Canonização de Santa Paulina completa 20 anos; relembre a trajetória da primeira santa brasileira

Boa parte da vida de Santa Paulina foi em Nova Trento, onde iniciou a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição

Canonização de Santa Paulina completa 20 anos; relembre a trajetória da primeira santa brasileira

Boa parte da vida de Santa Paulina foi em Nova Trento, onde iniciou a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição

Há 20 anos, em 19 de maio de 2002, o Brasil celebrava a canonização de Madre Paulina, a primeira santa brasileira. A cerimônia de canonização aconteceu na praça São Pedro, no Vaticano, e foi presidida pelo Papa João Paulo II, que a nomeou como Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus.

Amábile Lúcia Visintainer, nome de batismo de Santa Paulina, nasceu em 16 de dezembro de 1865, na aldeia de Vígolo Vattaro, na Itália. Ela viveu na localidade de origem junto com os pais e os irmãos até 1875, quando a família desembarcou no Brasil, no Porto de Itajaí.

Santa Paulina nasceu na Itália, mas passou boa parte da vida em Nova Trento | Foto: Santuário Santa Paulina/Divulgação

Em busca de uma vida melhor, Amábile e os pais fixaram moradia em lotes de terras entregues aos imigrantes pelo governo brasileiro. Os montes da região para onde foram levados lembravam a terra natal, por isso, os imigrantes chamaram de Nova Trento.

É na cidade de pouco mais de 15 mil habitantes, que está localizado o santuário dedicado à Santa Paulina, que atrai milhares de devotos todos os anos. 

O santuário foi idealizado a partir da beatificação de Madre Paulina, em 1991, quando um grande número de pessoas começou a visitar Nova Trento, cidade onde Santa Paulina viveu e iniciou a obra das Irmãzinhas da Imaculada Conceição.

O início na vida religiosa

Dois anos após a chegada da família ao Brasil, a mãe de Amábile morre. Ela cuida da família até o pai casar-se novamente e também ajuda na Paróquia de Nova Trento, na Capela de Vígolo, como paroquiana engajada na vida pastoral e social.

O desejo de entrar na vida religiosa sempre esteve presente na vida de Amábile. Em julho de 1890, ela e sua amiga Virginia Rosa Nicolodi acolhem Angela Viviani, em fase terminal de câncer, em um casebre simples doado por Beniamino Gallotti, gesto que marca a fundação da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Após a morte da enferma, em 1891, junta-se a elas Teresa Anna Maule, mais uma entusiasta dos ideias cristãos.

Em 1894, elas se transferem para o Centro de Nova Trento após receber em doação o terreno e a casa de madeira, que serviram também de escola para as crianças da região.

Santuário recebe milhares de fiéis anualmente | Foto: Santuário Santa Paulina/Divulgação

Ao longo dos anos, outras jovens se identificaram com o estilo de vida e se juntaram à Amábile. 

Em 1895, dom José de Camargo Barros, bispo de Curitiba, fez uma visita pastoral a Santa Catarina, que naquela época fazia parte de sua diocese. Um dos lugares visitados foi o pequeno hospital fundado por Amábile. O bispo, vendo o trabalho realizado no local, aprovou a comunidade. 

Nascia, então, a congregação religiosa em Nova Trento. A veste de cor preta foi uma homenagem ao padre Luiz Maria Rossi, jesuíta que ajudou muito no início da congregação. Ele sugeriu ainda o detalhe da faixa azul na veste como homenagem a Nossa Senhora.

Foi então que Amábile escolheu se chamar irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus e foi eleita para o cargo vitalício de superiora geral. A nova congregação passou a se chamar Irmãzinhas da Imaculada Conceição.

Vida em São Paulo

Em 1903, Santa Paulina é eleita, pelas Irmãs, superiora geral para um mandato vitalício Nesse mesmo ano, deixa Nova Trento para cuidar dos ex-escravos idosos e crianças órfãs, filhas de ex-escravos e pobres no bairro Ipiranga, em São Paulo.

A partir de 1909, entretanto, desentendimentos entre as irmãs e uma das benfeitoras da congregação fizeram com que o arcebispo de São Paulo destituísse Madre Paulina do cargo de superiora geral.

Casa em que Santa Paulina viveu em São Paulo | Foto: Divulgação

Ela foi enviada à Bragança Paulista, onde viveu por 10 anos, fazendo faxina, preparando refeições e cuidando dos doentes. O exílio durou até 1918, quando as irmãzinhas da Congregação pediram ao arcebispo autorização para que Madre Paulina pudesse voltar para a Casa Madre da Congregação em São Paulo. O arcebispo deu seu consentimento, mas não retirou a proibição de que Madre Paulina assumisse qualquer cargo na congregação.

Anos depois, em 1938, Madre Paulina se feriu enquanto fazia rosários. Ela não deu importância ao ferimento, que mais tarde, se agravou. Ela sofria de diabetes. A ferida cresceu, gangrenou e foi preciso amputar o dedo, logo depois a mão e todo o braço.

Madre Paulina ficou cada vez mais doente. Em 1942 ficou cega e morreu em 9 de julho, aos 76 anos, na Casa Madre, em São Paulo.

Santidade

Já em vida a Madre tinha fama de santidade. Depois de seu falecimento, as irmãs e o povo que a havia conhecido, começaram a pedir graças por sua intercessão e as graças pedidas eram concedidas. Algum tempo depois começam a surgir relatos de milagres. Como a devoção popular se alastrava e os relatos de graças e milagres se multiplicavam, o processo de beatificação foi aberto em 1965 pela Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição.

Capa do jornal O Município na época da canonização | Foto: Arquivo O Município

Em 1991, o Papa João Paulo II, em visita ao Brasil, durante a cerimônia de beatificação de Madre Paulina em Florianópolis disse que “sua conformidade com a vontade de Deus, levou-a a uma constante renúncia de si mesma, não recusando qualquer sacrifício para cumprir os desígnios divinos, especialmente no período, particularmente heróico, da sua destituição como Superiora Geral da Congregação por ela fundada”.

A canonização aconteceu em Roma, em 19 de maio de 2002, feita pelo mesmo Papa. Foi a primeira santa canonizada que passou sua vida no Brasil.

O milagre

O milagre escolhido pelo Vaticano como prova para a canonização, foi o de uma bebê do Acre. Trata-se de Iza Bruna Vieira de Souza, nascida em Rio Branco com um grave defeito congênito: uma má formação cerebral.

Enquanto a menina ainda estava no ventre da mãe, a avó que assistia à missa de beatificação de Madre Paulina, entregou a neta aos cuidados de Madre Paulina. A criança nasceu e o prognóstico da equipe médica era o pior possível.

Canonização foi acompanhada por festa em toda a região | Foto: Arquivo O Município

Precisaram fazer uma cirurgia e se após a operação a bebê tivesse uma crise convulsiva, seria fatal, ou, na melhor das hipóteses, ficaria cega, surda, muda e tetraplégica. As crises vieram, mas, contrariando o diagnóstico médico, a menina Iza ficou completamente curada, sem nenhuma sequela. Os médicos declararam não haver explicação para a cura milagrosa.

O corpo de Santa Paulina é venerado na capela da Casa Geral de sua Congregação em São Paulo.

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