Casos de doenças associadas aos anticoncepcionais preocupam mulheres
Um dos métodos contraceptivos mais utilizados no mundo pode trazer sérios riscos à saúde
A pílula anticoncepcional é um dos métodos contraceptivos mais utilizados pelas mulheres. No entanto, nos últimos anos, uma série de relatos sobre os efeitos do medicamento na saúde das usuárias têm surgido em todo o mundo e gerado preocupação nas mulheres.
Hoje, muitos casos de trombose venosa – que é quando o sangue “coagula” dentro das veias – estão associados ao anticoncepcional. Além disso, há relatos também de mulheres que tiveram Acidente Vascular Cerebral (AVC) e problemas cardíacos após o uso contínuo da pílula.
A brusquense Cássia Bocate Vieira, 21 anos, teve início de trombose associada ao anticoncepcional. Ela começou a tomar a pílula aos 14 anos, quando começou a menstruar e foi diagnosticada com a síndrome do ovário policístico. “O médico me receitou o anticoncepcional para ajudar no tratamento do meu ovário policístico e, assim, não precisar fazer a cirurgia”, diz.
Quando teve sua primeira relação sexual, ela voltou ao ginecologista, fez todos os exames e o médico pediu que ela continuasse com o medicamento, o Selene. Tomar a pílula já fazia parte da rotina da brusquense quando, no ano passado, ela começou a ter varizes na perna esquerda. “Eu sentia muita dor, com uma veia muito grande, inflamada. Começa no pé e vai até a virilha. Continuei tomando o remédio normalmente porque nunca imaginei que seria um efeito colateral”.
Após o surgimento da varize, Cássia começou a ter outros sintomas. “Do nada, meu rosto começou a paralisar, meus braços ficavam dormentes e eu não conseguia segurar nada nas mãos que derrubava, eu continuei tomando a pílula e os sintomas foram ficando cada vez mais frequentes”.
A jovem procurou um médico, que disse que o problema de circulação era genético e, portanto, não precisaria se preocupar. Foi apenas em uma conversa com sua nutricionista que ela decidiu interromper o uso do contraceptivo. “Ela me orientou a parar. Procurei então um ginecologista para trocar o anticoncepcional e recebi o diagnóstico de trombose venosa. Ele então recomendou que eu parasse de tomar por 35 dias. Nesse período, todos os sintomas desapareceram, não senti mais nada. Só estou esperando os resultados dos exames para comprovar mesmo”, afirma.
Após o susto, Cássia não quer mais tomar nenhum outro tipo de anticoncepcional. “Pretendo não tomar mais, me fez muito mal e nenhum médico me alertou dos riscos”.
Na página do Município Dia a Dia no Facebook, várias brusquenses também relataram problemas relacionados ao anticoncepcional.
Medicamento sem prescrição médica
O perigo aumenta ainda mais quando a mulher toma o medicamento sem indicação médica. Apesar de não precisar de receita para ser vendido, essa não é a recomendação dos profissionais. “O uso de uma medicação, assim como os anticoncepcionais, deve sempre ser acompanhado por um médico, prestando assistência e recomendações ao produto utilizado. Todo medicamento apresenta efeitos colaterais para a saúde”, diz o ginecologista Mauro Flores.
O médico afirma que os principais riscos das pílulas são cardíacos, como hipertensão, e de circulação, como varizes e tromboses. Os efeitos colaterais mais comuns são enjoos, mal estar e dor de cabeça. “Nos últimos anos, com o aumento da população e, consequentemente, o aumento do consumo, os médicos enxergam isso com muita preocupação. Cada caso deve ser visto individualmente analisando risco-benefício. O médico deve avaliar se existe algum risco ou contra-indicação absoluta para o uso de pílulas, por exemplo, doenças cardíacas, cerebrais, hepáticas, câncer, tabagismo e obesidade”.
O ginecologista destaca que não existe uma pílula para cada mulher, mas combinações de hormônios diferentes. Atualmente, segundo ele, as doses são menores, justamente para diminuírem os riscos e efeitos colaterais. No entanto, o médico ressalta que os anticoncepcionais mais modernos têm uma tendência maior a trombose. “Para cada 10 mil mulheres, há risco de 0,1 a 0,5% desenvolverem a trombose venosa, ou seja, entre 10 a 50 casos a cada 10 mil usuárias”.