Não existe hiato em política e tampouco espaço vazio. Possivelmente até meados de maio, assistiremos ao “Grand Final” de uma grande trama que levará um novo grupo ao poder em Brasília. Isso vai acontecer como consequência de nossa apatia, de nossa falta de responsabilidade, de nosso descaso, da nossa falta de cidadania. E nós vamos pagar o preço por nossa pouca ou nenhuma vontade de mudar as coisas.
Costumo dizer que os políticos não são “crias de laboratório” ou seres de outra dimensão, gerados e desenvolvidos alheios a tudo e a todos, criados em uma bolha, sem ter acesso a nada, que um belo dia despertam e são içados para cargos políticos. Os políticos são frutos do meio, assim como você e eu. E com o impeachment “batendo à porta” novamente cabe, no mínimo, uma séria reflexão.
Em nossa história recente vivemos, em 1992, experiência semelhante com o então presidente Fernando Collor de Mello. Agora, passados menos de 24 anos do processo que acabou por resultar no primeiro processo de impeachment da América Latina, em poucos dias teremos concluída a análise do pedido de impeachment e a crise instalada permite que se assista a uma mudança de poder de forma bastante clara. Vários são os sinais e o próprio governo já discursa como derrotado, reconhecendo, implicitamente, que o afastamento é inevitável.
Como não existe hiato no poder, não há espaço vazio, sempre que se identifica ausência ou fraqueza de um governante ou líder, esse espaço é logo ocupado por seus pares – ou pela oposição. E quem é que tem se movimentado veementemente para ocupar esse vazio, essa “brecha de poder”? Não gastarei palavras listando os nomes que todos já conhecemos…e, não há, por ora, quem lhes ponha freios. Eu me pergunto: onde está o caráter político, a grandeza? Até pouco tempo atrás, eram aliados…e agora?
Face a atual conjuntura, uma atitude inteligente seria abreviar as dores “do povo e da pátria”. Uma política de redução de danos pela renúncia poderia representar economia de tempo e dinheiro e os esforços talvez se voltassem para aquilo que realmente vale a pena. De toda a forma, seja pela renúncia ou pelo impedimento, logo será passado. Haverá um moderno discurso e o novo núcleo de poder terá os seus 100 dias de glória…Tudo vai passar rápido e se não realizarmos um esforço consciente de mudança, é provável que daqui a mais vinte ou trinta anos a história se repita. E enquanto ficarmos à margem do processo, sequer temos o direito de reclamar. É como o empregado que na roda de amigos fala mal do patrão, reclama do salário, mas não faz nada para se qualificar, não se dispõe a trabalhar mais do que a jornada de 44 hs semanais, não quer correr riscos, não quer empreender. Fazer pode ser difícil, mas reclamar é fácil.
Chega de omissão, de fazer de conta que esse problema não nos pertence. Se quisermos que o Brasil mude – para melhor -, precisamos começar a mudança já. Chega de rejeitar a política e repeli-la como se fosse lepra. A política deve ser ensinada à nossas crianças e jovens, e nós também precisamos ter humildade para admitir que pouco sabemos e estudar, aprender e compreender ciência e estratégia política. Precisamos empreender na política, de forma séria, comprometida e determinada, tal qual se faz num negócio de sucesso. Se nós não começarmos a mudança hoje, a história vai se repetir indefinidamente.
E, para fechar a semana, quero lhe dizer, caro leitor:
– Eu não me orgulho por estarmos vivendo um novo processo de impeachment. Eu me envergonho. Ele é a prova cabal da nossa incompetência como eleitores e cidadãos.