Casas noturnas de Brusque atendem normas de segurança
Dois anos após tragédia na Boate Kiss, casas noturnas de Brusque se adequaram para reforçar a segurança
Dois anos após tragédia na Boate Kiss, casas noturnas de Brusque se adequaram para reforçar a segurança
Na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), deixou 242 mortos e centenas de feridos, a maioria jovens entre 18 e 25 anos. A tragédia que marcou a história do país alertou proprietários e frequentadores de casas noturnas quanto a segurança desses locais e dois anos depois, poucas infrações foram registradas na região.
De acordo com todos os órgãos públicos e de segurança, Brusque registrou pouquíssimos incidentes nesses locais nos últimos anos. A maioria dos estabelecimentos se adequaram a algumas normas cobradas durante uma vistoria feita por uma equipe formada pelo Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Prefeitura e Fundação do Meio Ambiente (Fundema).
“Em agosto de 2012, quatro meses antes desse incêndio no Rio Grande do Sul, fizemos essa força-tarefa, integrando os órgãos e auxiliando nas melhorias necessárias nesses locais. Parece que a gente estava adivinhando que aconteceria essa tragédia, pois foi justamente esse o nosso intuito na época, proteger o estabelecimento e os frequentadores de possíveis acidentes”, explica o policial José Eduardo Janeczko, do setor de jogos e diversões da Polícia Civil.
Fabio Maestri, proprietário do bar Beira Rio, lembra que logo após o incêndio na boate Kiss, o seu estabelecimento passou por mudanças e ajustes para ficar de acordo com as normas de segurança estabelecidas pelo Corpo de Bombeiros.
“Alteramos várias coisas, desde o isolamento acústico até as saídas de emergências, com a colocação de portas que abrem para fora, conforme pede a legislação. Tiramos tudo o que pudesse pegar fogo, cortinas, pisos de madeira, entre outros”, conta. Na época ele gastou entre 70 e 80 mil nas adequações.
Especialistas apontaram que a falta de mais saídas e sinalizações de emergência como alguns dos problemas que ocasionaram a tragédia na boate Kiss. Além de haver somente uma porta, com a falta de luz e sinalização adequada, muitas pessoas foram parar nos banheiros da casa noturna. O resultado disso foi que cerca de 90% dos corpos foram encontrados nesses locais no dia seguinte ao acidente.
Segundo o tenente do Corpo de Bombeiros de Brusque, Hugo Manfrin Dallossi, todo estabelecimento que promova a reunião de público, casas noturnas e de eventos, por exemplo, deve ter no mínimo duas saídas de emergência em lados opostos. “Em casos de acidentes, incêndios ou qualquer fato que exija a saída imediata das pessoas do ambiente, é fundamental ter essas duas opções, visto que, se uma delas estiver bloqueada ou muito cheia, as pessoas tem a possibilidade de sair pelo outro lado”, explica.
Segundo Diogo Ventura de Castro, dono do Rock Bar, antes do acontecimento na boate kiss, eles já tinham uma boa segurança no caso de um incêndio, mas depois do acidente foram alteradas algumas normas de segurança nas questões como iluminação e saídas de emergência. “Com essas novas mudanças necessárias, alguns meses depois da tragédia já estávamos nos conformes, o que mais demorou foi a parte da documentação, já que sofremos com a burocracia”, garante. Atualmente, o bar possui duas saídas opostas, iluminação e o equipamento necessário para controle em caso de incêndio.
A tragédia na boate Kiss teve início depois que a banda utilizou um artefato chamado Sputnik. Em determinado momento, a faísca do fogo de artifício, que não deveria ser utilizado em local fechado, atingiu o teto da casa noturna e em poucos segundos o fogo e fumaça se alastraram. “As normas de segurança determinam que, caso tenha shows pirotécnicos em uma festa, isso precisa ser feito por um profissional que entenda do assunto, caso contrário o estabelecimento corre o risco de ser multado e fechado”, explica o policial Janeczko.
O tenente Manfrin destaca que em relação ao isolamento acústico, é comum alguns serem de espuma, material parecido com o utilizado na boate Kiss, mas todo proprietário deve atestar, através de um laudo que vem do próprio fabricante do material, que esse isolamento não é inflamável.
Alvarás
Segundo a Secretaria da Fazenda, atualmente existem 85 bares e 30 danceterias e casas de festas registradas em Brusque. Para abrir uma casa noturna, de eventos ou shows, é necessário solicitar os alvarás de funcionamento em diversos setores, como o Corpo de Bombeiros, Secretaria da Fazenda, Fundação do Meio Ambiente (Fundema), Instituto Brusquense de Planejamento (Ibplan) e Polícia Civil. Eles são responsáveis por viabilizar e controlar o funcionamento desses locais, bem como cobrar possíveis irregularidades.
O Ibplan cuida da viabilidade do empreendimento. Antes mesmo dele ser construído é preciso ir até a prefeitura consultar a área de zoneamento em que ela será construída e conferir se é possível fazer ali um estabelecimento desse tipo. “Nossa cidade tem 12 zoneamentos, uma casa noturna pode ser construída em quase todos os locais, menos na área rural e no Jardim Maluche, que possui um plano diretor próprio”, explica Norene Felsky Odawara, arquiteta do setor.
Já a Fundema, tem o papel fiscalizar casos irregulares, como poluição sonora, por exemplo. “Ano passado abrimos oito procedimentos administrativos contra casas noturnas na cidade por causa disso. Quando o proprietário não atende as exigências feitas pelo setor, somos obrigados a aplicar multas”, diz o diretor da Fundação, Diego Furtado.
A Polícia Civil libera o alvará de jogos e diversões, necessário também para bares e clubes, além das casas noturnas. Diferente dos outros setores, esse documento deve ser retirado todos os meses na Delegacia Regional de Brusque. O policial Janeczko, responsável pelo setor, explica que isso é necessário pois se o estabelecimento for denunciado, o proprietário deverá prestar esclarecimentos e realizar as adequações necessárias para conseguir o alvará.
“Controlamos o horário de funcionamento e possíveis irregularidades. Aqui existem poucas reclamações, mas quando elas chegam, sempre vamos averiguar e se necessário, notificamos o proprietário para prestar esclarecimentos na delegacia”. Ele também pede a colaboração da população, que pode denunciar qualquer problema ou irregularidade no 181. “Infelizmente não podemos fiscalizar todos os lugares, por isso, dependemos do apoio das pessoas. Assim evitaremos acidentes e crimes que podem resultar em novas tragédias”, completa.