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Caridade política

Estamos vivendo mais um tempo de eleições. Dessa vez, em nível municipal. Isto é, para escolher o prefeito e os vereadores do município. Portanto, pessoas que vão afetar, mais de perto, nossa vida diária em vários aspectos. Por isso, é bom estar atentos e ser responsáveis ao realizar essas escolhas. E, participar efetivamente. Com efeito, […]

Estamos vivendo mais um tempo de eleições. Dessa vez, em nível municipal. Isto é, para escolher o prefeito e os vereadores do município. Portanto, pessoas que vão afetar, mais de perto, nossa vida diária em vários aspectos. Por isso, é bom estar atentos e ser responsáveis ao realizar essas escolhas. E, participar efetivamente. Com efeito, muita coisa da Cidade e da nossa vida vai depender dela.

Com frequência, ouvem-se frases como essas: “Não participo da política por que é só roubalheira”; ou “Deus me livre, nem quero saber de política”; ou “Não dá para fazer nada, está tudo minado”. E por aí afora! Talvez seja oportuno trazer à tona uma velha postura do Papa Pio XI (1922-1939), em orientação para a participação de católicos ou não na política, que também pensavam e agiam desta forma. Vejamos.

O pontificado de Pio XI, nas décadas de 20 e 30, faz parte de uma época, em que a Europa fervia de ideologias: nazismo, fascismo, comunismo, socialismo, anarquismo… Tudo isso, evidente, também na Itália. Muitos cristãos-católicos italianos se recusavam a fazer parte da política italiana, por que a sociedade se inspirava em princípios éticos e sociais diferentes dos que professavam e tentavam viver. Por isso se omitiam. E se pensavam tranquilos, em sua omissão.

Dentro deste ambiente político, desenvolveu-se a noção de “caridade política”. Sobretudo, por meio da mística e da atuação da Ação Católica, protagonizada por leigos católicos bem preparados e convictos de sua opção de fé. O papa ajudou a clarificar o que vem a ser “caridade política”. É todo empenho dos cristãos na realização do bem comum. O Papa Pio XI afirmou que o domínio da política é o campo mais propicio à caridade. A caridade, porém, não é outra coisa que o princípio fundante de toda a Proposta do Reino de Deus, trazida por Cristo, da parte de Deus Pai. O amor posto como fundamento de todo o sistema de relações interpessoais e socioculturais, na convivência social. É claro que a dimensão política, jamais pode ser excluída.

Desta forma, a caridade política consiste em um compromisso ativo e operante, resultado do amor cristão aos outros seres humanos, vistos e tidos como irmãos e irmãs, a fim de construir uma sociedade sempre mais justa, fraterna, solidária, oferecendo, principalmente, aos necessitados oportunidades de conseguirem um nível de vida mais digno. A caridade política, portanto, está intimamente relacionada com o bem comum, enfim, com a promoção da pessoa humana, em todas as suas dimensões pessoais e socioculturais, sem exceção alguma, a fim de que possa integrar e participar da vida sociocultural da sociedade e da cultura, em que está inserida.

Por isso, todo cristão (a) que sente esta tendência a participar na construção de uma política que, de fato, se coloca a serviço na e da construção do bem comum não pode se omitir. Faz parte da própria vocação batismal que tem a missão se estar presente e atuar para construção de mundo sempre mais justo, fraterno e solidário. É evidente que para isso, também, tem que se preparar a contento e se atualizar continuamente.

O campo da política, sob este perfil, é o grande campo da caridade, da caridade política, que certamente auxiliaria a edificar estruturas socioculturais, mais de acordo com os princípios e valores éticos e morais que prezariam a dignidade da vida, da vida humana, da pessoa e da família como bens indispensáveis na construção da justiça e da paz, em nossa sociedade e cultura.