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Casos de maus-tratos contra animais são constantes em Brusque e protetores independentes buscam ajuda

Protetores defendem cadastro de lares temporários para animais e auxílio direto do poder público

Situações de maus-tratos contra animais são observadas constantemente por protetores independentes que atuam em Brusque. Defensores da causa animal avaliam que falta organização por parte do poder público nas políticas voltadas à proteção dos animais violentados.

O abandono de animais em Brusque, que por si só já é considerado maus-tratos, é frequente. Protetores fazem de suas casas lares temporários e abrigam vários animais resgatados após maus-tratos. Muitos deles são encontrados com ferimentos causados por sarna e carrapatos.

Para os protetores, uma das causas de abandono é a mudança de residência por parte dos donos. Quando as pessoas mudam de casa, sobretudo quando se trata de aluguel, os animais não são levados e acabam nas ruas.

Há relatos de resgate de animais presos em correntes pelo pescoço e até trancados em gaiolas. Muitas cadelas são abandonadas em meio à gravidez. A falta de alimentação também é um problema presente quando animais são resgatados. O protetor Marcos Antonio Farias, morador do bairro Steffen, relata que, recentemente, resgatou uma cadela que estava com arame preso nas patas.

“Não adianta resgatar um cachorro de maus-tratos e a pessoa ficar impune”, afirma Marcos, “e ainda poder arrumar outro cachorro”, completa a protetora Viviane da Rosa de Souza, moradora da localidade da Volta Grande, no Bateas.

Cadela resgatada com arame preso na pata. Foto: Marcos Antonio Farias

São registrados ainda pelo município casos de envenenamento. O jornal O Município noticiou recentemente o envenenamento de Preta, cadela de Luiz Cognacco, morador da rua Barriga Verde, na localidade da Cerâmica Reis. A via tem histórico de casos de envenenamento.

Ajuda e cadastro

O protetor Vanio Zabel, morador do bairro Limeira Baixa, relata que já atendeu um caso de uma cadela que foi esfaqueada. Ele afirma que protetores independentes contam com um médico veterinário parceiro, mas, mesmo assim, muitos deles somam dívidas em gastos necessários para cuidar dos animais.

“Levar no veterinário, cuidar, passar remédio e dar comida é tudo por nossa conta”, afirma Vanio. “O poder público ajuda muito pouco. Há dívidas ‘até o pescoço’ nas clínicas”, completa Marcos. Para os protetores, deveria haver maior organização por parte da Prefeitura de Brusque no auxílio aos protetores.

Eles defendem que Brusque siga o exemplo de municípios da região em que há políticas públicas voltadas à causa animal. Bombinhas, no Litoral catarinense, possui o Conselho de Saúde e Bem-Estar Animal. Balneário Camboriú segue o mesmo caminho, com conselho municipal e protocolo de atendimento a casos de maus-tratos.

“Quem tinha que arcar com as despesas não somos nós. Nós já estamos fazendo nosso papel, que é resgatar os animais. O apoio maior deveria vir do poder público, o que hoje nós não conseguimos”, comenta Marcos.

É consenso entre os protetores de que seria importante existir um cadastro para lares temporários, em que a Chefia de Bem-Estar Animal, setor da prefeitura voltado à causa, pudesse prestar auxílio direto aos protetores. Para as pessoas engajadas na causa, um canil não é uma opção adequada, pois pode se tornar também um ponto de abandono.

Não há nada formal que define os protetores que cuidam dos animais na própria residência como responsáveis por lares temporários. Em linhas gerais, eles pedem maior controle, para que recursos possam ser destinados aos cuidados dos animais resgatados.

“Tem mais de 200 animais em lares temporários de pessoas que não têm condições”, estima Luiz Cognacco, que é engajado na causa. “As pessoas resgatam os animais por piedade, depois vira uma ‘bola de neve’ e não conseguem doar o animal. Não há nenhuma estrutura e os animais acabam se reproduzindo”.

Preta, cadela de Luiz Cognacco, que foi envenenada na rua Barriga Verde, na Cerâmica Reis. Foto: Luiz Cognacco

Burocracia

Os protetores dizem esbarrar na burocracia quando necessitam de ajuda emergencial. A ideia é que eles possam ter um canal direto com a Chefia de Bem-Estar Animal na hora de resgatar os animais. Recentemente, a pasta passou da Secretaria de Saúde para a Fundação Municipal de Meio Ambiente (Fundema), sob argumento de que a fundação tem recursos para investir na causa.

“Um caso de maus-tratos não é algo para amanhã, é para hoje. Tinha que ter uma ligação direta com o Bem-Estar Animal”, defende Marcos. “É muita burocracia passar para a Ouvidora e encaminhar um relatório para que eles possam fiscalizar”, conclui.

A realocação da pasta fez com que o programa de castração fosse paralisado, o que prejudicou os protetores, que tiveram que investir mais recursos com os animais resgatados, desta vez para castrá-los. Em entrevista ao jornal O Município no começo de junho, o prefeito de Brusque, André Vechi (PL), prometeu a volta das castrações neste mês.

“Estamos em fase de promessas. Nesses quatro meses [de adequação com a realocação do Bem-Estar Animal], todos ficaram com dívida enorme”, afirma Viviane. “As doações que arrecadamos é tudo por parte da população”, finaliza a protetora.

O que diz a prefeitura

Procurada pela reportagem de O Município, a prefeitura afirma que conta com dois servidores na Chefia de Bem-Estar Animal. O Executivo diz que, quanto ao suporte a lares temporários, providencia um convênio com clínicas veterinárias para atendimentos de casos de urgência e emergência.

“Sabemos que esses atendimentos consomem muito do financeiro de quem resgata esses animais, então o município entraria com esse suporte para os animais. Além disso, hoje conseguimos fazer o trabalho de resgatar esses animais, coisa que até pouco tempo atrás não era possível por falta de estrutura”, afirma a chefe de Bem-Estar Animal, Jéssica Ricardo.

Ela diz ainda que basta os protetores solicitarem apoio que o Bem-Estar Animal se organiza para atender ao caso. Jéssica relata que os planos da pasta não envolvem repasse direto de valores a lares temporários, mas sim a instituições que possuem CNPJ, que ficariam responsáveis por administrar os lares temporários.

“O serviço fica centralizado e organizado e as instituições podem se unir aos protetores que oferecem lar temporário para utilizar esse serviço. Todos são beneficiados. A causa animal fica mais unida com todos trabalhando juntos pelo mesmo objetivo”, acrescenta Jéssica.

Resumo da reportagem:

– Casos de maus-tratos contra animais em Brusque são frequentes, segundo protetores independentes;

– Há registros de casos de esfaqueamento, falta de alimentação, doenças e animal preso com arame, além de mortes por envenenamento;

– Protetores pedem maior organização do poder público para auxiliá-los após resgates;

– Cadastro de lares temporários para animais e canal direto para emergências são pedidos de protetores;

– Prefeitura diz que realiza resgates e que está nos planos efetuar repasse de valores a instituições relacionadas à causa animal que possuem CNPJ.


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