João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Carnaval de Brusque, 1925

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Carnaval de Brusque, 1925

João José Leal

Depois de amanhã, sexta-feira, o país, ainda em ritmo de férias, vai parar completamente para a folia carnavalesca. Isso, nas grandes cidades e naquelas que ainda mantêm a tradição dessa festa pagã, que os gregos chamavam de bacanais e que a modernidade transformou nessa folia da irreverência, da alegria e da loucura geral. Em Brusque, carnaval de rua, dos bailes nos salões, das colombinas, pierrôs, confetes, serpentinas e lança-perfume, é coisa do passado, festa que se perdeu na poeira do tempo.

Nas primeiras décadas do século passado, Brusque era, ainda, uma cidade carnavalesca. Tanto que, na noite de 19 de fevereiro de 1926, quinta-feira, grande parte da população de nossa cidade ocupou a então Ponte Vidal Ramos para a grandiosa festa de recepção à sua majestade o Rei Momo. Blocos de foliões à fantasia, muita serpentina, aquela batalha de confete e a folia contagiou a multidão que, lógico, não era tanta gente, numa cidade ainda pequena. Tudo ao som da banda de música devidamente ensaiada para tocar as marchinhas do novo carnaval, com suas letras satíricas e de ironia a fatos e pessoas ilustres daquela época.

O Rei Momo, com certeza um dos brusquenses peso-pesado, levantou-se do trono e o silêncio se fez de imediato. E, então, sua alteza real leu o seu Manifesto da Folia Geral para dizer que, após um ano de monotonia e vida inútil, estava de regresso para perturbar a tranquilidade dos seus súditos-foliões e, novamente, trazer a alegria, “o prazer e a ilusão que farão esquecer a tristeza dos 12 meses de angústias e tristezas”.

Dizendo-se um rei liberal, garantiu que sua contagiante festa seria capaz de embriagar de prazeres indescritíveis, “desde a mais ingênua criança ao mais sisudo e mal-humorado velho aposentado” que, certamente, não recebia provento nenhum da inexistente Previdência oficial, numa época em que a família é que sustentava os seus idosos. O discurso continuou para dizer que o êxtase e a loucura estavam chegando na sua bagagem real, a fim de garantir um “carnaval de ilusão, de fantasia e de loucura geral, com o vício corrompendo a virtude”.

Festa significa gastar dinheiro. Para os foliões da loucura, geralmente, contrair dívida. E o Rei Momo não esqueceu que chegaria o tempo da quaresma, dos “bolsos vazios e dos credores batendo às portas para cobrar as dívidas”. O Manifesto tinha a receita com as letras do mais puro sarcasmo: “Pagai-as com o sorriso e a alegria que deixo dentro de vós. É uma ótima forma de solver as dívidas feitas em dias de loucura carnavalesca”.

Com certeza, os tempos mudaram bastante. Brusque não faz mais o culto ao Rei Momo e nem conhece dias de loucura carnavalesca.

Nota: A reportagem sobre o carnaval foi publicada na Gazeta Brusquense, de 21 de fevereiro de 1925 e pode ser consultada na Casa de Brusque.

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