não vai impactar substancialmente. Vejo com bons olhos algumas reduções, mas não que a redução sirva à economia ou a precarização dos serviços”, conclui.
Confira entrevista na integra: