Casal com síndrome de Down formaliza união em Brusque
Charlotte Rocha Bork e Guilherme Hack são o segundo casal com a síndrome a se casar no Brasil
Charlotte Rocha Bork e Guilherme Hack são o segundo casal com a síndrome a se casar no Brasil
Um amor construído na inocência, feito de momentos simples, vivido intensamente. Assim pode ser definida a relação de Charlotte Rocha Bork e Guilherme Hack, ambos de 30 anos e com síndrome de Down. O casal realizou um sonho no dia 24 de setembro ao oficializar sua união na sede aquática do Clube Guarani, em Brusque. Eles são o segundo casal do Brasil com síndrome de Down que se casou, segundo informações levantadas pela família. Até então, havia apenas um em São Paulo.
A cerimônia, realizada para familiares e amigos próximos, celebrou o amor de duas pessoas que são exemplo de determinação e alegria. Charlotte e Hack se conheceram aos sete anos, num campeonato de caça e tiro no Clube Caça e Tiro Araújo Brusque, onde os seus pais frequentavam. Desde lá, seus caminhos estariam para sempre unidos.
Os pais de Hack são da cidade gaúcha de Campo Bom, a cerca de 60 quilômetros de Porto Alegre, e vinham ao município. É tradição no clube brusquense o intercâmbio com outros estados. Nestes encontros, o inocente casal “brincava de namorar” e ia a parquinhos e ao cinema juntos, mas sempre acompanhados dos pais. Aos 15 anos, Charlotte foi diagnosticada com leucemia e um oncologista deu dois meses de vida para a jovem.
Diante da notícia, Bernadete Rocha, mãe de Charlotte e idealizadora da Escola Charlote – que trabalha com crianças e adultos com necessidades especiais -, solicitou aos pais de Hack que eles tivessem um “namoro de verdade”. A partir deste momento o casal começou a se ver com mais frequência e a ficarem sozinhos. Foi nesta época que beijos e abraços “de verdade” aconteceram. E foi esse amor que curou Charlotte. “A história deles é muito linda, logo que eles começaram a ficarem mais tempo juntos, os glóbulos se equilibraram, houve um milagre”, conta Bernadete.
O casal tem muitas lembranças desde o dia que se conheceram até o casamento, desde as brincadeiras na roda gigante do parque até a doença de Charlotte. “Teve uma fase que nós só estávamos brincando de namorar, até que rolou um clima. O namoro virou realidade e esse amor virou casamento”, diz Charlotte, que completa: “Eu logo já queria casar com ele, mas minha mãe sugeriu que fosse nos 30 anos”.
Para a recém-casada, foi tudo um sonho. Hack diz que o casamento foi muito especial e que é muito importante para um casal com síndrome de Down. “Como vou explicar agora? Sou do Rio Grande, ela é de Santa Catarina, nos encontramos, deu esse quebra cabeça e juntamos as peças”.
Após o casamento, Charlotte e Hack foram morar em Campo Bom com os pais do noivo. Atualmente, Charlotte está se adaptando à vida de casada, já Hack continua trabalhando como assistente em uma loja da cidade. Os planos para o futuro são de viver cada vez mais juntos e felizes e, é claro, sempre que possível, vir a Brusque para matar a saudade da família e dos amigos.
Flutuando no amor
Bernadete diz que a filha e o genro parecem “dois anjos flutuando” de tão felizes. Ela conta que eles estão curtindo cada minuto juntos. “A união deles é uma vitória que mostra que vale a pena perseverarmos no que acreditamos, que nunca devemos perder a fé. Costumo falar sobre o ensinamento de Jesus Cristo, de que tudo é possível para aquele que crê”.
Priscila Venturelli Weber é prima de Charlotte e teve um papel fundamental no casamento. Foi ela quem organizou a festa e todos os detalhes do grande dia do casal. Inclusive, foi Priscila que levou Charlotte para escolher o vestido. “Foi uma honra pra mim poder fazer parte deste momento especial. Sabia que era o sonho dela e fiz o possível para que tudo ficasse lindo, como ela merece”.
Priscila conta que a relação com a prima é especial e que tem um carinho enorme por ela. Exemplo disso é que Charlotte foi a dama de honra do seu casamento. “Foi ela quem levou as minhas alianças, foi lindo e emocionante. Espero que ela seja muito feliz nessa nova fase da vida”.
Preconceito
O casal lembra que sofreu e sofre preconceito. Eles contam que é comum as pessoas acharem que são irmãos, devido às características físicas semelhantes. “Aí nós falamos que somos namorados e somos muito felizes, muito felizes mesmo”, resume ela. Charlotte diz que pessoas com síndrome de Down podem namorar, casar e curtir a vida. Hack completa que há uma visão na sociedade de que pessoas com síndrome de Down não podem fazer nada. “É preciso respeitar as diferenças – todos somos diferentes – e seguir a vida sem preconceito”.
Repercussão nacional
O fato de Charlotte e Hack hoje serem o segundo casal com síndrome de Down a se casar no Brasil chamou atenção da mídia nacional. Por isso, eles participaram na manhã de terça-feira, 4, do programa Encontro com Fátima Bernardes, da Rede Globo.