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Caso confirmado de raiva no loteamento Cyro Gevaerd alerta a população

Morcego encontrado em residência foi identificado com a doença; animais domésticos da vizinhança serão vacinados

Os moradores do loteamento Cyro Gevaerd, no bairro Limeira Baixa, são alvo de uma ação preventiva da Vigilância Epidemiológica de Brusque contra o vírus da raiva. A iniciativa deve-se à identificação de um caso confirmado da doença em um morcego insetívoro – que se alimenta de insetos – capturado por uma moradora do loteamento e analisado por profissionais da área de saúde.

A captura do mamífero aconteceu ainda no mês de junho. A higienizadora da Vigilância Epidemiológica, Rosangela Oliveira da Cunha, já está acostumada com a presença deste tipo de animal em casa, já que mora ao lado de uma mata há 13 anos, mas decidiu capturar alguns deles para entregar a uma colega que estuda os animais. “O primeiro eu capturei perto das 18 horas quando cheguei em casa. Ele pousou no sofá. Eu peguei um vidro e consegui capturá-lo sem encostar. Mais tarde, consegui outro que pousou na cortina. Com a ajuda de uma tampa de pote de sorvete eu consegui empurrar para o pote”, conta.

No outro dia ela entregou os animais para a técnica de enfermagem da Vigilância Epidemiológica, que mais tarde enviou para a análise em Joinville. “Chega o fim da tarde e eles começam a entrar em casa. Entre 19 e 20 horas eles fazem muito barulho e estão voando muito baixo, pousando nos móveis e isso é um indício de que estão com alguma doença, porque geralmente os morcegos saem só mais tarde e voam alto”, diz.

Rosangela ainda capturou mais dois morcegos que também serão enviados para a análise. “Moro há 13 anos aqui e sempre teve, mas essa é a primeira vez que tento capturar. Não tenho medo, afinal, eu invadi o espaço deles, então tenho que me acostumar”, afirma.
Com o resultado positivo para raiva da análise dos morcegos capturados por Rosângela, a Vigilância Epidemiológica iniciou a ação para explicar aos moradores do loteamento os cuidados que devem ter para evitar a doença.

Em parceria com agentes comunitários de saúde da Unidade Básica de Saúde do bairro, foram visitadas 489 residências, das quais 247 estavam fechadas. Nos locais onde os moradores estavam em casa, a equipe orientou as famílias sobre a situação e sobre como proceder em caso de suspeita de raiva, pois a doença é transmissível e atinge mamíferos como cães, gatos, bois, cavalos e também o homem.

Na região, foram contabilizados 393 cães e 60 gatos, incluindo as residências fechadas. De todas as casas verificadas, foram encontrados morcegos no telhado ou forro de 72. Destas, 20 possuíam algum tipo de animal de estimação.

Agora, por recomendação Vigilância Epidemiológica Estadual, as equipes farão um bloqueio vacinal nos próximos dias, imunizando os animais da localidade contra a doença. “Somos um estado livre da raiva, então, por isso, o estado recomenda a vacinação dos animais que ficam próximos de onde o morcego foi encontrado. Os demais animais, a vacinação é responsabilidade do dono”, diz a coordenadora da Vigilância Epidemiológica, Clotilde Imianowsky.
Segundo ela, é importante que os moradores também fechem as aberturas entre o telhado e o forro das residências. “Eles ficam nesses espaços. Então, a primeira providência é fechar esses locais para que eles não possam mais ficar”.
O contágio

O biólogo Rodrigo de Souza explica que, no mundo, existem pouco mais de mil espécies de morcegos catalogadas. No Brasil, são cerca de 130. Desse total de mil espécies, apenas três são hematófagos – que se alimentam de sangue.

De acordo com ele, os morcegos insetívoros – como o encontrado no loteamento Cyro Gevaerd – podem ter contraído a doença pelo contato com outros morcegos infectados. Existem duas formas de contágio da doença. Uma delas é o morcego ter contato com um animal doméstico não vacinado. “Se um cachorro entra em contato com um morcego, e morde, pode pegar a doença se não estiver vacinado e, então, se esse cachorro morder uma pessoa, está em risco, mas se o cachorro está vacinado, não há problema”, diz.

A outra forma de contágio é a pessoa entrar em contato com o morcego infectado sem proteção. “A transmissão do vírus é presente na saliva e nas secreções do animal. A pessoa mexe no morcego sem luva, ou está com a mão machucada e mexe no animal, pode contrair a doença. Qualquer contágio que tiver entre as suas mucosas com a secreção do animal infectado, a pessoa pode ser infectada. Na nossa região são poucos casos registrados de raiva, justamente por essa questão da vacinação”.

O biólogo ressalta que não há motivo para pânico e que uma perseguição aos morcegos pode gerar problemas futuros. “Os morcegos são responsáveis por fazer polinização de plantas, controle de várias espécies de animais, são responsáveis também por regeneração de áreas que são degradadas, e se alimentam de animais que são vetores de doenças”.

A raiva pode apresentar três ciclos de transmissão: urbano (representado principalmente por cães e gatos); rural (representado principalmente por animais de produção, como bovinos, equinos e suínos); e silvestre (representado por raposas, macacos, e, principalmente, morcegos).

Todos os animais infectados apresentam sintomas como mudança de hábito e de comportamento, salivação abundante, falta de coordenação motora, paralisia das patas traseiras e dificuldade de engolir. Em caso de suspeita, caso o animal apresente comportamento anormal, deve-se informar à Secretaria de Saúde, seja ele agressivo ou não.