Casa de apoio do Projeto Vida é oficialmente inaugurada em Brusque
Iniciativa busca reinserir usuários de drogas na sociedade de forma produtiva
O “Projeto Vida – Drogas Matam, Jesus Salva” inaugurou oficialmente a sua casa de apoio para dependentes químicos nesta quarta-feira, 11. O ato, que contou com a presença da promotora de Justiça Susana Perin Carnaúba, empresários, voluntários, bombeiros e lideranças religiosas, foi uma formalidade, já que o serviço já está ativo há algum tempo.
O projeto é uma iniciativa de um grupo de pessoas ligadas a igrejas evangélicas. A casa fica no bairro São Luiz.
A promotora Susana foi uma das apoiadoras desde o começo da constituição jurídica do Projeto Vida. Antes, ele funcionava informalmente, mas agora está legalizado.
Na inauguração, Susana lembrou do primeiro contato que teve com os voluntários. “Essa casa é importantíssima, porque é fundamental ter esse apoio para depois [que o usuário sai da reabilitação]”, disse.
Na avaliação da promotora, que falou com a experiência de quem lida com a área criminal, ter um local para se reerguer depois de sair da clínica é fundamental. Susana classificou a residência como um “anteparo” que ajuda a evitar recaídas e, consequentemente, a salvar vidas.
Aldinei de Souza, o Nei, também falou, como voluntário, sobre o papel transformador que o projeto tem na vida dos moradores. Ele destacou que o apoio da promotora foi fundamental. Ela deu amparo quando os voluntários tinham dúvidas e dificuldades.
O pastor Ademir Fischer, da Fazenda Canaã, discursou brevemente. Como responsável da comunidade terapêutica, ele destacou a importância de existir uma casa de apoio para os ex-usuários. “Depois do tratamento, muitos voltam para a rua ou são rejeitados”, disse.
O empresário Leandro Noldin é um dos apoiadores do projeto. Ele contou que as doações são uma forma de agradecimento por, mesmo com uma infância difícil, ter conseguido prosperar com suas empresas.
Noldin disse que depois que conheceu a casa também mudou sua visão de vida. “A gente tem preconceito, mas aí vai conhecendo e vendo que tem diferenças, que cada pessoa reage de um jeito”.
Projeto faz trabalho com ciclo completo
O presidente do Projeto Vida, Jean Harger, explica que a iniciativa surgiu há muito tempo. O grupo de evangélicos passou a ofertar marmita para moradores de rua e usuários de drogas como caridade.
O trabalho ganhou proporção. Até hoje, são feitas as abordagens nas ruas todas as semanas. Um dos principais pilares da iniciativa é a construção de relacionamento e confiança com os andarilhos.
É com base nisso que os voluntários têm conseguido alcançar resultados. Depois que o morador de rua aceita se internar para se livrar do vício, o projeto busca uma vaga numa clínica. A Fazenda Canaã é a principal parceira no tratamento dessas pessoas.
A reabilitação costuma demorar de seis a nove meses. Depois disso, entra a parte da casa de apoio, que é o diferencial do Projeto Vida. Harger explica que o ex-usuário é enviado para lá e fica os primeiros 30 dias somente morando.
Neste primeiro mês, ele já deve seguir as regras estabelecidas dentro da casa. A disciplina é levada a sério e supervisionada por voluntários que estão diuturnamente com os internos.
Depois de 30 dias, segundo o presidente do projeto, é possível conhecer o perfil do interno. Com isso, começa a busca por emprego. Os voluntários também auxiliam nisso, inclusive, muitos empresários ajudam de diferentes formas e podem ofertar uma colocação no mercado.
Uma vez empregado, o interno pode ficar até nove meses morando na casa e acumulando o salário para poder ter recurso para comprar móveis e alugar uma residência própria. Durante todo esse tempo, ele tem de seguir a disciplina, sob risco de ser expulso.
Dignidade
O Projeto Vida é formado por voluntários, mas também por ex-usuários – pessoas que se converteram à igreja, passaram pelo tratamento e hoje auxiliam a tirar mais pessoas da vulnerabilidade. Com essa experiência, a iniciativa tenta abranger todos os aspectos importantes para evitar recaídas.
Um exemplo é a autoestima. “Nós arrumamos a dentição, óculos, para melhorar a aparência”, diz Harger.
Recuperando vidas
O Projeto Vida já colhe bons frutos. Jardel Silveira de Liz é exemplo vivo da transformação que é possível na vida de um ser humano.
Natural de Criciúma, ele foi andarilho por mais de dez anos. Cruzou o estado e passou várias vezes por Brusque. Ele conta que “incomodava muito” as autoridades.
Entre as passagens por Brusque, conheceu o pessoal do Projeto Vida. Foi ali que Jean Harger conseguiu convencer Jardel de que é possível mudar de vida com força de vontade e ajuda dos outros. “Há dois anos e meio, aceitei e saí da rua”, diz.
O próprio Jean é exemplo dessa transformação, pois está há mais de 15 anos sem usar drogas. Ele conseguiu levar Jardel para a Fazenda Canaã, onde ele passou pelo tratamento.
Depois, Jardel morou na casa de apoio. Recebeu tratamento para os dentes e colocou óculos, além de estar trabalhando há nove meses com carteira assinada. Hoje, o ex-andarilho aluga a própria casa no bairro Primeiro de Maio. “Vou casar em breve”, comenta.