Cão-guia Braille desperta interesse de outros deficientes visuais em Brusque

Entretanto, processo leva tempo e demanda autonomia do cego e condições financeiras

Cão-guia Braille desperta interesse de outros deficientes visuais em Brusque

Entretanto, processo leva tempo e demanda autonomia do cego e condições financeiras

Prestes a completar dois anos com a companhia do cão-guia Braille, o deficiente visual Sidnei Pavesi já percebe uma evolução na receptividade em Brusque e também na sua qualidade de vida.

O cão da raça Golden Retriever funciona como os olhos de Pavesi e tem a missão de auxiliá-lo durante sua rotina. A dupla é praticamente inseparável e a sintonia entre os dois já despertou o desejo de outros deficientes visuais do município.

“Temos deficientes que têm bastante interesse em saber como funciona, como o cão-guia reage. Temos dois deficientes bem interessados, mas a questão que pega muito é o poder aquisitivo, já que é preciso manter o cão-guia”.

Pavesi destaca que a Associação dos Deficientes Visuais de Brusque (ADVB) está tentando viabilizar ações para facilitar o acesso dos cegos que têm interesse em utilizar o cão-guia, mas não têm condições financeiras.

“Talvez subsidiar a ração, comprar com desconto, fazer parcerias com veterinários para que as consultas sejam cortesia. Ações mínimas que auxiliam muito na manutenção do cão-guia para que outros deficientes possam ter acesso em Brusque”, diz.

Outra situação que dificulta o acesso ao cão-guia, segundo Pavesi, é que o deficiente precisa ter autonomia para se locomover e participar de um processo de seleção que vai avaliar se está apto para atuar com o cão.

“É preciso ter preparo na orientação e mobilidade. O cego tem que saber andar sozinho, o deficiente visual que não consegue andar sozinho, fica difícil para poder usar o cão, porque é o deficiente que vai ensinar os caminhos ao cão”.

Falta de informação ainda é obstáculo
Recentemente, a abordagem policial de uma deficiente visual e seu cão-guia, na praia, em Balneário Camboriú, escancarou um problema que ainda acontece muito: a falta de informação.

Uma lei federal garante o acesso irrestrito do cão-guia junto do deficiente visual em qualquer lugar ou estabelecimento, público ou privado. Entretanto, ainda é comum que os deficientes e seus cães passem por situações constrangedoras. Com Pavesi, não foi diferente. No ano passado, ele e Braille foram expulsos do Ciretran de Brusque, situação que expôs, mais uma vez, a falta de informação.

“Esta situação que aconteceu comigo foi um balde de água fria em muitos deficientes que têm interesse, já que eles pensam, se até na delegacia fui barrado, como vai ser nos outros estabelecimentos?”, diz.

Ainda no início de sua rotina com Braille, o brusquense também passou por uma situação constrangedora na hora de pegar um táxi. “O taxista não queria me levar, mas eu expliquei toda a situação, mesmo assim ele reclamou, mas me levou. No outro dia, fui até o sindicato dos taxistas e protocolei a lei, porque percebi que era falta de conhecimento mesmo”, destaca.

O brusquense comenta que o medo e o preconceito do próprio deficiente também é uma barreira que precisa ser superada. “A questão do preconceito e do medo está no próprio deficiente, não vou negar que as primeiras vezes que entrei em estabelecimentos em Brusque, eu fiquei temeroso, e realmente as pessoas vem questionar, não sabem como reagir, mas a partir do momento que entendem a situação acabam cedendo”

Mais autonomia
Pavesi afirma que a vinda de Braille mudou completamente sua vida. Hoje, ele tem muito mais autonomia e, apesar de algumas situações isoladas, é sempre bem recebido em todo os lugares da cidade. “Minha vida social mudou bastante, no sentido de conversar com pessoas estranhas na rua, que querem passar a mão no Braille, foi muito melhor do que imaginava, em todos os ambientes”, diz.

Sidnei ressalta que se sente mais livre e que com Braille pode caminhar sem medo. “Com a bengala, tinha aquele peso, cadê o próximo buraco, o próximo poste, sempre andava tenso, e com o cão é diferente, voltei a ter uma caminhada leve, livre”.

Braille hoje já faz parte da família. “A gente se torna pessoas melhores com o cachorro, vemos o amor que ele dá pra gente, de graça, só quer carinho e te retribui com tudo”, completa.

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo