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Cheia de 2011: trabalho da Secretaria de Obras é intensificado e Defesa Civil é reestruturada em Brusque

Além da reconstrução, cidade precisou modernizar estrutura para focar na prevenção

Em setembro de 2011, Brusque enfrentou uma das piores enchentes da história da cidade, a mais destrutiva depois de 1984. As fortes chuvas, que já atingiam o município em agosto daquele ano, voltaram de forma intensa na segunda-feira, 5. Ao longo da semana, a situação piorou.

A Defesa Civil considerava normalizada a situação na quarta-feira, 7, mas a cidade ainda estava apreensiva. Na quinta-feira, 8, a chuva continuou e o rio Itajaí-Mirim subia rapidamente. Brusque já registrava vários deslizamentos, quedas de barreiras e alagamentos. À noite, a água ultrapassou a marca de 2008, quando o rio atingiu 8,75 metros.

Contudo, o pior aconteceu e a enchente chegou ao pico na sexta-feira, 9, com 10,03 metros de nível do rio. Inicialmente, o registro foi divulgado como 12 metros. Porém, mais tarde, o número foi corrigido. Ou seja, apenas alguns centímetros a menos que 1984, quando o rio Itajaí-Mirim atingiu 10,30 metros.

Taiana Eberle/Arquivo O Município

A diferença nos números ocorreu porque a régua de medição do nível do rio na cidade ia apenas até oito metros. Quando a água ultrapassou essa marca, as medições foram realizadas pelas escadas ou pedaços de madeira, o que jogou o número para cima.

Praticamente 100% da população, que na época era de 107 mil habitantes, foi atingida de alguma forma. Mais de 150 pessoas ficaram desabrigadas. Mais uma vez, residências, empresas e comércios foram devastados. Estradas, pontes, árvores, foram levadas pela força das águas.

Além disso, os deslizamentos de terra assustaram ainda mais do que em 2008. A cidade se transformou em um cenário de guerra. Com a destruição, veio o trabalho que durou meses de reconstrução.

Márcio Costódio/Arquivo O Município

Entulhos e a limpeza das ruas

Assim que a água da enchente de 2011 baixou, o rastro da catástrofe deixou suas marcas em Brusque. Nas ruas afetadas pelo rio Itajaí-Mirim era lama por todos os lados e depois da limpeza dos lares, montanhas e mais montanhas de entulho se formaram nas calçadas. Eram camas, guarda-roupas, eletrodomésticos, sofás, colchões, roupas, etc, que em razão do contato com a água lamacenta e repleta de bactérias.

Isso ocasionou uma quantidade imensurável de entulhos. Até 16 de setembro de 2011, foram 700 caminhões de entulho despejados no aterro da Recicle, o que soma 7 mil metros cúbicos.

Recicle/Arquivo O Município

O secretário de Obras na época era Antônio Maluche Neto. Naquela semana, ele afirmou que homens e máquinas da prefeitura trabalharam dia e noite para limpar a cidade. Ao todo, foram 21 veículos da prefeitura e mais 25 alugados.

Ainda foram utilizadas nove retroescavadeiras, sendo seis do município e três alugadas, mais três máquinas carregadeiras da prefeitura e cinco alugadas. Além disso, três minicarregadeiras e quatro patrolas.

Sarita Gianesini/Arquivo O Município

Os caminhões-pipa foram usados para lavar as ruas. Um era da prefeitura e outros quatro foram alugados. Dos caminhões tanques, três foram disponibilizados pelo Corpo de Bombeiros Militar, um pela empresa Rio Vivo e outro pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).

Ao todo, entre motoristas e trabalhadores braçais, 420 pessoas desempenharam o trabalho de limpeza das ruas, que incluiu retirada de entulho e lodo.

Sarita Gianesini/Arquivo O Município

Dias de reconstrução

As águas do Itajaí-Mirim também fizeram estragos na malha viária de Brusque. Segundo levantamento na época pelo então Instituto Brusquense de Planejamento e Mobilidade (Ibplam), três pontos da cidade foram mais afetados: a rua General Osório, no bairro Guarani; a ponte Arthur Schlösser, no Centro e as duas margens da Beira Rio, com destaque para o trecho da avenida Arno Carlos Gracher em frente ao Corpo de Bombeiros, que teve o trânsito interrompido.

Em algumas ruas, o fluxo ficou impedido por intervalos de tempo, para que fosse efetuada a limpeza. Por exemplo, a rua Victor Meirelles, no Santa Rita, foi um dos locais mais afetados pela enchente.

Além da limpeza da cidade, a Secretaria de Obras realizava a operação tapa buracos. Todos os cerca de trezentos operários da pasta trabalharam para deixar a cidade em ordem.

Após as águas baixarem, os estragos nas vias da cidade ficaram visíveis / Foto: Sarita Gianesini/Arquivo O Município

Solidariedade

A atuação de voluntários nas ações de reconstrução e limpeza da cidade contribuíram para a agilidade dos trabalhos. Na manhã da quarta-feira, 14 de setembro de 2011, um grupo de empresários e funcionários de empresas da cidade foram às ruas para recolher entulhos.

A ação foi registrada na edição de quinta, 15, do jornal O Município. A equipe concentrou os esforços no bairro Santa Terezinha e contou com um auxílio de uma retroescavadeira e dois caminhões.

Um grupo de empresários e funcionários da cidade foi às ruas para ajudar no recolhimento dos entulhos/ Foto: Arquivo O Município

Naquele dia, o secretário de Desenvolvimento Econômico da época, Jorge Ramos, conferiu a atuação dos voluntários e elogiou a iniciativa. “Esse tipo de mobilização é muito importante para nossa cidade, principalmente num momento tão delicado como esse. O grupo está de parabéns”, destacou.

Arquivo O Município

Defesa Civil é reestruturada 

Apesar de melhor estruturada do que em 2008, a Defesa Civil de Brusque ainda enfrentou muitas dificuldades em 2011. A sede, por exemplo, era localizada na rua Manoel Tavares, e também foi atingida pelas águas.

Sem sistema de telemetria na cidade e dependendo de outros órgãos, naquela ocasião, a Defesa Civil não conseguiu prever que o rio superaria a marca de 2008. “Eu não previ 12 metros nem no meu pior pesadelo”, relatou o diretor da Defesa Civil na época, Eliseu Müller Júnior, antes da atualização final do pico da enchente.

Arquivo O Município

Após a cheia, o investimento na prevenção se tornou um objetivo, alcançado na última década. O atual coordenador da Defesa Civil de Brusque, Edevilson Cugik, conta que todos os problemas enfrentados em 2011 motivaram a virada na estrutura do município.

“O modo de transmissão dos dados nem sempre era o melhor. A manutenção também não era nossa responsabilidade, então dificultava muito”.

Após 2011, a prefeitura investiu nas estações de telemetria na cidade. Foram implantadas dez estações, com sistema de transmissão de dados via rádio, o que proporciona mais segurança. Na última grande enchente, a rede de celular, que era utilizada para receber os dados do sistema, não funcionou em estações de outros órgãos.

Victor Fernando Pereira/Arquivo O Município

Hoje, o órgão conta com as estações instaladas em Botuverá e também nos bairros Limeira, São Pedro, Bateas, Cedro Alto, Dom Joaquim, Guarani e Primeiro de Maio. A manutenção das estações é realizada pela própria Defesa Civil.

“Alguns lugares já tinham a estação de outros órgãos, mas decidimos colocar uma nossa também para não precisar depender desses equipamentos na obtenção dos dados”, diz Edevilson.

Márcio Costódio/Arquivo O Município

Investimento

Além disso, foi realizado um trabalho em parceria com o governo federal sobre áreas de risco de deslizamentos e alagamentos no município.

“Antes de 2008, os deslizamentos eram menos frequentes. Em 2011, esse problema se agravou, tanto que tivemos mais de mil mortes no estado do Rio de Janeiro, em decorrência dos desmoronamentos. Isso fez com que o governo federal abrisse caminho para o que chamamos de geologia de desastres, com mapeamento das áreas de risco”, conta.

Brusque foi um dos 850 municípios do país contemplados na primeira fase deste estudo. A partir disso, foram mapeadas 46 áreas de risco em Brusque. Em 2019, o levantamento foi atualizado para 199 áreas de risco de deslizamento, enxurrada, erosão fluvial e mancha de enchentes na cidade.

Victor Fernando Pereira/Arquivo O Município

Estudos para a prevenção

Também baseado em 2011, os pesquisadores foram a campo, visualizaram as marcas da enchente e entrevistaram moradores para estabelecer e simular a mancha de enchente de sete a 15 metros, o que é chamado de carta enchente.

Este trabalho foi realizado em parceria com o Centro de Operação do Sistema de Alerta da Bacia Hidrográfica do rio Itajaí-Açu, órgão ligado à Universidade Regional de Blumenau (Furb) e está disponível no site da Defesa Civil.

Desde 2014, a cidade conta também com a cota de enchente. Pelo site da Defesa Civil, os moradores podem consultar a cota de enchente das ruas, ou seja, em quantos metros o rio pode chegar até atingir determinado local. Foram levantados mais de 1,9 mil pontos da cidade onde foram estabelecidas as cotas de cheia.

Estrutura atual

A estrutura física e de pessoal da Defesa Civil da cidade também cresceu. Em 2011, cinco pessoas atuavam no órgão. Hoje são 14 e mais cinco servidores cedidos para o Corpo de Bombeiros.

Em 2009, logo após a enchente de 2008, o órgão municipal tinha apenas dois veículos. Após 12 anos, são cinco carros disponíveis, sendo duas caminhonetes. Fora isso, em 2017 foi inaugurada a sede própria da Defesa Civil de Brusque, na rua Dr. Penido.

Prefeitura de Brusque/Divulgação

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