Carnaval, cinzas e fraternidade
Terminou o Carnaval e, também, o período de férias. Mesmo os que preferiram a tranquilidade do quintal doméstico, certamente, não ficaram alheios à folia geral que tomou conta das ruas, praças e passarelas de muitas cidades deste país do samba e do futebol nos pés, mas de pouca coisa na cabeça. Na tela mágica, cintilando […]
Terminou o Carnaval e, também, o período de férias. Mesmo os que preferiram a tranquilidade do quintal doméstico, certamente, não ficaram alheios à folia geral que tomou conta das ruas, praças e passarelas de muitas cidades deste país do samba e do futebol nos pés, mas de pouca coisa na cabeça. Na tela mágica, cintilando em nossas salas e quartos, as impressionantes imagens de corpos em movimento, multidões de foliões contados aos milhões, mar de fantasia e ilusão a dançar e a cantar freneticamente nos quatro dias de euforia alucinante.
Não se pode generalizar e dizer que assim é a alma brasileira. Mas, é certo que grande parte dos brasileiros carrega a paixão carnavalesca em suas entranhas. Essa gente de samba nos pés escuta o bater dos tamborins, o som dos clarins e da cuíca e, crisálida da loucura momesca, se transforma nessa borboleta humana chamada folião. Sem hesitar, larga tudo, deixa a realidade atrás da porta, tira a fantasia do armário e corre a atender ao chamado das ruas, para mergulhar na fantástica festa do carnaval. É curioso. Até ontem, Brasil em festa, povo nas ruas, muita dança, muita música e bebedeira geral, curto tempo de euforia e ilusão efêmera que ignora crises, desemprego, violência e insegurança.
Hoje, clarins e tambores silenciados, pés recolhidos para o repouso anual, enterradas euforia e fantasia, a tradição cristã celebra o ritual da quarta-feira das cinzas. A Igreja Católica, marca seus fiéis com cinzas sobre a cabeça, simbolismo para lembrá-los da inevitável condição de mortalidade do ser humano. Sim, precisamos buscar a felicidade, viver o prazer e a alegria da vida. Mas, não podemos esquecer das nossas limitações. das misérias, das tristezas próprias da condição humana. Devemos lembrar, também, que a morte é condição humana da qual não atalharemos e que, um dia, virá para nos devolver à Terra-Mãe e a todos nos igualar.
Seguindo a tradição de muitos anos, nesta quarta feira de cinzas, a Igreja Católica lança a Campanha da Fraternidade de 2017. O tema deste ano – “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” – é oportuno e de grande relevância. Penso que nenhum brasileiro, independentemente de credo religioso ou político, pode ficar alheio ao chamado ecumênico contido no texto elaborado pelos bispos brasileiros.
Afinal, precisamos nos engajar na cruzada ambiental da “nova ecologia”, e lutar pela preservação dos biomas brasileiros, da Amazônia aos Pampas, do Cerrado aos Manguezais. Só assim, estaremos preservando um ambiente saudável para garantir a vida das futuras gerações.