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Capacidade mínima de 10 mil pessoas para a final do Catarinense é solução rasa

Prioridade deveria ser exigência por conforto e infraestrutura; tirar final de estádios pequenos por serem pequenos só favorece os grandes

A Federação Catarinense de Futebol (FCF) pretende “reforçar” os cinco grandes clubes do estado (Avaí, Chapecoense, Criciúma, Figueirense e Joinville) por meio de medidas que desfavorecem os clubes menores na disputa pelo título. É lógico, ter quatro dos cinco grandes nas semifinais é muito mais interessante dos pontos de vista financeiro e de público interessado (no estado e fora) do que ter Brusque, Concórdia, Hercílio Luz e Barra, por exemplo.

São intenções do presidente Rubens Angelotti reduzir quantidade de clubes e voltar a ter 10 participantes, além de exigir um estádio com capacidade mínima de 10 mil pessoas para a final. Isto tira qualquer igualdade de condições quando um clube menor chegar à final. As duas questões precisam ser aprovadas pelos clubes.

Questão do Brusque

Passou da hora de o Brusque ter um estádio maior que o Augusto Bauer, mas um estádio novo não aparece num passe de mágica. O quadricolor nunca teve condições de fazer isto sozinho.

O rebaixamento para a Série C e a perda do patrocínio da Havan embaralharam as coisas. A pandemia permitiu postergar a questão do estádio. O clube cresceu demais e precisa de um estádio para 10 mil pessoas. Não para disputar o estadual, nem para aumentar seu público (porque o público é baixo), mas para disputar as divisões do Brasileiro e a Copa do Brasil. E a urgência do estádio como a conhecemos é recente, mal tem quatro anos completos.

No poder público, além de não ter interesse, a prefeitura precisa voltar suas atenções, muito antes, a uma reforma da Arena Brusque. E sabe-se lá quando esta será feita, então sonhar com estádio municipal, hoje, como temos em Chapecó ou Joinville, é delírio.

Não é absurdo pensar que a ideia de exigir esta capacidade mínima surge a partir do momento em que o Brusque leva três de quatro jogos de volta de final para o Augusto Bauer. De qualquer forma, o estádio não estará disponível no primeiro semestre de 2024, por conta de reforma. Um problema a menos para a FCF.

Muito espaço, pouca gente

Mas os planos para o futebol catarinense afetam muitos outros clubes além do Brusque. A questão é muito mais sobre o campeonato. O quadricolor precisa de uma estrutura maior e melhor porque está desde 2016 disputando divisões do Brasileiro ininterruptamente (desde 2020 entre Séries B e C), e desde 2017 chegando à Copa do Brasil. Não é o caso de clubes que têm calendários reduzidos e, às vezes, só disputam o Catarinense.

Quanto à possível exigência da FCF sobre capacidade de estádios em finais, basta olhar as médias de público para saber que os clubes menores não colocam 10 mil torcedores em seus estádios com frequência (e nem os grandes, com exceção atual do Criciúma). A média de público de 10 das 12 equipes foi inferior a 5 mil pessoas por jogo em 2023.

Esta proposta (que precisará passar por aprovação dos clubes) é um salto sem sentido para clubes menores, que dificilmente vão conseguir investir ou receber investimentos para tal, salvo, talvez, raríssimas exceções como o Barra. Não compensa investir para ter espaço para 10 mil pessoas e disputar finais de estadual sabe-se lá quando. De modo geral a exigência não serviria de incentivo.

Então, supondo que a exigência seja aprovada e passe a valer (improvável), passa a estar no horizonte a chance de jogos de finais em grandes, esvaziados e neutros estádios. Já é difícil um clube de fora do G-5 chegar à final. E quando chegar, a ideia é tirá-lo de sua cidade porque não cabem 10 mil torcedores num estádio que raramente recebe mais de 4 mil ou 5 mil.

Muito mais justo do que exigir capacidade de 10 mil pessoas é focar em exigir segurança e infraestrutura decente nos estádios pequenos, como banheiros, bares, melhor conforto para torcedores e imprensa. Esta é a necessidade principal. Comportar bem as poucas pessoas que recebe. É tentar melhorar o Campeonato Catarinense olhando para a realidade do futebol catarinense e de Santa Catarina. Não adianta querer imitar Paulistão, Libertadores ou campeonatos nacionais.