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Quatro espécies de árvores ameaçadas de extinção estão protegidas em 400 hectares de mata nativa

Pesquisa da Furb identificou 1.727 indivíduos de 144 espécies diferentes

Localizada no coração de Brusque e único Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica de Santa Catarina, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Chácara Edith será tema de cinco reportagens especiais do Município Dia a Dia. Cada uma delas tratará de pontos específicos do local. 


Mais de 70 espécies de animais se alimentam do palmito-juçara. Para alguns indivíduos, o fruto fornecido pela árvore é o único alimento capaz de suprir as necessidades nutricionais. A relação vital entre a planta e os animais é um exemplo, entre tantos outros, da importância de preservar não somente a fauna mas também a flora.

Na RPPN Chácara Edith, o palmito-juçara é uma das espécies de árvores que são fundamentais para o funcionamento e para a sobrevivência de toda a área. Localizada no coração de Brusque, a RPPN tem 389,83 hectares de mata nativa e 20,76 de capoeira fina, de acordo com o livro “RPPN Chácara Edith”, escrito por Saulo Adami.

Em 1990, um lado técnico elaborado pelo engenheiro florestal Roberto Albertani Illana verificou que 90% da área estava coberta pela formação florestal denominada de Mata Atlântica.

Em novo parecer, realizado em 2001 pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (PA) da Universidade Regional de Blumenau (Furb), constatou-se que a Chácara Edith inclui parte da floresta em estágio avançado de regeneração.

“Na parte mais próxima da residência, a floresta é mais recente, entre 30 e 50 anos. A partir do primeiro terço da estrada, a vegetação se encontra desenvolvida, com árvores atingindo 25-20 metros de altura, onde a presença de bromélias se torna abundante e diversificada, o que significa um estágio sucessional bem mais avançado, com floresta entre 50 e 70 anos”, relata o autor.

A Chácara Edith, segundo o engenheiro florestal João Paulo de Maçaneiro, é uma das poucas áreas onde é possível encontrar remanescentes de Floresta Pluvial Subtropical Atlântica bem conservados dentro de área urbana em Santa Catarina.

“Devido à expansão urbana na maioria dos municípios de Santa Catarina, a fragmentação florestal ocorre na maioria das vezes em função da substituição de parte da floresta para a implantação de loteamentos urbanos ou áreas industriais. Esse processo refletiu na diminuição da cobertura florestal da área urbana do município de Brusque, sendo que grande parte dos remanescentes florestais bem conservados ficaram restritos às áreas de encosta com relevo íngreme e de difícil acesso”, analisa o engenheiro.

Para Maçaneiro, a Chácara Edith é uma das áreas prioritárias para conservação em Santa Catarina. Como é considerada único Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no estado, afirma o engenheiro florestal, é grande o valor de conservação para a diversidade biológica.

Espécies

No plano de manejo da RPPN, divulgado em 2011, foram levantadas as espécies de árvores existentes na chácara. Os pesquisadores dividiram o espaço em duas áreas. Na área I, eles catalogaram 34 espécies de 20 famílias.

As famílias com maiores riquezas específicas foram a Myrtaceae (8 espécies), a Lauraceae (5 espécies) e a Annonaceae (2 espécies). Árvores como a guamirim, a pindaíba, a corticeira e a canela-garuva representam essas famílias.

Já na área II, foram verificadas 49 espécies, distribuídas em 28 famílias. A família com maior quantidade de árvores analisadas foi a Myrtaceae, com 10 espécies.

Ameaçadas de extinção

De 2012 até a metade 2014, Maçaneiro desenvolveu pesquisas sobre as florestas da RPPN Chácara Edith. Os registros fizeram parte da dissertação de mestrado junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da Universidade Regional de Blumenau (Furb).

Na coleta de dados, foram catalogadas 1.727 indivíduos de 144 espécies diferentes de árvores. Dentre essas espécies, quatro constam na Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção: canela-preta, canela-sassafrás, palmiteiro e cedro.


Extração irregular de palmito ainda é comum

Em Santa Catarina, a extração irregular de palmito ocorre com frequência. Na RPPN Chácara Edith, o furto da palmeira juçara – árvore que fornece o palmito – ainda é comum.

Há cerca de dois meses, a Polícia Militar Ambiental realizava uma atividade em uma das áreas da chácara quando encontrou seis pessoas extraindo palmito. Segundo o proprietário da RPPN, Wilson Moreli, os policiais capturaram três dos seis acusados, que eram de Navegantes, no litoral norte do estado.

Há cerca de dois meses, a Polícia Militar Ambiental encontrou seis homens furtando palmito na RPPN / Foto: RPPN Chácara Edith / Divulgação

“Não tem como combater porque a RPPN é muito extensa. Um dia eu coloquei um empregado meu para ficar de noite cuidando de uma entrada, mas as pessoas entraram por outro lugar e roubaram os palmitos da mesma forma”, lamenta.

Para a bióloga da Prefeitura de Brusque que trabalha na RPPN, Gisele Buch, a extração irregular de palmito é preocupante, em especial, porque é uma espécie ameaçada de extinção.

A figueira localizada próxima à entrada da RPPN é um dos símbolos da chácara / Foto: Felipe M. Fantacini


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