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Casamento e amor canino

No meu tempo de criança, em Tijucas, os casamentos eram realizados no período da manhã ou da tarde. Noivos, familiares e convidados desfilavam pela rua principal em carros de mola – táxi custava caro e eram só três ou quatro na cidade – em direção à igreja matriz. Terminada a cerimônia religiosa, o cortejo nupcial […]

No meu tempo de criança, em Tijucas, os casamentos eram realizados no período da manhã ou da tarde. Noivos, familiares e convidados desfilavam pela rua principal em carros de mola – táxi custava caro e eram só três ou quatro na cidade – em direção à igreja matriz. Terminada a cerimônia religiosa, o cortejo nupcial dirigia-se à casa da noiva para o almoço ou a janta, no fim da tarde, e a festa continuava. Muitos desses casamentos, vi passar nas ruas de minha cidade. Era um tempo de casamento para sempre, sustentado pela força da fé no “tudo por amor de Deus”, divórcio era coisa do diabo.

Mas, os tempos mudaram. O casamento, também. No sábado passado, fui a um casamento, desses dos tempos atuais, os noivos já vivendo juntos há mais de ano. Tudo organizado, monitorado, por uma empresa promotora de eventos, que controla todo o ritual da festa e que exagera nas fotos em todos os lugares, trejeitos e poses mil para a eternidade. Depois, é claro, vem a conta para pagar os álbuns, agora, chamados de books fotográficos. Mas, festa é festa, o momento é de alegria total e ninguém está aí para se mixar por preços.

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Para essa nova espécie de nubentes, o ninho do lar doce lar já foi construído há tempo e a vida conjugal consumada, experimentada e assimilada. Casam-se com tranquilidade, já sabendo como é a vida a dois, liberdade para ambos e responsabilidade compartilhada, pouco ou nenhum filho, conscientes de que, só assim, a união vale a pena. Para esses noivos de hoje, casamento é só uma festa para reunir amigos e familiares e comunicar que, agora, estão decididos a viver juntos “até que a morte os separe”, promessa difícil de ser cumprida.

Marcado para começar às 4 horas da tarde, quando lá cheguei, os convidados, mais ou menos uns 200, já lotavam o recinto. Nada de igreja. Mas, um salão com cadeiras e uma mesa à guisa de altar. Nada de padre ou pastor. Um amigo dos noivos lá estava, em frente à mesa, para falar sobre o sentido do casamento e fazer um retrospecto da vida dos personagens principais da festa, desde o namoro, as mãos dadas, o primeiro beijo, passando pelo noivado até aquele momento festivo do juramento.

Quando o leigo celebrante pediu para que as alianças fossem trazidas, pensei comigo: a tradição ainda resiste. Mas, não foi assim. Fiquei estarrecido com o que vi. Pelo corredor, conduzidos por uma criança, desfilaram dois cães levando o par de alianças, símbolo da eterna vida conjugal. E a cerimônia chegou ao fim com os noivos, cada um, beijando o seu estimado cão até que a morte os separe.

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