Casarão Bauer Moritz é demolido e Comupa analisa outros três pedidos em Brusque
Conselho suspendeu recebimento de novas solicitações para refazer catálogo do município
Conselho suspendeu recebimento de novas solicitações para refazer catálogo do município
A demolição do Casarão Bauer Moritz, na esquina da rua Barão do Rio Branco e avenida Otto renaux, ao lado da Caixa Econômica, trouxe à tona a questão da preservação de imóveis antigos no município nesta semana.
O Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Comupa) autorizou a demolição do casarão, com base em critérios técnicos. Mas o Comupa também analisa outros três pedidos: antigo Hotel Schneider, Casarão Schaefer e residência da família Mafra.
A situação do Casarão Bauer Moritz já havia sido revelada por O Município em 16 de março do ano passado. O proprietário apresentou, naquela época, o pedido para que o imóvel pudesse ser demolido.
Nesse caso, o pedido teve de passar pelo Comupa porque o casarão faz parte do catálogo do patrimônio histórico de Brusque. Ele não é tombado, apenas consta na lista, portanto, não está sujeito à legislação de tombamento.
O presidente do Comupa, Eduardo Tomazoni, explica que o proprietário seguiu os procedimentos que foram pedidos pelo conselho. Ele contratou um arquiteto especializado em patrimônio histórico para elaborar um parecer sobre a relevância do casarão.
O parecer do especialista, um dos mais renomados nesta área no Brasil, sustentou que o Casarão Bauer Moritz não tinha razão para ser protegido, uma vez que não cumpre os requisitos para ser considerado histórico.
Para ser um patrimônio público, o imóvel deve ter uma importância para a cidade ou ter abrigado alguém importante. Não basta ser apenas um imóvel antigo.
Além disso, o laudo do arquiteto mostrou que o casarão estava isolado na esquina das duas vias. Ao lado dele, quase nada do que outrora foi Brusque ainda existe. Tudo foi destruído e deu lugar a imóveis modernos, como a própria Caixa Econômica.
“Tinha também um laudo técnico da Defesa Civil, que interditou a casa”, conta o presidente do conselho municipal. O parecer técnico indicou que havia sérios danos estruturais no casarão, que há algum tempo estava desocupado.
O Comupa analisou o parecer do arquiteto, o laudo da Defesa Civil e outros documentos técnicos para decidir sobre o pedido e chegou à conclusão de que seria possível autorizar a demolição.
No fim do ano passado, o aceite foi dado. Depois disso, o proprietário teve de cumprir as exigências. Por exemplo, teve de realizar o inventário do imóvel.
Foi feito também o descritivo da arquitetura e de tudo o que existia com fotos e 3D. Esse material será encaminhado à Fundação Cultural, que terá de guardar tudo para ser exposto em um museu ou poder ser consultado eventualmente.
O procedimento teve de ser custeado pelo dono do imóvel, inclusive o levantamento 3D. O Comupa, como conselho, não tem poder, dinheiro ou funcionários para isso.
Hotel Schneider
O pedido de demolição do antigo Hotel Schneider também tramita no Comupa desde 2017. A atual proprietária mora no interior do estado de São Paulo há mais de 40 anos e não tem interesse em restaurar ou manter o imóvel.
Ela apresentou o pedido de demolição e o Comupa fez uma contraproposta: em vez de colocar tudo abaixo, ela poderia manter a edificação e, em troca, a prefeitura poderia autorizar a construção acima do limite imposto no Plano Diretor. Tomazoni diz que ela não aceitou a oferta.
“Foi aberto para eles, assim como para o Casarão Moritz, essa situação de inventário, com tudo completo, para depois o Comupa deliberar a respeito”, explica Tomazoni. A informação é de que a família está juntando esses documentos, que até agora não chegaram ao Comupa.
Desde 2017, o prédio está interditado pela Defesa Civil, por isso foram colocados tapumes no térreo, pois há risco para quem passa por ali. O órgão vistoriou o edifício e constatou que existem problemas estruturais.
Quem passa em frente e presta atenção enxerga claramente uma rachadura no meio da edificação. Tomazoni diz que o prédio passou por várias modificações no térreo, onde ficavam lojas, mais recentemente. O hotel que funcionava no imóvel fechou há décadas e desde então não passou por reformas.
Casarão Schaefer
O imóvel está interditado desde setembro de 2016. No dia 6 daquele mês, parte do edifício desabou, matou uma pessoa e desde então ele está isolado com tapume. Nada foi feito e o caso tramita no Comupa.
“É um mausoléu no Centro da cidade”, resume Tomazoni. O proprietário pediu novamente a demolição do restante do imóvel recentemente e o caso está em tramitação.
Segundo o presidente, foi solicitado que ele também faça um levantamento, parecido com o que foi feito no Casarão Bauer Moritz e será efetuado no Hotel Schneider, mas um pouco mais simples porque a edificação já desabou.
O Comupa analisará de novo o caso quando o proprietário voltar com a documentação. Entretanto, por se tratar de um caso mais delicado, há possibilidade de que seja liberada a limpeza do imóvel.
Residência Mafra
A demolição da antiga residência na rua Hercílio Luz foi autorizada no fim do ano passado. A herdeira já apresentou todos os laudos e pareceres técnicos e históricos ao Comupa, que aprovou a destruição.
Segundo Tomazoni, a situação do imóvel é bastante precária. Prova disso é que o procedimento caminhou em regime de urgência, devido ao risco de queda do prédio.
De acordo com a Defesa Civil, o laudo do prédio constatou que o telhado cedeu, principalmente na varanda. Com isso, houve infiltração nas paredes e colunas, o que praticamente inviabiliza a restauração.
A herdeira agora terá de cumprir as exigências, assim como foi feito no Casarão Bauer Moritz. O Comupa também determinou que seja efetuado o levantamento, inventário e catalogação.
Atualmente, existe um Catálogo do Patrimônio Histórico de Brusque, mas está desatualizado. Além disso, só o prédio do Tiro de Guerra é tombado no município.
O Comupa quer mudar essa situação. Para isso, o trabalho para a elaboração do novo catálogo foi iniciado no fim de 2018.
A ideia é que o novo levantamento seja mais abrangente. Tomazoni diz que haverá imóveis que vão sair do catálogo e outros poderão entrar.
O presidente explica que um patrimônio pode ser considerado relevante historicamente por ser uma área de preservação, por sua arquitetura ou por ter abrigado alguém importante.
“Nem tudo que é antigo é histórico”, resume Tomazoni. A ideia é que o novo catálogo seja criterioso para incluir o que ainda não está listado.
O presidente afirma que o novo catálogo deve ir além da questão dos casarões. “Tem que ter a questão cultural, com as tradições”, exemplifica.
Tomazoni diz que o objetivo é realizar um levantamento e levar ao livro tombo. “Estamos trabalhando para desenvolver um novo catálogo e novas adequações na lei”.
Neste momento, o Comupa está juntando profissionais de entidades para integrar o grupo que trabalhará no novo catálogo. “Estamos tentando algum caminho, alguma verba para contratar um historiador com experiência em fazer um catálogo histórico”.
Paralisado
O Comupa não tem aceitado novos pedidos de demolição. Um exemplo é uma solicitação feita sobre o casarão Maluche, onde funcionava o Centro de Atenção Psicossocial (Caps-Ad). A proprietária apresentou o pedido para poder demolir o espaço, mas não será analisado até que o novo catálogo esteja pronto.
No ano passado, O Município também noticiou um pedido de demolição do prédio onde funciona a Alfaiataria do Pedroca, na rua Felipe Schmidt. Esse processo não teve andamento e não chegou a ser analisado.
Conheça os imóveis
Casarão Bauer Moritz
Data da construção: anos 30.
Descrição: a casa foi construída por João Bauer. Depois passou ao seu filho, Jacob Bauer. Mais adiante, passou a um integrante da família Moritz, que casou com uma Bauer.
Casarão Schaefer
Data da construção: 1915
Descrição: foi construído pelo casal de comerciantes Otto e Alice Schaefer, que viveram no local por muitos anos com os filhos. No lado externo da construção não houve nenhuma transformação significativa durante os anos. Em 2003, após uma restauração, o prédio abrigou uma pizzaria. Em setembro de 2016, parte da estrutura desabou.
Hotel Schneider
Data da construção: início da década de 1900
Descrição: o primeiro proprietário foi o comerciante Augusto Klapoth. Depois passou ao seu filho Henrique, que casou com Alice Tietzman Klapoth. Ela ficou viúva e casou novamente. O segundo marido dela implantou o tradicional Hotel Schneider, que ficou aberto até a década de 1980. Até 2017, funcionava lojas no térreo, mas o prédio foi interditado.
Residência Mafra
Data da construção: não consta no catálogo
Descrição: foi residência da família Mafra. Não há mais informações sobre o imóvel no catálogo do município.