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Capelas de Botuverá promovem a congregação das famílias de uma população quase 100% católica

O último censo do IBGE aponta que 92,8% dos botuveraenses são católicos

O padre Eloi Comper, vigário da paróquia São José, afirma que, de modo geral, todo ser humano quer uma inspiração divina na sua vida. Em terras botuveraenses, não se foge à regra. Para além disso, é um lugar onde quase todo mundo é devoto da religião católica apostólica romana.

O último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística aponta 92,8% de botuveraenses católicos. Ninguém na cidade, conforme o mesmo estudo, se diz sem religião. É fácil entender isso: tratam-se de descendentes de imigrantes italianos que, na sua origem, não se dissociam da fé católica.

Proporcionalmente ao tamanho da população, de quase 5 mil habitantes, agrada ao vigário a quantidade de pessoas que frequentam a igreja regularmente. Ainda assim, ele avalia, há os que não frequentam com tanta intensidade, mas nem por isso deixam de praticar a fé. “Alguns têm um pouco menos de frequência à igreja, mas isso não significa que não tenham a presença de Deus na sua vida”, resume o padre Eloi.

O catolicismo, na sua origem, organiza-se em comunidades. Em Botuverá, além da tradição, isso se constituiu em necessidade. Num tempo em que o transporte era precário, percorrer mais de uma dezena de quilômetros para ir à missa era complicado para quem morava longe da matriz.

Capelas nos bairros

Quando o município ainda era denominado Porto Franco, começaram a surgir, há mais de um século, como referência aos encontros de fé, as capelas nos bairros, até hoje mantidas pela comunidade.“A capela é uma necessidade para que as pessoas tenham uma referência da sua fé, se não tivéssemos as capelas nos bairros as famílias teriam que se deslocar para a matriz, e não é fácil para todas fazerem esse deslocamento”, afirma o padre Eloi.Mas essa é a importância logística. Há outro benefício trazido por essas capelas que é lembrado pelo vigário.

“A religião católica é feita de comunidades, o ser humano precisa desse encontro de pessoas. A religião não é só uma vivência pessoal, é uma vivência comunitária, e as capelas proporcionam isso”.

A primeira capela de bairro foi construída em Águas Negras. Relatos orais dos mais antigos moradores dão conta da existência de uma capela neste bairro em meados de 1880. No entanto, os arquivos paroquiais contêm as primeiras citações a ela datadas de 1914. O atual templo da matriz foi concluído, sem a torre, em 1899. O aumento da população e a chegada de novos imigrantes expandiu os limites do povoado. Surgem, nesta época, as capelas nas localidades, as quais hoje são nove.

Dona Odair, como é conhecida na comunidade de Águas Negras, é uma das responsáveis por cuidar da capela do bairro. Ali, também se instalaram imigrantes, os quais trabalhavam com a extração de madeira, e resolveram se alojar perto de um ribeirão. “Era uma época de muita chuva, ancoraram ali, viram que era um pedacinho bonito e se alojaram, fizeram cabanas”, conta dona Odair. Ela diz ainda que, com esses imigrantes, surgiu a denominação do bairro.

“Eles entraram no rio, que tem águas profundas, com grandes rochas escuras, e a água limpa parecia preta. E como eram todos italianos, diziam acqua nigra”, explica.Ela tem tanto carinho pelo templo que guarda todas as informações sobre sua história em uma pequena agenda, desde 2003, informações estas relatadas pelas pessoas mais velhas.

Prática da fé

Para ela, a capela é um instrumento da prática da fé. “A gente faz parte desta comunidade desde criança, a gente tem muita fé em Deus, acredita muito, e Deus é quem nos dá força para a gente manter os trabalhos da igreja ativos, manter a igreja viva”, resume.

Assim como em Águas Negras, foi a necessidade de ter um templo mais próximo de casa, para a realização de encontros de fé, que motivou o surgimento, em 1917, da capela do bairro Ribeirão do Ouro. Ademir Lamin é o coordenador dessa capela há mais de uma década. Ali já foram feitas diversas reformas, mas algumas partes ainda são de barro, o mesmo barro utilizado há quase 100 anos, quando da sua edificação.Ali, o espírito comunitário também é o responsável pela manutenção. Anualmente, festas, rifas e outras promoções são feitas na localidade, com objetivo de manter o templo em pleno funcionamento.

Geralmente, as missas nessas capelas são realizadas uma ou duas vezes ao mês pelos padres da paróquia, e nas vezes restantes são feitas celebrações pelos ministros da Igreja Católica, membros da comunidade.“Se não tivesse essa capela, a população ia ter que ir pra Botuverá de novo”, afirma Lamin. Botuverá, para os moradores locais, não é só uma forma de se referir ao nome do município, mas também especificamente ao Centro da cidade.

“Quanto mais a igreja estiver perto, mais você consegue cativar o povo para ir na igreja. Para nós estarmos bem, temos que ir em busca de Deus. A melhor maneira é levar Deus perto do povo”, diz Ângelo Venzon, que é um dos responsáveis pela coordenação da capela da localidade de Lageado, que reúne os lageados Central, Alto e Baixo.

Ali, ele conta, a capela também surgiu por necessidade: seriam vários quilômetros até o Centro para participar das celebrações, não fosse o templo do bairro, edificado em 1936.“Na época que foi construída, quem era da coordenação era o meu pai. Antes daqui ia para o Centro, era muito longe, naquela época era a pé, de cavalo e de carroça, a maioria a pé, na média de 15 quilômetros de onde a gente mora até o Centro”, explica Venzon.

Para ele, o espírito comunitário citado pelo padre Comper é o que mantém de pé a fé na localidade, onde os moradores também precisam trabalhar em ações para garantir a manutenção das atividades da igreja, que vive de doações da comunidade e da festa feita anualmente, no último domingo do Carnaval.

Assim, a religiosidade da população se mantém forte, também, pela presença da igreja perto de sua casa, instigando a celebração e mobilizando a comunidade em prol da fé católica.